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Avião que caiu na Colômbia fez 4 viagens no limite do combustível

Outras quatro viagens foram feitas no limite máximo da autonomia do avião, mas nenhuma tão longa como a do voo da Chapecoense

Acidente: fabricante recomenda percurso máximo de 2.965 km para o modelo, mas o trecho voado ultrapassava esta marca (Reuters)

Acidente: fabricante recomenda percurso máximo de 2.965 km para o modelo, mas o trecho voado ultrapassava esta marca (Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 07h48.

Última atualização em 2 de dezembro de 2016 às 11h31.

São Paulo - Desde agosto, o avião Avro RJ85, da LaMia, fez outras quatro viagens em que quase chegou ao limite máximo de sua autonomia sem reabastecimento.

Um desses voos durou apenas quatro minutos a menos do que o percurso encerrado em tragédia na madrugada de terça-feira (horário de Brasília), quando a aeronave caiu perto do aeroporto de Medellín, depois de o piloto emitir um alerta de falta de combustível à torre.

Os trechos em que o avião voou próximo de seu limite de combustível foram entre a Colômbia e a Bolívia, no sentido Medellín-Santa Cruz de La Sierra, em três ocasiões, e Cochabamba-Medellín.

Desde o início do ano, há apenas um registro de percurso sem reabastecimento no sentido Santa Cruz-Medellín - justamente o do voo que terminou em tragédia, com a morte de 71 pessoas, entre jornalistas, tripulantes e atletas e dirigentes da Chapecoense, time que disputaria a final da Copa Sul-Americana com o colombiano Atlético Nacional.

Segundo registros coletados pelo Estadão Dados, o piloto boliviano Miguel Quiroga, que morreu no acidente, não foi o único a colocar os passageiros em risco ao navegar perto da capacidade máxima do avião.

Segundo documentação registrada na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), no dia 4 de novembro, o mesmo aparelho sobrevoou o Brasil quando vinha de Medellín com destino a Santa Cruz de La Sierra.

O piloto, na ocasião, era o também boliviano Marco Antonio Rocha Venegas. Não houve reabastecimento. No total, o percurso durou 4 horas e 33 minutos.

O avião que levava a equipe da Chapecoense emitiu seu último sinal após voar por 4 horas e 37 minutos.

O plano de voo feito na véspera do acidente mostra que o piloto subestimou o tempo do percurso entre Santa Cruz de La Sierra e Medellín. O registrou indicou uma viagem de 4 horas e 22 minutos - performance nunca atingida pela LaMia.

Risco

Em outros dois voos entre as duas cidades, o tempo da viagem foi próximo ao da que terminou em acidente. Em 22 de agosto e 29 de outubro, o avião fez o percurso em 4 horas e 28 minutos e 4 horas e 32 minutos, respectivamente. Em 28 de outubro, o trecho entre a cidade boliviana de Cochabamba e Medellín foi feito em 4 horas e 27 minutos.

O Estadão Dados analisou todos os voos do Avro RJ85 desde 31 de janeiro deste ano, data a partir da qual há registros no site Flightradar24.com.

Nesses 303 dias, o avião deixou o solo em 201 ocasiões. Em 83% dos casos em que o tempo do percurso foi registrado pelo Flightradar24.com (151 vezes), as viagens duraram menos de duas horas e meia.

Além dos trechos entre Bolívia e Colômbia, outra exceção ocorreu na primeira quinzena de novembro, quando a LaMia percorreu os 2.217 quilômetros entre Buenos Aires e Belo Horizonte, nos dois sentidos, ao transportar a seleção da Argentina para jogar contra o Brasil, no dia 10. Messi estava a bordo. O voo de volta durou 4 horas e 4 minutos, e o de ida, 3 horas e 29 minutos.

Capacidade

O percurso máximo que o Avro RJ85 pode atingir, em quilômetros, depende do peso dos passageiros e de sua bagagem, além de condições meteorológicas. O fabricante, a empresa britânica BAE Systems, indica que o avião pode voar, no máximo, 2.965 km.

A distância entre os aeroportos de Santa Cruz de La Sierra e Medellín é de aproximadamente 2.975 km, ou seja, pouco superior ao máximo recomendado pelo fabricante da aeronave.

O que não está claro, e isso as investigações oficiais vão revelar, é se o modelo acidentado era "básico" ou tinha tanques extras de combustível, os chamados panniers. A eventual instalação desses tanques poderia estender a autonomia da aeronave em até 10%.

O piloto Marco Antonio Rocha Venegas, de acordo com reportagem da BBC, também é sócio da LaMia, assim como seu colega que morreu. Ele não fala com a imprensa de seu país desde o dia do acidente.

Uma irmã de Venegas publicou nota no Facebook na última terça-feira para informar aos amigos que não era seu irmão que pilotava a aeronave que caiu em Medellín.

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