Nas próximas semanas, o STF analisará vários processos que atingem Bolsonaro e o núcleo mais próximo (Adriano Machado/Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de abril de 2020 às 06h12.
Última atualização em 27 de abril de 2020 às 06h30.
O desenrolar do embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, depende a partir desta segunda-feira, em grande medida, do Supremo Tribunal Federal.
É esperado que o ministro Celso de Mello, decano do STF, autorize nesta segunda-feira, 27, a abertura de um inquérito para apurar as declarações e os fatos narrados por Moro, que, ao anunciar sua demissão, na sexta-feira, 24, acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal.
Apresentado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, o pedido de investigação atinge Bolsonaro e Moro. Serão investigados, entre outros crimes, os de falsidade ideológica, obstrução da justiça, corrupção passiva e denunciação caluniosa – esse último endereçado ao próprio ex-ministro, caso não consiga provar as acusações que fez.
Nas próximas semanas, a Corte estará envolvida em vários processos que atingem, direta ou indiretamente, Bolsonaro e o núcleo mais próximo do presidente. Os inquéritos que apuram a organização de atos que pediram o fechamento do Congresso Nacional e do STF, no domingo 19 de abril, e as fake news contra ministros do Supremo foram blindados pelo ministro Alexandre de Moraes, também do STF, que determinou que a cúpula da Polícia Federal mantenha os delegados envolvidos nos casos.
O risco de interferência na atuação da PF foi um dos motivos que levaram à demissão de Moro. Na edição do Jornal Nacional de sexta-feira, o ex-juiz apresentou mensagens que tratavam de notícias sobre a
investigação dos atos antidemocracia, a qual envolveria uma dezena de deputados apoiadores de Bolsonaro. “Mais um motivo para a troca”, escreveu o presidente, em referência à substituição de Marcelo Valeixo, ex-diretor-geral da Polícia Federal.
Também se arrasta no STF um caso que perturba Moro desde 2018: aquele em que acusa o ex-juiz de ter agido com parcialidade ao condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo do tríplex do Guarujá. O caso começou a ser julgado em dezembro de 2018, logo depois de Moro aceitar o convite de Bolsonaro para integrar o governo, mas foi paralisado por pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes.
Ainda hoje é esperado que Bolsonaro confirme as nomeações de Jorge Oliveira no Ministério da Justiça e de Alexandre Ramagen na Polícia Federal. A proximidade dos dois com a família Bolsonaro faz com que partidos de oposição se organizem para barrar as nomeações no Supremo.
A temperatura também pode subir no Congresso. Alessandro Molon, líder do PSB na Câmara, anunciou que vai entrar hoje com pedido de impeachment contra Bolsonaro.