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Articulação política, eleições e reforma ministerial: as prioridades de Lula em 2024

Insatisfação do Centrão com articulação pode derrubar o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha

Lula quer eleger o maior número de prefeitos no país para enfraquecer o bolsonarismo (Leandro Fonseca/Exame)

Lula quer eleger o maior número de prefeitos no país para enfraquecer o bolsonarismo (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 2 de janeiro de 2024 às 16h57.

Última atualização em 2 de janeiro de 2024 às 17h09.

Ao retornar do recesso de fim de ano na base naval de Restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve assumir a coordenação política do governo, afirmaram a EXAME três auxiliares do chefe do Executivo e parlamentares. Os partidos de centro não escondem de ninguém a insatisfação com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha, a quem compete a função de organizar a relação do governo com o Congresso Nacional.

Padilha já foi alvo de críticas indiretas do presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), que culpa a articulação política do Palácio do Planalto sempre que há alguma dificuldade para aprovar matérias de interesse do governo no Legislativo. A ideia de Lula é trazer para o posto um nome que melhore a relação do Executivo com deputados e senadores.

Ciente disso, durante o evento do Natal dos Catadores e População em Situação de Rua, realizado em Brasília, Lula saiu em defesa do ministro. O presidente afirmou que Padilha é o responsável pela condução de uma "relação difícil" do Executivo com o Congresso, especialmente porque o governo não tem maioria dos parlamentares.

Apesar desse pequeno afago, Lula sabe que 2024 será decisivo para suas pretensões políticas. As pesquisas divulgadas em dezembro acenderam um alerta ao mostrar que a popularidade do presidente não atingiu o patamar dos governos anteriores e que o eleitorado continua dividido.

Eleições municipais

Dessa forma, Lula tem dado sinais de que não só fará a coordenação política mas também atuará diretamente nos pleitos municipais de forma a garantir a eleição de um número expressivo de prefeitos de partidos da base para demonstrar força pessoal.

Em live semanal do final de ano, a mensagem de Lula foi bem clara. “Eu quero conversar com prefeitos, com o povo, com governadores, porque estou preocupado em cuidar da democracia, da relação humana, de uma coisa chamada carinho e respeito. Esse Brasil vai ter de voltar a ser o país do respeito”, disse o presidente.

Ou seja, Lula pretende usar todo o poder de governante e de político hábil para se fortalecer para as eleições de 2026. A principal estratégia será apoiar candidatos com maiores chances de vitória, independentemente do partido. Dessa forma, vai impor que o PT se limite a lançar candidatos onde realmente tenha chances de ganhar ou onde possa ser fiel da balança em um segundo turno para enfraquecer o bolsonarismo.

Exemplo dessa mudança de paradigma são os municípios de São Paulo, onde o PT vai apoiar Guilherme Boulos (Psol), e Salvador (BA), capital em que o PT desistiu de apresentar candidato próprio e vai apoiar o vice-governador do estado, Geraldo Júnior (MDB), na disputa pela prefeitura em 2024.

Reforma ministerial

Esperada para este mês de janeiro, a indicação do substituto de Flávio Dino no Ministério da Justiça pode ocorrer antes do fim do mês. Lula ainda não desistiu de nomear para o posto Ricardo Lewandowski, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado aposentado recebeu a sinalização de auxiliares do presidente de que terá poder para indicar todos os secretários da pasta, inclusive o secretário-executivo.

Apesar disso, outros nomes são avaliados por Lula para o cargo, caso Lewandowski não aceite o convite. Um dos cotados é o secretário especial de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Wellington César Lima e Silva, que já ocupou o cargo por um breve período no governo Dilma Rousseff. Silva tem como principal avalista o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Concorrem também o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, e o advogado Marco Aurélio de Carvalho. Uma mulher não é descartada para o posto, já que o presidente tem sido pressionado para aumentar a participação femina na Esplanada dos Ministérios.

Além disso, é esperada para os primeiros meses do ano uma reforma ministerial que deverá ir além de substituir os ministros candidatos. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo, deve ser candidato em Aracajú (SE). A ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, é possível candidata a prefeita de Olinda (PE).

Há ainda especulações de que ministros que não estão correspondendo serão substituídos. Dentre os citados nos bastidores, além de Padilha, está o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, que voltaria ao Senado para completar o mandato para o qual foi eleito em 2022. Lula não está satisfeito com o desempenho da equipe de Dias. Na última reunião ministerial, o presidente cobrou alterações nas equipes dos ministérios considerados por ele ineficientes.

Na escolha dos novos ministros, Lula priorizará nomes que possam agregar votos no Congresso e, ao mesmo tempo, capitanear votos em municípios considerados estratégicos para enfraquecer o bolsonarismo.

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