Passageiros no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro: para voos com mais de quatro horas de atraso, as companhias aéreas enfrentarão multas de até R$ 10.000 por passageiro (Antonio Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2014 às 13h24.
Brasília e São Paulo - Aeroportos em áreas remotas da Amazônia, novos sistemas operacionais para computadores e pistas muito curtas estão entre os desafios para companhias aéreas como a Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA para transportar 3,6 milhões de pessoas em todo o Brasil durante a Copa do Mundo.
Não entregar passageiros em seus destinos em tempo hábil pode ter um preço alto: até R$ 3,2 milhões (US$ 1,3 milhão) em multas por voo.
Marcelo Pacheco dos Guaranys, presidente da Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, disse que as companhias aéreas terão dificuldades para acomodar passageiros mesmo se o clima ruim ou o controle de tráfego aéreo forem os culpados por atrasos e cancelamentos, e a reguladora não planeja flexibilizar as regras durante a Copa do Mundo.
Para voos com mais de quatro horas de atraso, as companhias aéreas enfrentarão multas de até R$ 10.000 por passageiro se não reembolsarem as passagens, mudarem os clientes para outro voo ou os colocarem em um hotel.
Embora os maiores aeroportos do Brasil, no Rio de Janeiro e em São Paulo, já estejam operando acima de sua capacidade, outras cidades têm novas instalações em progresso que continuarão, em sua maioria, sem serem testadas antes de os jogos começarem.
Cidades como Natal têm uma única pista e um número limitado de slots para voos, enquanto algumas cidades menores podem não ter hotéis suficientes para acomodar passageiros retidos.
‘Incógnitas’
“As companhias aéreas estão preparadas para a Copa do Mundo, mas há fatores que fogem ao seu controle”, disse Carlos Ebner, diretor da Associação Internacional de Transporte Aéreo no Brasil, acrescentando que 70 por cento dos atrasos no Brasil se devem ao clima e às condições do aeroporto.
O grupo diz que o Brasil deve ter suas regras em relação a multas por atrasos e cancelamentos em linha com as regulações internacionais. “Coisas como clima ruim e tráfego aéreo são as incógnitas”.
A TAM SA, uma unidade da Latam Airlines Group SA, do Chile, disse em um e-mail que contrataria 1.000 trabalhadores temporários para gerenciar um maior volume de passageiros durante a Copa do Mundo.
Com a competição se aproximando, a companhia aérea TAM também cobrará até R$ 2.600 por cada trecho de viagem durante o torneio, em meio a uma preocupação de que a desorganização dos aeroportos prejudique as operações e reduza as margens, disse à Bloomberg News uma fonte familiarizada com o plano que pediu para não ser identificada porque a estratégia não é pública.
David Neeleman, CEO da Azul Linhas Aéreas Brasileiras SA, disse que não é justo esperar que as companhias aéreas cubram as despesas dos passageiros em eventos que fogem de seu controle. Ele disse que é difícil operar em aeroportos brasileiros com infraestrutura insuficiente.
‘Barreiras’ às companhias
“Nós estamos fazendo tudo o que podemos. Nós temos aviões disponíveis, temos equipe pronta para qualquer evento”, disse Neeleman, em entrevista, em São Paulo. “Você tem clima, você tem chuva, você tem muitas coisas que se tornam barreiras para o que nós fazemos”.
Gustavo Rocha, CEO da Invepar, que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, disse que seu novo terminal estará pronto até maio, respeitando o prazo estabelecido pelo governo.
“É um desafio enorme fazer um investimento desse tamanho no tempo previsto”, disse Rocha, em entrevista em São Paulo, em 16 de janeiro. “Até aqui ainda estamos na rota e o céu está azul”.
Novos voos
A Anac anunciou na semana passada quase 2.000 novos voos e mudanças em mais de 80.000 voos programados para atender a demanda da Copa do Mundo. Guaranys disse que embora a grade de voos da Copa do Mundo tenha sido aprovada, ela continua flexível para preencher demandas imprevistas à medida que a competição se aproxima.
Guaranys disse a repórteres na semana passada que a Anac estava sendo “muito conservadora” em sua avaliação da capacidade aeroportuária e que não aprovou nenhum novo voo que os aeroportos não possam administrar. Mais de 7 por cento dos voos foram cancelados em 2012, segundo dados da Anac.
“As empresas sempre podem cobrar mais, ir à Justiça ou fazer cobranças extras em outras áreas”, disse Guaranys, nesta semana, em entrevista, em Brasília. “É claro que há alguns cancelamentos, mas isso é parte do setor”.