Temer com embaixador do Brasil na Noruega: dias difíceis pela frente (Beto Barata/PR/Palácio do Planalto/Divulgação)
Talita Abrantes
Publicado em 24 de junho de 2017 às 06h30.
Última atualização em 24 de junho de 2017 às 06h30.
São Paulo – Na maioria das vezes, uma crise política interna é a justificativa mais do que necessária para um chefe de Executivo cancelar compromissos internacionais.
Para o presidente Michel Temer, a viagem para a Rússia e Noruega na última semana seria o gancho necessário para mostrar que a vida segue – apesar de seu mandato estar por um fio há mais de um mês.
Mas, mesmo longe das fronteiras nacionais, a crise não deu trégua – e o assunto foi evocado até mesmo pela primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, que disse a Temer que o país nórdico está preocupado com a Lava Jato e que o Brasil precisaria encontrar uma solução para a corrupção.
De volta ao país (e para seus problemas) neste sábado, Temer tem um compilado de más notícias para encarar, além de uma semana que promete a abertura da primeira denúncia penal contra um presidente em exercício. Haja inferno astral.
Segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo divulgadas na noite de ontem, a perícia da Polícia Federal (PF) concluiu que a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista, da J&F, e o presidente Michel Temer, em 7 de março no Palácio do Jaburu, não foi editada. Segundo os peritos, o gravador usado por Batista durante o diálogo pausa a gravação automaticamente em momentos de silêncio e retoma quando identifica som.
O laudo contesta uma das principais teses da defesa de Temer em torno dos questionamentos à integridade dos áudios. Na última quinta-feira, o responsável pela defesa do presidente, o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, admitiu que seria difícil pedir a anulação do acordo de colaboração premiada de Joesley Batista se a PF não mostrasse adulteração na gravação da conversa do empresário com Temer.
Os ministros do STF ainda não chegaram a um veredito sobre o julgamento de questões (aparentemente) técnicas do caso JBS, o cenário que se desenha até agora não é favorável para o presidente Michel Temer. Até o momento, sete de 11 ministros já votaram a favor da manutenção do relator, o ministro Edson Fachin, e pela validade das delações do grupo J&F.
A expectativa era de que, diante de um resultado mais apertado ou crítico para Fachin, o Planalto poderia entrar com mais recursos contra o acordo firmando entre a Procuradoria-Geral da República e os irmãos Batista. Diante do que se discutiu até agora no pleno da corte, não sobraram brechas para isso.
Antes de seguir viagem para a Rússia, o presidente entrou com duas ações contra o dono da JBS, Joesley Batista, por danos morais e crimes contra a honra depois que o empresário afirmou, em entrevista à revista Época, que Temer seria o chefe da organização criminosa investigada na Lava Jato. A ofensiva rendeu mais uma derrota para o peemedebista já que a Justiça rejeitou os pedidos.
O avanço da reforma trabalhista no Congresso era um sinal para o Palácio do Planalto de que a articulação política do presidente com a base estava firme e forte – mesmo com todos os problemas.
Essa sintonia entre aliados e governo é fundamental para a prova de fogo que Temer deve passar nos próximos dias com o provável oferecimento da denúncia contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A análise do caso pelos ministros do Supremo Tribunal Federal depende de aval de dois terços da Câmara dos Deputados.
A rejeição do parecer favorável à reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) na última terça foi uma amarga surpresa para o governo e um sinal de que a articulação do governo não está tão nos trinques como se imaginava. (Leia: Reforma trabalhista: sinal de desarticulação surpreende analistas)
Antes das críticas da primeira-ministra norueguesa e das gafes de Temer durante discurso, a viagem do peemedebista para a Noruega já estava fadada ao constrangimento.
Dias antes da viagem, o ministro do Meio Ambiente da Noruega, Vidar Helgesen, havia enviado uma carta ao ministro do Meio Ambiente Sarney Filho exigindo providências do governo brasileiro para estancar o desmatamento da Amazônia. Vale lembrar que o país nórdico é o principal investidor do Fundo Amazônico.
Pois bem. Em plena viagem oficial do presidente , o governo da Noruega anunciou um corte de pelo menos 50% nos repasses para salvar a floresta com a ameaça de suspensão completa da ajuda ambiental.
Se o que está ruim pode piorar, na quinta, o governo americano anunciou a suspensão de todas as importações de carne bovina in natura do Brasil. A suspensão ficará em vigor até que o Ministério da Agricultura brasileiro adote medidas que o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) considere satisfatórias.