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Baía de Guanabara recebe evento pré-2016 com críticas à água

Primeiro dos 45 eventos preparatórios para as Olimpíadas de 2016 será realizado na raia da Marina da Glória, de 2 a 9 de agosto

Baía de Guanabara sediará o primeiro evento-teste para as Olimpíadas de 2016 (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Baía de Guanabara sediará o primeiro evento-teste para as Olimpíadas de 2016 (Tomaz Silva/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 31 de julho de 2014 às 12h47.

Rio de Janeiro - A Baía de Guanabara estará no centro das atenções do mundo do esporte nos próximos dias quando 324 atletas e 250 embarcações de mais de 30 países disputarão provas de dez modalidades olímpicas de vela.

O primeiro dos 45 eventos preparatórios para as Olimpíadas de 2016 será realizado na raia da Marina da Glória, de 2 a 9 de agosto. A Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) vistoriou, em abril, o local que vai receber as provas, próximo à Praia do Flamengo, e atestou “as condições adequadas para a realização de evento-teste”.

A avaliação, entretanto, não é unânime. Usuários e frequentadores da Baía de Guanabara se dividem quando o assunto é a qualidade da água do local. O gerente de Operações da Marina da Glória, Ricardo Ermel, relata que a incidência de manchas de óleo na água diminuiu, mas que a quantidade de lixo flutuante aumentou nas últimas décadas. Ele diz que costuma entrar na água sem medo e que tem visto animais marinhos pela baía.

“A renovação da água na Baía de Guanabara é muito grande. Não tenho nenhuma preocupação com algum tipo de doença de pele. É claro que quando chove muito eu evito porque aí vem todo o lixo e a água dos rios. Mas, no ano passado, eu vi golfinho na baía novamente, você vê peixe, tartaruga. Mas tem o esgoto também, que a gente está lutando [para combater]”.

O comandante da Escola Naval, contra-almirante Marcelo Francisco Campos, diz que o lixo encontrado nas águas danifica as embarcações com frequência. “O lixo é uma constante. Um simples plástico pode entrar em um sistema de refrigeração de um motor e causar avarias graves. Um sofá, como nós já vimos, uma cadeira de plástico que bata em uma hélice causa um dano enorme, assim como a garrafa PET.”

O professor de educação física Carlos Santos, que aluga pranchas de stand-up-padle na Praia do Flamengo, diz que nunca registrou, entre seus alunos, casos de doenças transmitidas pela água poluída, como hepatite e doenças de pele. Segundo ele, a água da Praia do Flamengo tem qualidade, o que pode variar de acordo com a mudança dos ventos.

O vice-presidente de Remo do Clube Guanabara, Marco Lemos, explica que, pelo menos na Praia de Botafogo, onde fica a sede do clube, não dá para confiar na qualidade de água, mesmo quando o mar fica transparente.

“A qualidade varia conforme a época do ano, a mudança de maré e a temperatura da água. Tem vez que a água está limpinha, transparente, você fica impressionado, nem parece água da Baía de Guanabara. Você vê o fundo, vê até restos de barcos antigos e lixo lá no fundo. Mas dizer que está mais despoluída, não está. O pessoal tem visto menos lixo, mas a poluição, a água suja, óleo, continuam. A Enseada de Botafogo é um cantão da baía, é um dos pontos que acumula sujeira.”

Lemos diz que já precisou suspender aulas por causa da qualidade da água. “No clube nós praticamos remo, canoagem, tem vela, windsurf e canoa havaiana também. Nós iniciamos uma aula de stand-up-padlle, o instrutor utilizava a rampa do remo para dar aula, mas o temor de muitos alunos era virar ali, teve um dia que a aula foi cancelada, porque a água estava tão suja que dava até nojo de entrar.”

De acordo com a presidenta da Comissão de Coordenação para os Jogos Rio 2016 do Comitê Olímpico Internacional (COI), Nawal El Moutawake, a organização dos jogos recebeu, em março, garantias sobre a segurança do uso das águas.

“Posso garantir que nós fomos informados de que as águas da Baía de Guanabara estarão limpas quanto ao lixo e seguras para os jogos. A limpeza e segurança foram garantidos. No evento de agosto, a competição vai testar as condições para o evento [Olimpíadas]. Nós esperamos que as promessas feitas sejam cumpridas”, destacou.

O médico infectologista Edimilson Migowski, diretor-geral do Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que o principal problema de saúde causado pelo contato com águas poluídas são as doenças infecciosas provocadas por vírus.

“Você tem o vírus da hepatite A, norovírus, rotavírus, que podem causar diarreia, vômito, quadro infeccioso. Também tem outros vírus intestinais que podem até mesmo causar meningite viral, que são vírus eliminados por fezes, porque o principal problema da poluição é o esgoto. Tem outros tipos de parasitose, de bactéria, como a salmonela, que podem ocorrer por conta de água contaminada por esgoto.”

Migowski lembra que a análise feita pelos órgãos ambientais que classificam a água como própria ou imprópria para banho não determina a concentração de vírus, apenas de coliformes fecais. Para ele, apesar de o risco de contrair doença ser pequeno, é recomendável que os atletas e usuários da Baía de Guanabara se vacinem contra a hepatite A.

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