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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2012 às 22h45.
Brasília - O PT saiu em defesa de seu ex-presidente, José Genoino, e do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, condenados nesta quarta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de corrupção ativa durante o julgamento do mensalão.
Após reunião realizada hoje, o Diretório Nacional do PT divulgou uma resolução comemorando os mais de 17 milhões de votos conquistados no primeiro turno das eleições municipais e criticando 'uma intensa campanha promovida pela oposição de direita e seus aliados na mídia' com objetivo explícito, segundo a nota, de 'criminalizar' o partido.
'Não é a primeira vez nem será a última vez que setores conservadores demonstram sua intolerância, sua falta de vocação democrática; sua hipocrisia, os dois pesos e medidas que abordam temas como a liberdade de comunicação, o financiamento das campanhas eleitorais, o funcionamento do judiciário', diz a resolução.
O STF concluiu hoje a parte do julgamento dedicada aos casos de corrupção ativa e condenou Dirceu por oito votos a dois, Genoino por nove votos a um, enquanto o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, foi condenado por unanimidade.
Dirceu foi apontado por alguns magistrados como o chefe do esquema de corrupção tecido pelo PT depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito em 2002 e que serviu para financiar campanhas e subornar deputados de outros quatro partidos a fim de conseguir aprovar reformas no Congresso.
Genoino se manifestou hoje, antes da reunião do Diretório, para anunciar sua renúncia ao cargo de assessor especial no Ministério da Defesa e distribuir uma carta na qual considerou a decisão como 'um erro' da corte, à qual disse que 'foi injusta' ao condenar 'um inocente' e fazê-lo, segundo sustentou, 'sem provas'.
'Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes. Não me envergonho de nada. Continuarei a lutar com todas as minhas forças por um Brasil melhor, mais justo e soberano, como sempre fiz', diz a carta distribuída por Genoino.
Fontes do PT disseram que Dirceu também esteve na reunião e que, em um breve discurso, instou o partido a concentrar-se agora no segundo turno das eleições municipais.
Antes dessa reunião, a presidente Dilma Rousseff viajou a São Paulo para reunir-se com Lula.
Porta-vozes oficiais informaram que esse encontro, que não figurava na agenda da governante, foi para discutir a situação do PT no segundo turno, mas fontes do partido disseram à Efe que também foi analisado o impacto político da condenação de Dirceu e Genoino.
No Supremo, os dois magistrados que faltavam por pronunciar-se apenas reforçaram a maioria de votos que já nesta terça-feira havia condenado os ex-dirigentes do PT.
O mais contundente foi o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, que considerou hoje que o PT forjou um projeto de poder que comparou com um 'golpe' para perpetuar-se no governo.
Ao referir-se à responsabilidade de Dirceu, Ayres Brito destacou que 'tudo passava pelas mãos dele' e que atuava como 'primeiro-ministro'.
Antes dele, o ministro Celso de Mello declarou que ficou provado que houve 'uma macroestrutura delitiva' que se forjou 'à sombra do poder' durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula.
Segundo o magistrado, 'há elementos probatórios, há indícios que são convergentes, que se harmonizam entre si e que não se repelem nem se desautorizam, mas, pelo contrário, todos se confirmam'.
Também criticou 'a absoluta falta de escrúpulos que se evidenciou neste caso' e a 'avidez pelo poder' que mostraram os envolvidos, assim como 'sua ação predadora, sua arrogância e sua certeza de impunidade'.
Durante todo o dia, os ex-dirigentes do PT condenados receberam demonstrações de solidariedade de outros partidos, que foram dirigidos em particular a Dirceu.
Uma das mensagens mais críticas contra sua condenação foi divulgada pelo secretário de comunicação do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, que classificou a decisão da corte como 'improcedente, baseada em mentiras e em declarações de efeito'.
Segundo Carvalho, 'e de extrema gravidade o que ocorreu na terça-feira, 9 de outubro, que passa à história do Brasil como o dia da vergonha nacional'.