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Após 2 anos, Brasil pode voltar a ajudar FBI a investigar CBF

Em 2015, uma decisão judicial impediu o país de colaborar com os EUA na investigação de fraudes na Fifa

CBF: cartolas brasileiros estão entre os investigados por corrupção na Fifa (CBF/Divulgação)

CBF: cartolas brasileiros estão entre os investigados por corrupção na Fifa (CBF/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de março de 2017 às 13h59.

A Procuradoria Geral da República indica que poderá cooperar com os Estados Unidos nas investigações relacionadas com os dirigentes José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira.

A reportagem do Estado revelou com exclusividade em 2015 que uma decisão judicial no Brasil impediu a cooperação com os EUA, o que freou iniciativas do MP no País de confiscar recursos ou o envio aos norte-americanos de documentos relativos aos três dirigentes. O FBI investiga desde 2015 a corrupção na Fifa e os três cartolas brasileiros estão entre os indiciados.

Se em praticamente todos os países latino-americanos a cooperação com o FBI foi intensa nos últimos dois anos, a atuação do Brasil foi inexistente.

Uma juíza no Rio havia determinado que a troca de informações não poderia ocorrer e que apenas as mais altas instâncias poderiam dar um sinal verde.

Na época, o MP federal entrou com um recurso, alegando que a decisão de um tribunal no Rio de Janeiro feria os tratados internacionais assinados pelo Brasil.

Agora, o Superior Tribunal de Justiça deu razão ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Para que seja efetivada, a Justiça Federal agora precisa dar um sinal verde para a troca de informações.

Em Brasília, procuradores indicaram ao Estado que vão retomar a execução do pedido de cooperação com os EUA. Mas admitem que, dois anos depois do pedido inicial, não sabem se os norte-americanos ainda estariam interessados na documentação.

Além disso, o hiato entre o pedido e sua execução pode ter permitido que os recursos, contas e indícios tenham sido destruídos, fechados ou transferidos.

Nos EUA, a apuração sobre Del Nero se debruça sobre pagamentos feitos por José Hawilla, dono da Traffic. A Justiça aponta como o empresário brasileiro foi obrigado a compartilhar um contrato que tinha com a CBF para os direitos da Copa do Brasil com a Klefer a partir de 2011.

Para o período entre 2015 e 2022, a Klefer pagaria à CBF R$ 128 milhões pelo torneio, minando a posição privilegiada que Hawilla tinha desde 1989.

Para evitar uma guerra comercial, Hawilla e a Klefer entraram em um entendimento. Mas só neste momento é que a Klefer informou que havia prometido o pagamento de uma propina anual a um cartola da CBF, no caso Ricardo Teixeira.

Essa mesma propina teria de ser elevada a partir de 2012 quando dois outros membros da CBF entrariam em cena. Um deles é José Maria Marin, preso em Zurique e extraditado aos Estados Unidos. O outro, segundo os americanos, seria Del Nero.

Para chegar ao atual presidente da CBF, a Justiça norte-americana tem examinado depósitos e pagamentos feitos pela Traffic nos EUA, assim como pela Klefer.

Já na motivação para pedir a extradição de José Maria Marin, os norte-americanos apontaram dois depósitos como exemplos de como o sistema financeiro dos EUA estava sendo usado no esquema entre os cartolas da CBF.

Uma das contas, porém, chama a atenção do FBI. Trata-se de uma transferência da Klefer, avaliada em US$ 500 mil no dia 5 de dezembro de 2013 a partir de uma conta no banco Itaú Unibanco de Nova Iorque para o HSBC em Londres, em nome de uma empresa fabricante de iates de luxo. O que a Justiça quer saber é quem teria sido o beneficiado pela compra do iate ou pelo pagamento.

Outro foco é Teixeira. O Estado já havia revelado com exclusividade que o FBI havia identificado contas controladas pelo ex-presidente da CBF em pelo menos três bancos: o UBS, Banca del Gottardo e BSI.

Em apenas duas dessas contas, um total de US$ 800 mil foram transferidos de contas nos EUA para a Suíça, envolvendo a Somerton, empresa controlada pelo também brasileiro José Margulies.

Ele é suspeito de agir como testa de ferro para o empresário J. Hawilla e realizar os pagamentos de propinas para dirigentes do futebol mundial. A empresa de fachada de Hawilla, portanto, também teria abastecido as contas suíças de Teixeira.

A suspeita do FBI é de que Teixeira usaria um nome de fachada para não ter sua identidade revelada. Mas aparecia como beneficiário das contas.

O "laranja" seria Willy Kraus, dono da Kraus Corretora de Câmbio, no centro do Rio de Janeiro. Numa das transações suspeitas, o FBI registrou como a empresa Blue Marina com contas nos EUA, pediu para transferir seus ativos para a Suíça.

No dia 25 de setembro de 2008, a conta em território norte-americano foi fechado e o dinheiro enviado a uma conta de Kraus, na Banca del Gottardo. O valor transferido era de US$ 478 2 mil.

Outro nome registrado pelos americanos era a da socidade Summerton, usada também pelo dirigente. Para o FBI, Teixeira mantinha o "efetivo controle" sobre essas contas.

No documento do FBI, os investigadores apontam que acreditam que Kraus "permitia que Teixeira usasse suas contas como forma de esconder sua verdadeira fonte".

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