Fernando Baiano: em delação, ele disse ter presenciado, no cárcere, conversas de petistas sobre transferências de valores para as campanhas de Dilma (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2015 às 08h08.
São Paulo - O lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, preso sob a acusação de ser operador de propinas do esquema de corrupção na Petrobras, afirmou à força-tarefa da Operação Lava Jato ter ouvido do doleiro Alberto Youssef e do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto que Charles Capella de Abreu, investigado pela Polícia Federal, atuava como arrecadador financeiro das campanhas eleitorais da presidente Dilma Rousseff.
Em delação, Baiano disse ter presenciado, no cárcere, conversas de petistas sobre transferências de valores para a campanha. Preso desde novembro de 2014 pela Lava Jato, em Curitiba, Fernando Baiano ficou até março na Custódia da Polícia Federal e depois no Complexo Médio-Penal, em Pinhais - região metropolitana de Curitiba.
Segundo Fernando Baiano, dentro da carceragem da Superintendência da Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef confirmou ter dado dinheiro para a campanha.
"Alberto Youssef disse que fez uma entrega de R$ 2 milhões, em valores em espécie, a pedido de Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras), em um hotel em São Paulo, a uma pessoa desconhecida em apartamento indicado por Paulo Roberto", afirmou Fernando Baiano, em seu termo de delação número 13, no dia 15 de setembro.
"De acordo com Alberto Youssef, essa entrega possivelmente se refere a essa doação de campanha", disse o delator. O doleiro teria comentado com ele que "a pessoa para qual entregou os valores vestia um terno e que aparentava ser um segurança ou um assessor".
Conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo nesta terça-feira, 10, a força-tarefa da Lava Jato investiga se Charles Capella de Abreu, ex-assessor da Casa Civil do governo federal, foi o receptor desse dinheiro no hotel.
Abreu atuou como assessor do ex-ministro Antonio Palocci na campanha de 2010. Baiano também deu detalhes do encontro que manteve com Palocci e Costa em Brasília, também em 2010. "Ao final da conversa (com Paulo Roberto Costa), Antonio Palocci disse que havia uma pessoa que trabalhava com ele, possivelmente um assessor dele, que o estava ajudando nessa parte de arrecadação", afirmou Fernando Baiano.
Segundo o delator, "o nome dessa pessoa era Charles". "De acordo com Antonio Palocci, essa pessoa faria posteriormente contato para falar sobre esse assunto das doações."
Outro diálogo relatado por Baiano teria ocorrido no Complexo Médico-Penal em Pinhais. "O declarante (Fernando Baiano) ouviu uma conversa entre Vaccari (João, ex-tesoureiro do PT) e André Vargas (ex-deputado petista) em que ambos tratavam de uma recente reportagem relativa a uma gráfica que teria emitido notas frias para a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2014", registrou a Lava Jato.
"Eles (Vaccari e Vargas) citaram os nomes de Edinho Silva e de Charles como pessoas responsáveis pela coordenação da área de impressão de material de campanha", disse o delator. Edinho Silva, ministro da Comunicação Social, foi o tesoureiro da campanha no ano passado. Fernando Baiano deu detalhes do que teria presenciado no cárcere, onde permanece detido. Ele diz ter perguntado a Vaccari se "esse Charles trabalhava com Palocci".
"Vaccari disse que Charles era assessor de Palocci e que ele (Charles) havia trabalhado com Edinho Silva na campanha presidencial de Dilma Rousseff de 2014."
Uma ação da oposição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) questiona a utilização da gráfica VTPB Serviços Gráficos e Mídia Exterior Ltda. pela campanha de Dilma.
Abreu e a defesa de Vaccari não foram localizados. O criminalista José Roberto Batochio, que defende Palocci, disse se tratar de "invencionices". Edinho Silva afirmou que "as doações da campanha correram dentro da legalidade".