Gleisi: ela viaja para a Venezuela prestigiar a posse de Maduro (Patricia Monteiro/Bloomberg)
Clara Cerioni
Publicado em 10 de janeiro de 2019 às 12h29.
Última atualização em 11 de janeiro de 2019 às 14h18.
São Paulo — A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, justificou por meio de nota sua ida à Venezuela para a posse de Nicolás Maduro, nesta quinta-feira (10).
O presidente assume seu segundo mandato, que irá até 2025, sob suspeitas de fraude e após uma série de manobras para restringir a oposição, incluindo o esvaziamento da Assembleia de maioria opositora com a criação de um órgão paralelo em 2016.
A crise econômica e humanitária do país se agravou nos últimos anos. O Acnur estima que 3,3 milhões de pessoas tenham deixado a Venezuela, que tem 31 milhões de habitantes, desde 2015. A ONU calcula ainda que, até o final de 2019, haverá 5,3 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos.
A eleição não é reconhecida pelos Estados Unidos, União Europeia e grande parte da comunidade internacional.
Publicada no site do PT, a nota assinada por Hoffman diz que a vitória de Maduro foi constitucional e pelo voto popular. Ela também critica a decisão do Brasil de não reconhecer a legitimidade da eleição.
Segundo a líder do PT, os "bloqueios, sanções e manobras de sabotagem ferem o direito internacional, levando o povo venezuelano a sofrimentos brutais".
Veja as sete razões apontadas pela presidente do PT:
1. Para mostrar que a posição agressiva do governo Bolsonaro contra a Venezuela tem forte oposição no Brasil e contraria nossa tradição diplomática.
2. Para deixar claro que não concordamos com a política intervencionista e golpista incentivada pelos Estados Unidos, com a adesão do atual governo brasileiro e outros governos reacionários. Bloqueios, sanções e manobras de sabotagem ferem o direito internacional, levando o povo venezuelano a sofrimentos brutais.
3. Porque é inaceitável que se vire as costas ou se tente tirar proveito político quando uma nação enfrenta dificuldades. Trata-se de um país que tem relações diplomáticas e comerciais importantes com o Brasil. Impor castigos ideológicos aos venezuelanos também resultará em graves problemas imigratórios, comerciais e financeiros para os brasileiros.
4. Porque o PT defende, como é próprio da melhor história diplomática de nosso país, o princípio inalienável da autodeterminação dos povos. Nossa Constituição se posiciona pela não-intervenção e a solução pacífica dos conflitos. Os governos liderados por nosso partido sempre foram protagonistas de mediações e negociações para buscar soluções pacíficas e marcadas pelo respeito à autonomia de todas as nações.
5. Porque somos solidários à posição do governo mexicano e de outros Estados latino-americanos que recusaram claramente a posição do chamado Grupo de Lima, abertamente alinhada com a postura belicista da Casa Branca.
6. Porque reconhecemos o voto popular pelo qual Nicolas Maduro foi eleito, conforme regras constitucionais vigentes, enfrentando candidaturas legítimas da oposição democrática.
7. Em qualquer país em que os direitos do povo estiverem ameaçados, por interesses das elites e dos interesses econômicos externos, o PT estará sempre solidário ao povo, aos que mais precisam de apoio. O respeito à soberania dos países e a solidariedade internacional são princípios dos quais não vamos abrir mão.