Congresso Nacional: minoria evangélica representará 16% dos 513 deputados brasileiros (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2014 às 16h58.
Rio de Janeiro - A bancada evangélica no Congresso Nacional, que cresceu em 14% após as últimas eleições, terá mais força em sua luta contra as propostas que julga polêmica, especialmente no tocante a homossexuais e drogas, disseram nessa quinta-feira representantes desse grupo ouvidos pela Agência Efe.
"A minoria evangélica levantará um muro enorme contra esses projetos e estaremos muito atentos às manobras dos ativistas homossexuais", disse o pastor, apresentador e empresário Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Independentemente de quem for eleito no domingo que vem como presidente do Brasil, os evangélicos no Congresso sabem que já podem cantar vitória por conta do crescimento da atual representação, que passou de 70 deputados para 80, com o grupo que assumirá em 2015.
Trata-se de uma minoria que representa 16% dos 513 deputados brasileiros e que a Frente Parlamentar Evangélica define como "a maior bancada da história da igreja evangélica no Brasil". Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), com o reforço dos recém-eleitos dessa confissão, o Brasil terá "o Congresso Nacional mais conservador desde 1964".
"Essa força vai dificultar uma agenda parlamentar liberal em relação à criminalização da homofobia e a descriminalização do aborto, dois assuntos muito presentes nos debates do primeiro turno das eleições, mas que praticamente desapareceram no segundo turno", disse à Agência Efe o cientista político e especialista em assuntos de religião Cesar Romero Jacob, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Ele acredita que não haverá necessariamente uma virada à direita com relação a temas econômicos e de inclusão social, mas com relação aos temas de natureza moral haverá uma tendência mais conservadora.
Observadores políticos apontam que a dificuldade na votação de leis mais liberais não se limitará às relativas à moral, mas também às que abordam assuntos como a legalização das drogas, o meio ambiente e o direito dos indígenas.
E isso nem tanto pelo aumento da chamada "bancada evangélica", mas pelo crescimento do número de deputados de outras minorias conservadoras: a rural e a policial.
Malafaia deixa claro que os evangélicos rejeitarão totalmente iniciativas legislativas como a de identidade de gênero, que, segundo ele, é "ativismo homossexual".
"Não vamos nos opor a ensinar às crianças a respeitar os diferentes, mas sim a ensinar "homossexualidade" nas escolas, que é o que querem", enfatizou.
Na última terça-feira, em seu templo na Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, Malafaia garantiu com veemência para milhares de fiéis que o ouviam que "os homossexuais pretendem destruir a família, enquanto o governo do PT, desde a época de (Luiz Inácio) Lula da Silva, os financia com milhões de reais".
Diante de seus "seguidores", ele não só critica abertamente a política do governo, como fala sem reservas em quem vai votar nas eleições. Questionado a respeito pela Efe, ele justifica que "o povo é livre para votar em quem quiser, mas eu, como pastor, como pessoa que exerce influência em segmentos sociais, por que não vou exercer essa influência?".
O pastor não acredita que os evangélicos darão uma guinada à direita porque, em sua opinião, "as questões de direita e de esquerda, que no Brasil foram muito fortes, agora estão muito enfraquecidas".
"Há uma esquerda radical, e o resto não consigo decifrar. O que vejo é que essa esquerda abraçou a escória da direita", disse.
O líder religioso atribui o aumento da representação evangélica no Congresso a uma mera consequência do aumento da população evangélica no Brasil, que, segundo o Censo de 2010, é de 22,2% da população, e a maior consciência popular.
Frente a outros coletivos, como o dos católicos, que costumam votar em diferentes partidos conforme a ideologia política individual, o eleitor evangélico vota quase que exclusivamente em candidatos da sua própria igreja, que se dividem em 17 partidos, explicou.
É o que Jacob denomina de "voto cativo obtido pela forte ascendência dos pastores evangélicos sobre seus fiéis quando, na década de 2000 a 2010, a igreja pentecostal brasileira elaborou seu próprio projeto de poder".