Protesto: alunos pedem que seja criada uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar os desvios na merenda escolar (Rovena Rosa / Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2016 às 20h24.
Depois de enfrentarem bombas de efeito moral lançadas pela Polícia Militar nas ruas do centro de São Paulo, estudantes secundaristas decidiram, em assembleia na frente do Shopping Ligth no final da tarde de hoje (6), manter o protesto, desta vez, na Avenida Paulista.
Os manifestantes saíram do centro da capital em pequenos grupos e tentam se reunir novamente na Avenida Paulista para um novo protesto.
Os estudantes protestam contra a decisão do governo de determinar como serão feitas as eleições para os grêmios estudantis das escolas e pedem que seja criada uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar os desvios na merenda escolar.
O ato dos estudantes teve início com uma assembleia na Praça da República, na frente da Secretaria Estadual de Educação, por volta das 15h, quando eles decidiram sair em caminhada pelo centro de São Paulo e, durante o percurso, fecharam trechos da Avenida Ipiranga, da Avenida São João e da Avenida Rio Branco.
Estudante detido Quando chegaram no cruzamento da Avenida Ipiranga com a Avenida Rio Branco, os estudantes decidiram sentar no chão, interrompendo o trânsito na região.
O ato seguia de forma pacífica até que policiais militares detiveram um dos estudantes, o que gerou muitos protestos dos manifestantes. Abordado por jornalistas, a polícia disse que ele foi detido apenas para averiguação.
“Ele estava com máscara e uma mochila e estava um pouco exaltado. Fizemos então uma [detenção] preventiva para ver se havia algum objeto ilícito na mochila dele. E não encontramos nada de irregular. Tanto é que ele foi liberado para voltar para o protesto para exercer o direito de manifestação dele”, disse o major da Polícia Militar, Vitor Fedrizzi.
Bombas
Pouco depois que o estudante foi liberado, os manifestantes decidiram continuar a caminhada pela Avenida Rio Branco, sentido Largo do Paissandu.
No entanto, policiais fecharam o trajeto, impedindo que a caminhada continuasse por ali. Os estudantes protestaram contra o fechamento da via, mas a polícia começou a jogar bombas de efeito moral em direção aos manifestantes.
Foram três bombas e os estilhaços provocaram ferimentos em pelo menos dois estudantes. Um deles mostrou para a reportagem ter se ferido na perna e no ombro. Uma estudante passou mal por causa das bombas.
Mais detenção Enquanto tentavam se reorganizar para continuar o protesto, a polícia deteve mais um estudante. A mochila dele foi revistada na frente de vários jornalistas, policiais e manifestantes.
A polícia colocou o rapaz, que disse ter 17 anos, dentro da viatura e o levou para uma delegacia não informada.
Abordado pela reportagem da Agência Brasil sobre o motivo para terem levado o jovem para a delegacia, um policial disse que haviam encontrado drogas na mochila do estudante, resposta só obtida após muita insistência.
Um homem que passava pelo local, inconformado com a prisão, tentava convencer os policiais a liberarem o estudante.
“Seria porque ele é negro? Gostaria de saber o que esse menino fez? O que ele fez foi o que os outros fizeram? Por que apontaram a arma para ele e por que ele está sendo preso? Eu quase tomei bomba. E por que eu quase tomei bomba, se sou um cidadão que estava andando para ir à biblioteca? Não sou herói não, mas esse menino não merece [ser detido]”, disse o aposentado Renê Roldan aos policiais. “Não vi nenhuma justificativa para prender esse menino”.
Mais bombas
Mesmo assim, os estudantes decidiram continuar o protesto e tentavam seguir a caminhada pela Avenida Rio Branco, próximo do Largo do Paissandu, quando a polícia jogou mais duas bombas.
O grupo então se dividiu e parte dele decidiu se abrigar na Galeria do Rock, enquanto parte seguiu para o Theatro Municipal.
Por volta das 17h, eles voltaram a se reunir no Shopping Light e ali fizeram uma nova assembleia onde decidiram continuar o protesto.
Segundo um dos manifestantes, que se identificou apenas como Mateus, de 17 anos, um dos motivos do ato hoje foi protestar contra a determinação do governo paulista em tentar organizar o grêmio estudantil.
"Não é tarefa do estado organizar o grêmio dos alunos. Essa organização tem que ser feita pelos alunos. O grêmio organizado pelo estado é um instrumento de manipulação porque consegue intervir na decisão dos alunos para que essas decisões não sejam nossas, mas deles", disse.
Segundo a Secretaria Estadual de Educação, o governo decidiu marcar as eleições dos grêmios estudantis para os dias 13 e 14 de abril, onde cada voto será direto e secreto, "com o objetivo de ampliar a participação dos 3,7 milhões de alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio nas unidades escolares e dar maior transparência ao processo".