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Barra Torres: falas de Bolsonaro vão “contra tudo o que temos preconizado”

Em depoimento à CPI da Covid, presidente da Anvisa discordou de declarações do presidente sobre vacinação 

Diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres. (Jefferson Rudy/Agência Senado/Flickr)

Diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres. (Jefferson Rudy/Agência Senado/Flickr)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 11 de maio de 2021 às 14h45.

O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, discorda das declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a vacinação contra a covid-19. Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Barra Torres afirmou que falas contrárias à vacina vão “contra tudo” o que a agência preconiza. 

A declaração veio em resposta a uma pergunta do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que citou várias falas de Bolsonaro ao longo da pandemia, como quando ele disse que não compraria imunizante produzido pela China, chamou a Coronavac de “vacina chinesa do João Doria” e comemorou quando os estudos da fase três da vacina foram suspensos. 

Calheiros também mencionou outras situações que geraram polêmica. Por exemplo, quando o presidente disse que a vacina não seria obrigatória e quando sugeriu que as pessoas vacinadas assinassem termo de compromisso liberando o governo de responsabilidades. 

Perguntado sobre qual seria o impacto dos posicionamentos do presidente na vacinação no Brasil, Barra Torres deixou claro que discorda das falas citadas pelo relator. “Todo o texto que vossa excelência leu e trouxe à memória agora vai contra tudo o que nós temos preconizado em todas as manifestações públicas”, disse.

O presidente da Anvisa disse ainda que “a população não deve se orientar por condutas dessa maneira”, mas sim por "aquilo que está sendo preconizado, principalmente pelos órgãos que têm linha de frente no enfrentamento da doença”. Para Barra Torres, “discordar de vacina e falar contra vacina não guarda uma razoabilidade histórica”.

"Entendemos, ao contrário do que o senhor acabou de ler, que a política da vacinação é essencial. Temos que vacinar as pessoas. Entendemos também que não é o fato de vacinar que vai abrir mão de máscara, de isolamento social e de álcool gel imediatamente – não vai acontecer”, afirmou Barra Torres.

Distanciamento social e máscara

Renan Calheiros perguntou se o presidente da Anvisa é contrário às medidas de distanciamento social e ao uso de máscaras, ao lembrar que Barra Torres participou de manifestação pró-Bolsonaro em 15 de março de 2020, sem máscara e diante de aglomeração de pessoas, apesar das recomendações no sentido contrário. O presidente da Anvisa afirmou que, se tivesse refletido mais, não teria ido ao ato.

“É óbvio que, em termos da imagem que isso passa, eu hoje tenho plena ciência de que, se pensasse por mais cinco minutos, eu não teria feito”, afirmou Barra Torres sobre ter participado da manifestação. Ele disse que esteve apenas em um ato bolsonarista, porque já estava no Palácio do Planalto para conversar com o presidente e os manifestantes estavam lá. 

“Foi um momento em que não refleti sobre a questão da imagem negativa que isso passaria. E, certamente, depois disso, nunca mais houve esse tipo de comportamento meu”, completou Barra Torres. A respeito do uso de máscaras e distanciamento social, ele disse que sempre se manifesta "no sentido do que a ciência determina".

O presidente da Anvisa ressaltou que, à época da manifestação, a recomendação do Ministério da Saúde era de uso de máscara por profissionais da saúde, cuidadores de idosos, mães amamentando e pessoas diagnosticadas com covid-19. “Não havia, no mês de março, o consenso geral do uso de máscaras por parte da população”, disse.

"Destarte a amizade que tenho pelo presidente, a conduta do presidente difere da minha nesse sentido”, respondeu, a respeito do uso de máscara e do distanciamento social. Ele lembrou que estava de máscara na última live que participou com o presidente. “São formas diferentes, de pessoas diferentes”, comentou.

 

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