Bolsonaro e Araújo: decisão foi tomada após futuro chanceler negar convite e chanceler venezuelano publicar foto com o comunicado (Valter Campanato/Agência Brasil)
Clara Cerioni
Publicado em 17 de dezembro de 2018 às 10h55.
Última atualização em 17 de dezembro de 2018 às 11h16.
São Paulo — A pedido da equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, o Itamaraty enviou um novo comunicado aos governos de Cuba e da Venezuela desconvidando seus representantes a comparecer na posse presidencial, em 1º de janeiro de 2019.
Os dois países haviam receberam os convites para a cerimônia em novembro. Por meio de um curto texto, o Ministério das Relações Exterior pediu para que seus chanceleres desconsiderassem o comunicado anterior.
Esta é a primeira vez, desde a redemocratização, que um país fica de fora do convite diplomático para participar da posse presidencial no Brasil.
O pedido veio após o futuro ministro Ernesto Araújo negar que o Itamaraty havia convidado Nicolás Maduro para o evento.
Em respeito ao povo venezuelano, não convidamos Nicolás Maduro para a posse do PR Bolsonaro. Não há lugar para Maduro numa celebração da democracia e do triunfo da vontade popular brasileira. Todos os países do mundo devem deixar de apoiá-lo e unir-se para libertar a Venezuela.
— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) December 16, 2018
Logo depois, o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, publicou em seu Twitter que o Brasil havia sim convidado o presidente venezuelano.
Arreaza divulgou imagens de um documento enviado pelo Ministério das Relações Exteriores, em 29 de novembro, que avisa que a embaixada venezuelana em Brasília receberia mais detalhes da cerimônia.
1/2 Aquí pueden leer las 2 notas diplomáticas oficiales enviadas por las autoridades brasileñas invitando al gobierno venezolano y al Presidente @NicolasMaduro a asistir a la toma de posesión de @jairbolsonaro: pic.twitter.com/X5WBxFmvsy
— Jorge Arreaza M (@jaarreaza) December 16, 2018
O chanceler venezuelano publicou, ainda, o documento que o governo da Venezuela enviou em resposta ao convite, em 12 de dezembro, no qual afirma que "não assistiria jamais a posse de um presidente que é a expressão da intolerância, do fascismo e da entrega a interesses contrários à integração latino-americana e caribenha".
2/2 El Presidente @NicolasMaduro jamás consideró asistir a la posesión de un gobierno como el de @jairbolsonaro. Esta es la firme respuesta oficial que le enviamos a @ernestofaraujo a través de @ItamaratyGovBr el pasado 12 de diciembre: pic.twitter.com/6iB1dcC39h
— Jorge Arreaza M (@jaarreaza) December 16, 2018
Neste domingo, o presidente eleito reafirmou em entrevista que nem Nicolás Maduro nem Miguel Diáz-Camel serão convidados, por ambos serem ditadores.
“Ele, Maduro, com certeza não vai receber um convite para a posse. Nem ele, nem o ditador que substituiu Fidel Castro…. Fidel Castro, não, Raúl Castro”, disse.
Ao ser questionado sobre as razões, o presidente respondeu: “Porque é ditadura, não podemos admitir ditadura. O povo lá não tem liberdade.”
Bolsonaro disse ainda que os cubanos que integravam o programa Mais Médicos “foram embora (...) porque sabiam que eu ia descobrir que grande parte deles, ou parte deles, era de agentes e militares, e não podíamos admitir o trabalho escravo aqui no Brasil com a máscara de trabalho humanitário voltado para pobres”.
Mais tarde, o presidente eleito voltou a falar sobre o assunto em suas redes sociais reforçando o posicionamento de seu governo.
Naturalmente, regimes que violam as liberdades de seus povos e atuam abertamente contra o futuro governo do Brasil por afinidade ideológica com o grupo derrotado nas eleições, não estarão na posse presidencial em 2019. Defendemos e respeitamos verdadeiramente a democracia.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) December 16, 2018
(Com Estadão Conteúdo)