O Telegram enviou aos usuários do aplicativo, na terça-feira, um texto em que associa a aprovação do projeto em discussão no Congresso ao fim da democracia no Brasil (Pavlo Gonchar/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 11 de maio de 2023 às 06h47.
A mensagem impulsionada pelo Telegram com ataques e desinformação acerca do PL das Fake News teve 1,2 milhão de visualizações e foi compartilhada em mais de 200 chats de extrema-direita até ser apagada na tarde desta quarta-feira. A publicação circulou por volta de 24 horas.
As informações foram levantadas pelo grupo de pesquisa coordenado por Leonardo Nascimento e Paulo Fonseca, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Letícia Cesarino, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com financiamento do InternetLab e CNPq.
Grupos e chats extremistas repercutiram com grande adesão o conteúdo, de acordo com Nascimento, que monitora ecossistemas de desinformação. Às 19h do mesmo dia, a publicação havia atingido a marca de 1 milhão de visualizações.
A mensagem ajudou a endossar o discurso de extremistas de que o PL das Fake News seria uma forma de mordaça à liberdade de expressão dos usuários. Mensagens com o termo "censura" explodiram na plataforma nas últimas horas.
O perfil "Telegram Brasil" passou por uma disparada no número de inscritos nas últimas 24 horas, de 35,8 mil na segunda-feira, um dia antes da publicação do ataque, para os atuais 193,7 mil. O texto teve 14,5 mil compartilhamentos. As informações são da ferramenta de análise de dados Telemetrio.
O Telegram enviou aos usuários do aplicativo, na terça-feira, um texto em que associa a aprovação do projeto em discussão no Congresso ao fim da democracia no Brasil. Afirma também, equivocadamente, que a proposta vai dar poder de censura ao Estado e acabar com a liberdade da Internet no Brasil.
O PL, pelo contrário, trata de responsabilização das plataformas digitais, com exigência para que ajam de forma preventiva para evitar disseminar conteúdo ilegal, e de dar maior transparência aos seus mecanismos de funcionamento e veiculação de anúncios.
Autoridades do país reagiram prontamente. O Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo oficiou a empresa para que se explicasse sobre o comportamento. Já o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que iria notificar o Telegram pelo disparo da mensagem.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou nesta quarta-feira que o aplicativo excluísse a mensagem e enviasse um texto de retratação aos mesmos destinatários, sob pena de ser suspenso no país pelo prazo de 72 horas, além de ser multado em R$ 500 mil por hora.
A ofensiva teve êxito. Em seguida, o Telegram publicou a seguinte mensagem:
"Recebemos uma ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil que obriga o Telegram a remover nossa mensagem anterior sobre o PL 2630/2020 e enviar uma nova mensagem aos usuários, que está incluída abaixo", diz o novo conteúdo.
"Por determinação do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a empresa Telegram comunica: A mensagem anterior do Telegram caracterizou FLAGRANTE e ILÍCITA DESINFORMAÇÃO atentatória ao Congresso Nacional, ao Poder Judiciário, ao Estado de Direito e à Democracia Brasileira, pois, fraudulentamente, distorceu a discussão e os debates sobre a regulação dos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada (PL 2630), na tentativa de induzir e instigar os usuários à coagir os parlamentares", acrescenta