A presidente Dilma Rousseff. Em 23/03/2016 (Adriano Machado/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 13 de abril de 2016 às 17h58.
São Paulo - Debandada do PP e PRB da base anti-impeachment (e iminência de saída do PSD) enfraquece chances do governo Dilma barrar avanço do processo na Câmara dos Deputados.
Essa é a conclusão de levantamento da consultoria Prospectiva com base em declarações feitas pelos parlamentares em redes sociais e discursos no plenário.
Na manhã desta quarta-feira, 289 deputados já tinham declarado voto favorável ao prosseguimento do impeachment enquanto outros 106 afirmaram que votariam contra. Até o momento, há 118 deputados indecisos.
Segundo projeção da consultoria, 28 indecisos têm tendência favorável ao impeachment. Se a estimativa se confirmar, a oposição já teria 318 votos. Para aprovar o processo na Casa são necessários 342.
O governo, por outro lado, precisa de 172 para barrar a continuidade da ação no Congresso – mas até o momento teria chances de arrebanhar mais 40 parlamentares, o que renderia 146 votos.
Adeus, base
Até ontem, segundo análise Prospectiva, ainda era elevada a probabilidade da presidente Dilma Rousseff evitar a aprovação do impeachment na Câmara.
Mas o cenário mudou. De uma tacada só, PP e PRB – que somam um contingente de 70 deputados federais – decidiram apoiar o processo contra a petista.
Para o final da tarde hoje, a expectativa é de que o PSD, do ministro Gilberto Kassab (Cidades), acompanhe o movimento e declare orientação favorável ao fim do mandato. A legenda tem hoje 36 deputados em exercício, mas outros dois licenciados podem votar à Câmara até domingo.
Com o desembarque do PSB, a oposição já poderia contar com até 93% do apoio necessário para aprovar o impeachment na Câmara - isso se forem somados os votos declarados e a inclinação dos indecisos.
Já o governo sairia dos atuais 84,9% do mínimo para barrar o processo na votação de domingo para 77%.
Contra-ataque
A tendência é de que, após desembarque coletivo das bancadas, o governo aposte em uma estratégia individual de negociação com os deputados indecisos.
No entanto, lembra Vidal, dois fatores influenciam a decisão de cada parlamentar – para além de qualquer acordo proposto pelo governo. O primeiro é a tendência de voto da maior parte do plenário.
“Se há um grupo considerável de parlamentares que votarão contra o governo, os indecisos também serão cotados pelos demais. Ficaria constrangedor para eles ir contra a maré”, afirma Thiago Vidal, coordenador do núcleo de análise política da Prospectiva.
Ao mesmo tempo, pesa também a determinação da legenda. Se o partido determinar que dissidências culminarão em punições, “não vai ter alternativa”, diz Vidal.
O que deu errado?
Ao contrário do ex-presidente Fernando Collor de Mello que – aparentemente – se deu por vencido, Dilma Rousseff tem se esforçado para conseguir os 172 votos necessários para reverter a sina.
Ela conta, inclusive, com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se transformou no principal ativo da coordenação política da petista. Mesmo sem assumir o cargo de chefe da Casa Civil, ele tem coordenado, de um hotel de luxo em Brasília (DF), a força-tarefa para impedir o impeachment.
É aí que, na opinião de Vidal, reside o calcanhar de Aquiles da estratégia do governo. Ao subordinar as legendas a uma negociação encabeçada por alguém que não tem cargo na Esplanada e que estaria sendo investigado pela Operação Lava Jato, o governo expõe a própria base a uma situação constrangedora.
“Historicamente, os partidos têm sido acusados de chantagem. Neste atual momento recorrer a esses mesmos instrumentos como forma de manter apoio político gera muito mais holofote e um constrangimento ainda maior”, afirma.
A partir das 14h do próximo domingo cada voto irá pesar para a sina da presidente. Até lá, governo e oposição farão de tudo para puxar para seu lado um a um dos indecisos que perambulam pela Câmara. O cronômetro já começou a rodar - e, por ora, um lado está ganhando.