Protesto contra o aumento da tarifa: ao menos 24 pessoas ficaram feridas e 8 foram detidas (Rovena Rosa / Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2016 às 10h42.
São Paulo - Após impasse sobre a definição do trajeto do segundo ato contra o aumento da tarifa de ônibus, trens e metrô, a Polícia Militar usou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, nessa terça, 12, na Avenida Paulista, região central de São Paulo, antes mesmo de a passeata começar.
Houve pânico, tumulto e correria por ruas de Higienópolis e Bela Vista. Ao menos 24 pessoas ficaram feridas e 8 foram detidas. A passagem foi reajustada de R$ 3,50 para R$ 3,80 no sábado.
A PM mudou a estratégia de ação no protesto - na sexta, manifestantes mascarados depredaram o centro e espancaram um agente à paisana, conforme revelou o jornal O Estado de S.Paulo.
Desta vez, policiais de Rota, Rocam e Choque cercaram a área e controlaram a entrada de manifestantes na concentração, a partir das 17 horas. Suspeitos foram presos com correntes, tesoura, soco inglês e artefatos explosivos.
O Movimento Passe Livre (MPL) pretendia seguir pela Avenida Rebouças até o Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste. A PM exigia que a passeata percorresse a Rua da Consolação até a Praça da República, no centro, porque o trajeto não havia sido previamente informado. Em manifestações anteriores, o MPL já não avisara a polícia sobre o percurso a ser seguido.
"O caminho para o Largo da Batata passa por vias importantes da cidade. Independentemente disso, quem define o rumo da manifestação é quem se manifesta, e não a Polícia Militar", alegou Erica de Oliveira, porta-voz do MPL.
Uma negociação entre o comandante da operação, coronel André Luiz Oliveira, e o militante do MPL Mateus Preis acabou frustrada. A confusão começou às 19h20, quando um grupo se posicionou à frente do Choque e a PM lançou bombas.
A jornalista Fernanda Azevedo, repórter da TV Gazeta, foi atingida por estilhaços de uma bomba na perna e teve ferimentos leves. Um manifestante foi ferido no olho e levado para o Hospital das Clínicas.
No corre-corre, manifestantes ficaram encurralados e buscaram abrigo em marquises e prédios, como o Instituto Cervantes. "Foi um absurdo a PM jogar bombas assim. Ninguém tinha quebrado nada", disse o estudante Fernando Minoro, de 19 anos.
A Estação Paulista da Linha 4-Amarela foi fechada. Comerciantes também baixaram as portas. Os manifestantes se dispersaram pelas Ruas Bela Cintra, Haddock Lobo e Antônio Carlos. Um ônibus foi pichado na Rua Augusta.
O estudante de arquitetura Gustavo Camargos, de 19 anos, teve uma fratura exposta, quebrou alguns ossos e rompeu um tendão da mão direita. Ele alegou ter sido atingido por um estilhaço de bomba e passava ontem por cirurgia.
Segundo o Grupo de Apoio ao Protesto Popular, que desde 2013 atua em manifestações, 14 dos 24 feridos tiveram lesões graves.
O coronel José Vicente, ex-secretário nacional de Segurança, classificou como "correta" a postura da PM.
"Se não há comunicado prévio, a polícia tem o direito de estabelecer regras a respeito da ocupação de vias públicas e definir o trajeto menos traumatizante para a cidade, porque isso interfere no direito de ir e vir de outros."
Dispersão
Parte do grupo seguiu para a Bela Vista na direção da 9 de Julho, enquanto a maior parte se juntou na Rua da Consolação e partiu para dentro de Higienópolis. Houve novos confrontos na Rua Sergipe. A PM usou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.
"Quando chegamos (a Higienópolis), tinha um grupo da PM à frente e outro atrás. Começaram a jogar bombas juntos, os dois lados, não tivemos para onde correr. Aí os PMs pararam de jogar e mandaram todo mundo sentar no chão", contou Anneli Nobre, de 23 anos, funcionária de uma ONG.
"Teve gente que tentou resistir. Aí, os policiais ficaram muito nervosos e mandaram calar a boca", disse o estudante Daniel Montesanti, de 19 anos.
Os moradores e trabalhadores de Higienópolis foram surpreendidos com a confusão no bairro. Conforme o grupo avançou, estabelecimentos comerciais foram fechados. No momento das bombas, uma babá tentou entrar em um prédio da Rua Itacolomi.
"Pelo amor de Deus, moço", gritou. O porteiro, assustado, não liberou a entrada. "Eu só estava passando. Não tenho nada a ver com isso."
Ela contou que trabalha na mesma rua e ia caminhar até Santa Cecília, porque estava vendo o tumulto na Paulista. Em seguida, não conseguiu mais falar por causa do gás.
Os grupos foram dispersados pelo bairro. Por volta das 21 horas, as equipes do Choque começaram a embarcar em ônibus para a desmobilização da operação.
Pouco depois, no entanto, manifestantes se reagruparam na Rua Xavier de Toledo, na região central, na frente do Teatro Municipal, onde houve uso de bombas de gás. Um grupo prometeu fazer "catracaço" na frente da Estação Anhangabaú do Metrô e a PM usou bombas. Dois adolescentes foram detidos e a estação fechou por cinco minutos.
Os manifestantes que seguiram para a Bela Vista foram para a Avenida Brigadeiro Luís Antonio, onde não houve confronto com a PM. Mas na esquina com a Rua Rui Barbosa foi estendida uma faixa bloqueando o trânsito por 15 minutos.
A dispersão total só ocorreu às 22h30. O próximo ato foi marcado para esta quinta, 14, 17h, com concentrações no Largo da Batata e no Teatro Municipal.