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Arte, joias e iates: a outra rota do dinheiro sujo da Lava Jato

O processo permitiu confiscar milhões de dólares em dinheiro, revelar contas no exterior e também descobrir os excessos dos envolvidos

Luxo: na lista dos objetos apreendidos pela Justiça desde que começou a operação Lava Jato, alguns itens chamam a atenção (Stock.xchng)

Luxo: na lista dos objetos apreendidos pela Justiça desde que começou a operação Lava Jato, alguns itens chamam a atenção (Stock.xchng)

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EFE

Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às 14h32.

Última atualização em 8 de fevereiro de 2017 às 14h38.

Rio de Janeiro - Quadros de Renoir, Miró e Dalí, colares de pérolas de Cartier e até um iate eram alguns dos caríssimos caprichos com os quais lavavam dinheiro sujo os acusados na investigação por desvios na Petrobras, conhecida como Lava Jato e o maior caso de corrupção do Brasil.

O processo, que investiga a gigantesca rede de desvios na companhia petrolífera estatal, permitiu confiscar milhões de dólares em dinheiro, revelar contas no exterior e também descobrir os excessos dos envolvidos na trama na hora de lavar os fundos ilícitos.

A lavagem de dinheiro através da compra de obras de arte, joias ou mediante investimentos imobiliários não é uma prática nova, mas na lista dos objetos apreendidos pela Justiça brasileira desde que começou a operação Lava Jato, em 2014, há alguns que chamam a atenção.

Um dos casos com maior impacto midiático foi a detenção de Eduardo Cunha, o outrora poderoso ex-presidente da Câmara dos Deputados, que acumulou somas milionárias procedentes de comissões ilegais.

O gosto pela ostentação de Cunha, e especialmente de sua mulher, a jornalista Claudia Cruz, facilitou o trabalho da polícia, que utilizou as fotos que a esposa postava nas redes sociais para seguir o rastro de suas contas no exterior.

Cruz gastou mais de US$ 1 milhão em compras de joias, roupa, calçado e bolsas de marcas como Hermès, Valentino e Fendi, com as quais posava para "postar" em seu Facebook.

Só em janeiro de 2014, pagou cerca de US$ 13 mil em lojas da Chanel, Balenciaga e Christian Dior em Paris, e em março desse mesmo ano fez compras por um número similar em Roma, Lisboa e Dubai.

A jornalista chegou a gastar US$ 3 mil em dois pares de sapatos de Prada no dia em que seu marido era cassado de seu cargo e, quando começou a investigação, foi prestar depoimento perante a Polícia Federal com "discretos" brincos de diamantes.

Mas Cunha, que durante meses liderou a lista de "milionários" da Lava Jato, foi desbancado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, acusado do esconder US$ 100 milhões em contas no exterior procedentes de comissões e fundos públicos destinados, entre outras verbas, à melhora das favelas da cidade.

Cabral e sua esposa, Adriana Ancelmo, ambos presos, compartilhavam com os Cunha sua paixão pelo luxo e lavaram boa parte de seu dinheiro sujo em roupa e joias.

O casal tinha uma coleção de diamantes avaliada em mais de US$ 2 milhões e era "assíduo" de exclusivas joalherias do Rio que, em troca de fazer negócios com o então governador, recebiam suculentas isenções fiscais.

Entre as peças mais caras achadas em sua residência figuram três anéis de ouro com rubis, brilhantes e esmeraldas, com valores que oscilam entre US$ 80 mil e US$ 10 mil, embora o repertório de joias de Adriana inclua um colar de pérolas da Cartier, brincos de diamantes, pulseiras de ouro e relógios avaliados em dezenas de milhares de dólares.

A roupa exclusiva era outra fraqueza de Adriana, que gastou US$ 17 mil na compra de seis vestidos de festa.

Cabral não se privava também de nenhum capricho e passear em seu iate Manhattan Rio, avaliado em quase US$ 3 milhões e o nome de uma sociedade interposta, era uma de suas paixões.

Um dos primeiros a cair na Lava Jato foi Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras e hoje preso, que usou obras de arte para lavar suas comissões milionárias e chegou a acumular mais de 130 quadros, entre eles a pintura "Charivari" do catalão Joan Miró.

A obra de Miró está agora no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, onde são guardados mais de 300 quadros apreendidos durante a investigação, de autores tão reconhecidos como Jean Renoir, Salvador Dalí e Vik Muniz.

A "paixão" pelas joias e as obras de arte dos envolvidos nesta trama de corrupção permitiu lavar números astronômicos de dinheiro, sem levantar suspeitas durante anos.

Como aponta o juiz brasileiro Fausto de Sanctis, especialista em lavagem de dinheiro, em um livro publicado em 2013, o mercado da arte facilita a lavagem de fundos pela falta de controles.

Um bom exemplo da denúncia de Sanctis é o caso de Duque, que escondia seus "tesouros" dos olhos dos curiosos em um armário de sua própria casa que abria com um controle remoto.

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