Brasil

Após críticas sobre "Mecanismo", Padilha vai para o embate com Dilma

A polêmica que a ex-presidente criou ao denunciar a nova série da Netflix sobre a Operação Lava Jato levantou discussões fervorosas sobre o tema

Elenco de Mecanismo: a série está disponível na Netflix (Alexandre Loureiro/Getty Images)

Elenco de Mecanismo: a série está disponível na Netflix (Alexandre Loureiro/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de março de 2018 às 10h09.

Última atualização em 3 de abril de 2018 às 10h55.

São Paulo — Mais gasolina atirada à fogueira na sexta-feira, 23, quando chegou à Netflix a série "O Mecanismo", do diretor José Padilha. Até segunda-feira, 26, os comentários de repúdio e apoio ao teor do roteiro que trata das investigações da Operação Lava Jato seguiam alimentando posts raivosos nas redes sociais.

Padilha estaria distorcendo fatos, como acusou a ex-presidente Dilma Rousseff em um texto em seu Facebook? Ou escancarando a podridão em metástase de um sistema que não segue ideologias?

À reportagem, o diretor respondeu. "A Lava Jato mostrou que PT e PMDB desviaram, juntos, bilhões de dólares dos cofres públicos. Lotearam o País, assim como o PSDB havia feito. Operaram o 'mecanismo'. Parasitaram os brasileiros. Não há como negar."

Dilma, em seu artigo, havia apontado o que chamou de distorções: "O cineasta José Padilha incorre na distorção da realidade e na propagação de mentiras de toda sorte para atacar a mim e ao presidente Lula...".

Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta segunda, ela acusou a Netflix de realizar "proselitismo eleitoral" com a série sobre corrupção.

"Vou denunciar às autoridades de outros países que a Netflix está fazendo campanha política descaradamente. A empresa não foi criada para isso", afirmou a correspondentes de jornais internacionais no Rio.

"A Netflix não pode fazer campanha política. Se está fazendo no Brasil, pode vir a fazer em qualquer outro país."

Ela já havia falado de incômodos com a série, como, segundo disse, o uso indevido de uma frase em personagens trocados: "O cineasta tem o desplante de usar as célebres palavras do senador Romero Jucá (PMDB-RR) sobre 'estancar a sangria', na época do impeachment fraudulento, num esforço para evitar que as investigações chegassem até os golpistas. Jucá confessava ali o desejo de 'um grande acordo nacional'. O estarrecedor é que o cineasta atribui tais declarações ao personagem que encarna o presidente Lula".

À reportagem, Padilha diz que Dilma e a esquerda criam cortina de fumaça sobre o assunto da frase "estancar a sangria".

"Os bandidos entram na sua casa, estupram a sua esposa, matam seus filhos e roubam tudo o que você tem. Na saída, surrupiam seu isqueiro... A esquerda viu a série e quer debater a cor do isqueiro. O PT de Lula se associou ao PMDB de Temer. Juntos, operaram o mecanismo. Desviaram bilhões de dólares dos cofres públicos. Petrobrás, Belo Monte, Eletrobras, BNDES. Parasitaram o cidadão. E a esquerda finge que não viu? Sinto muito. A esquerda enlouqueceu e ficou tão hipócrita quanto a direita. Hoje, estão todos de mãos dadas: os formadores de opinião da esquerda, Aécio Neves e Temer, torcendo para que o STF revogue a prisão em segunda instância. Depois, o maluco é o Ruffo", disse, citando o personagem Marco Ruffo, o delegado da série obcecado pelas investigações da Lava Jato, vivido por Selton Mello.

Que leitura ele faz das reações? "Petrobras, BNDES, Belo Monte... e ainda vêm aí os fundos de pensão. A polarização política é uma tentativa desesperada dos intelectuais de esquerda em tentar não ver que o elefante está aí. A verdade é clara: a esquerda brasileira foi e é tão corrupta quanto a direita. O mecanismo não tem ideologia." E como recebe as críticas de Dilma? "Como evidência de que, nos grandes temas, acertamos em cheio."

Acompanhe tudo sobre:Crise políticaDilma RousseffJosé PadilhaNetflixO MecanismoOperação Lava JatoSéries

Mais de Brasil

Enem 2024: prazo para pedir reaplicação de provas termina hoje

Qual é a multa por excesso de velocidade?

Política industrial tem de elevar produtividade e alterar potencial energético, diz Cagnin, do Iedi