Pelotas no Rio Grande do Sul: covid-19 se espalha pelo interior. (Rodrigo Chagas/Divulgação)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 2 de março de 2021 às 07h00.
Última atualização em 2 de março de 2021 às 09h58.
A confirmação do primeiro caso de covid-19 no Brasil completou um ano na semana passada, e vivemos o pior momento da pandemia. Segundo dados do Ministério da Saúde, na última semana foram 8.244 mortes causadas pela doença, o pior registro. A média diária de vítimas está acima de mil há 40 dias. Em relação ao número de casos, a última semana teve o segundo pior registro, com 378.084.
Estes valores máximos coincidem com 14 dias após o Carnaval, período em que foram registradas muitas aglomerações. Quase 20 capitais estão com atendimento de saúde à beira do colapso. Mas diferentemente de quando houve o primeiro pico de covid-19 no Brasil, no meio do ano passado, as transmissões não estão só nos grandes centros, mas também no interior e em regiões que não sentiram tanto a primeira onda.
Os três estados do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, vivem uma situação dramática na taxa de ocupação de leitos de UTI, que chega perto de 100%. Em São Paulo, o interior do estado puxou a mais alta marca de pessoas internadas em leitos de UTI: 7.173. O valor é 14% maior que o pico, registrado em junho do ano passado. Grande parte dessas internações é de jovens, com quadros mais complicados e que ficam internados por mais tempo.
Para sair desta fase e frear o avanço da covid-19, que pode levar a um colapso generalizado em todo o país, autoridades de saúde e cientistas ouvidos por EXAME recomendam um lockdown nacional de, pelo menos, 15 dias. O tempo é o máximo que uma pessoa doente costuma transmitir o vírus. Neste período, as atividades deveriam ser restritas a ir ao mercado, farmácia ou a consultas médicas urgentes.
“As experiências que nós tivemos de lockdown foram todas frágeis e não tivemos um lockdown como aconteceu na Ásia, na China, Coreia e Singapura. Nós precisamos de um lockdown. Não tem como parar de crescer a pandemia sem parar a transmissão. Precisa buscar essa parada por 15 dias de lockdown, no mínimo, que é o tempo necessário para acabar com esse fluxo”, diz Gonzalo Vecina, um dos mais respeitados médicos sanitaristas do país e fundador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A mesma opinião é compartilhada pelo professor titular do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Maranhão, e membro do Observatório Covid-18-BR, Antônio Augusto Moura da Silva. De acordo com ele, a situação de alguns locais, como no estado onde vive, é mais sensível.
“100% dos leitos estão ocupados na cidade de Imperatriz sendo que, nos últimos dias, 28 pacientes foram de lá transferidos para tratamento na capital. Diante desse cenário, tecnicamente o lockdown seria uma medida eficaz para redução da transmissão. Além disso, temos em circulação da variante de Manaus que pode ser até 120% mais transmissível e possui carga viral estimada cerca de dez vezes superior do que a variante original”, afirma.
Natalia Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, explica ainda que a medida de lockdown funciona porque impede a circulação do vírus. "O ideal seria se a gente pudesse trancar todo mundo em um cômodo por duas a três semanas", diz.
Pastenak ainda pontua que seria necessária uma coordenação nacional para implementar medidas de maneira uniforme. "Infelizmente a gente nunca teve esse lockdown e ainda temos um governo que diz que o uso de máscara faz mal para crianças. Além de ser omisso, o governo federal atrapalha e os governadores ficam à deriva. Isso dificulta muito", afirma.
Na última semana, a Sociedade Paulista de Infectologia publicou uma manifestação alertando justamente para a circulação da variante não só de Manaus, mas de outras existentes do coronavírus, que trazem um potencial de uma propagação mais rápida da doença.
“As atuais medidas de controle da pandemia em vigor no Plano São Paulo [quarentena do estado] mostram-se insuficientes para reduzir a transmissão do vírus. Assim sendo, solicitamos políticas públicas que incluam maior rigidez no distanciamento social e controle de mobilidade populacional. Essas medidas requerem restrições maiores a serviços não essenciais em regiões do estado sem acometimento crítico pela pandemia, e lockdown com toque de recolher prolongado”, pede a entidade.
Nesta segunda-feira, 1° de março, os Secretários de Saúde dos estados emitiram um alerta para a situação em que o país se encontra, classificando de “o pior momento da crise sanitária provocada pela covid-19”.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde exigiu a implementação de algumas medidas de forma imediata pelo governo federal, como a proibição de eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas, suspensão das aulas, fechamentos de praias e bares, além de um toque de recolher nacional das 20h às 6h e durante os finais de semana.
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