Barroso: "Transformações estão atingindo pessoas que sempre se julgaram imunes" (Fellipe Sampaio/SCO/STF/Divulgação)
Reuters
Publicado em 10 de abril de 2018 às 15h38.
Rio de Janeiro - O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta terça-feira que há no Brasil movimentos de reação ao combate à corrupção por dois grupos: os que não querem ser punidos e os que querem se manter desonestos.
"Hoje, no Brasil, nessa reação às transformações (no combate à corrupção), há dois lotes. O lote dos que não querem ser punidos pelos malfeitos que fizeram, o que consigo entender, é da natureza humana", disse ele em palestra feita num seminário no Rio de Janeiro.
"Tem um lote pior, o dos que não querem ser honestos nem daqui pra frente e gostariam que tudo permanecesse como está. É gente que não sabe viver sem que seja com o dinheiro dos outros, sem que seja com dinheiro desviado", disparou.
Para o ministro, a corrupção no Brasil ao longo dos últimos anos não foi fruto de falhas individuais, mas resultado de processos sistêmicos e endêmicos, uma vez que no Brasil há "quase um fenômeno profissional de arrecadação de dinheiro".
O STF pode se reunir na quarta-feira para discutir ações que questionam a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, apontada como importante pelos investigadores da operação Lava Jato.
Se ocorrer na quarta, a análise será feita dias depois da prisão, no sábado, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após condenação em segunda instância no processo sobre o tríplex no Guarujá.
Barroso destacou que as transformações no combate à corrupção no Brasil estão atingindo pessoas que até então se sentiam imunes à Justiça.
"A reação é muito evidente. As transformações estão atingindo pessoas que sempre se julgaram imunes e impunes, e, por essa razão, achavam que o direito penal nunca ia chegar a elas... que cometeram uma quantidade inimaginável de delitos", avaliou o ministro.
Segundo ele, o que se viu no Brasil nos últimos anos foi um modo estarrecedor de fazer política. No entanto, o ministro disse acreditar que a sociedade brasileira está menos passiva e "parou de varrer a poeira para debaixo do tapete".