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Artur Ávila: a crise, a ciência e o futuro

Em 2014, o matemático carioca Artur Ávila se tornou o primeiro cientista da América Latina a ser condecorado com uma Medalha Fields, equivalente a um Nobel da matemática. Há 14 anos, o pesquisador mora em Paris, se dividindo entre os trabalhos para Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, no Rio, e o Centre National […]

Ávila: não se deve parar de fazer ciência num momento de crise / André Valentim

Ávila: não se deve parar de fazer ciência num momento de crise / André Valentim

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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2016 às 11h10.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h01.

Em 2014, o matemático carioca Artur Ávila se tornou o primeiro cientista da América Latina a ser condecorado com uma Medalha Fields, equivalente a um Nobel da matemática. Há 14 anos, o pesquisador mora em Paris, se dividindo entre os trabalhos para Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, no Rio, e o Centre National de la Recherche Scientifique. Em entrevista a EXAME Hoje, após participação no Fórum VEJA, o matemático falou sobre os equívocos das políticas voltadas para a ciência e da necessidade de olhar para o setor mirando um crescimento a longo prazo – uma questão especialmente importante num momento de troca de governo, quando os gastos em educação estão sendo rediscutidos.

Em 2009, os Estados Unidos decidiram investir em pesquisa e desenvolvimento mesmo numa situação econômica difícil. Essa pode ser uma saída para a crise?
Acho que a questão da ciência e tecnologia tem que ser ligada ao longo prazo. Eu não diria que é uma saída para a crise agora, mas é uma questão de ter fundamentos melhores para o futuro. Cada crise demanda uma resposta diferente do governo. E eu não veria a ciência como um meio de alavancagem rápida para a situação que vivemos hoje. Porém, as bases têm que ser lançadas agora para serem colhidas daqui a 20 anos.

Se a ciência não dá retorno no curto prazo, não há o risco de ela sempre acabar no segundo plano?
A questão é que não se deve parar de fazer ciência num momento de crise. A ciência existe com continuidade. Nesse projeto de longo prazo, o mais importante é ter uma noção de aonde queremos ir, e com que velocidade podemos ir. É esse investimento que vai garantir um futuro com alguma expectativa positiva e real de crescimento.

O que falta para o Brasil avançar em pesquisas de impacto e ter mais cientistas relevantes internacionalmente?
É importante atrair as pessoas que tenham vocação científica e fazer com que elas enxerguem na ciência uma possível carreira. Uma vez que essas pessoas estejam engajadas, e isso é o mais importante, é preciso dar condições para que elas possam exercer isso da melhor maneira possível.

O que pode ser feito para evitar que bons pesquisadores deixem o país?
Antes de tudo, é preciso entender o que é fazer ciência e como os institutos de pesquisa realmente operam. O governo precisa saber o que faz um estudante de doutorado, que não é um profissional que se produz em massa. Esse pesquisador, que já tem uma trajetória de capacitação, precisa de intercâmbios para o exterior, por exemplo. O problema é que, quando se pensa em investimento, se pensa apenas em números, de uma forma completamente desconectada do impacto que esse investimento pode causar. Não adianta nada colocar esse dinheiro em programas que não vão ter efeito, como o Ciência Fronteiras, que envolve muito dinheiro e pouco resultado, porque manda pessoas despreparadas para fora. Esse dinheiro poderia ser colocado diretamente nas pesquisas.

O Brasil tem a fama de produzir commodities para importar as tecnologias. O que falta para o país reverter esse cenário e aprender a tirar mais proveito dos bens que produz?
Acho que a gente perdeu uma boa oportunidade nos anos de boom que vivemos. Quando as commodities estavam indo bem, tentamos colher os frutos diretamente disso, sem diversificar a produção do país. Aquela situação era ideal para tentar transformar a economia, buscando mais produção de tecnologia. Agora, num momento de crise como esse, fica difícil retomar isso. Quando o negócio voltar a andar, precisamos de um horizonte nessa direção.

(Camila Almeida)

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