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Ao chegar da Argentina, Dilma se prepara para estreia em cúpula internacional

Dilma participará da Cúpula América do Sul-Países Árabes e já prepara discurso sobre preocupações vão desde a segurança alimentar às recentes crises políticas no Egito

A presidente Dilma Rousseff: brasil quer incrementar comércio com árabes (Ricardo Stuckert Filho/PR)

A presidente Dilma Rousseff: brasil quer incrementar comércio com árabes (Ricardo Stuckert Filho/PR)

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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2011 às 05h30.

Brasília - Ao retornar hoje (31) à noite da Argentina, a presidente Dilma Rousseff começa a se preparar para a estreia, em duas semanas, na sua primeira cúpula internacional. De 15 a 16 de fevereiro, Dilma vai ser uma das oradoras da  3ª Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa), em Lima (Peru). Nesse encontro, as preocupações vão desde a segurança alimentar, por causa da alta dos preços dos alimentos, até o desenvolvimento sustentável. 

A Aspa ocorre no momento em que o Egito, a Tunísia e o Iêmen vivem momentos de tensão política, que todo o Mercosul fortalece a criação do Estado Palestino e que o Brasil quer incrementar  o comércio multilateral não só na região, como também com parceiros considerados pouco tradicionais. 

Porém, a alta do preço dos alimentos, a falta de água nos países árabes e os problemas gerados por causa da desertificação guiarão a maior parte das discussões. O Brasil ocupará lugar de destaque em decorrência dos programas sociais de transferência de renda. A exemplo brasileiro, os estrangeiros querem elevar a qualidade de vida dos mais pobres pondo em prática algumas medidas pontuais.

Dilma deve mencionar todos esses aspectos nas duas ocasiões em que discursará. Em um primeiro momento, a presidente falará para os empresários - sul-americanos e árabes - , em seguida ela vai se dirigir aos 33 chefes de Estado e governo presentes no evento. É a primeira vez que Dilma participa de uma reunião multilateral.

Em 2003, foi criada a cúpula a partir de uma sugestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, árabes e sul-americanos buscam estreitar relações em várias áreas. Há sete subcomissões que tratam de temas como direitos humanos, capacitação profissional, economia e comércio, ciência e tecnologia, assuntos sociais, agricultura e meio ambiente.

Responsável pela organização brasileira da Aspa, o chefe do Departamento de Mecanismos Interregionais do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Gilberto Moura,  afirmou que a evolução das relações entre os países da América Sul e os árabes é visível em vários setores. “Houve uma aproximação total. Antes, havia até um desconhecimento de parte a parte, agora há um interesse mútuo em compartilhar e conhecer as realidades”.


Desta vez, os líderes políticos devem dar mais atenção às preocupações causadas por questões pontuais. No caso da crise política no Egito, na Tunísia e no Iêmen, mesmo que amenizada, deve ser aprovada uma declaração conjunta em defesa do ambiente democrático e do bem da população. O caso da criação do Estado Palestino também deve merecer destaque em apoio à autonomia e defesa da região.

Venezuela e Colômbia

No intervalo das sessões, a presidente Dilma Rousseff deve aproveitar para conversar com vários presidentes da República. A relação de reuniões aumenta diariamente. Inicialmente, estão previstas conversas de Dilma com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Juan Manuel Santos. Mas até o embarque da presidente, outros nomes devem ser incluídos.

De acordo com diplomatas que organizam a cúpula, reuniões como essa em Lima são aproveitadas também pelos chefes de Estado e de governo para conversas bilaterais. Como a presidente assumiu o governo no começo deste mês, os líderes políticos querem conhecer as propostas dela e alinhavar os acordos de interesse mútuo.

Mas a cúpula também terá momentos de cultura e premiação. Um dos homenageados é o escritor brasileiro de origem libanesa Milton Hatoum, de 58 anos, cuja obra tem um tom crítico. Autor de quatro livros, ele mostra aspectos da cultura árabe e brasileira de forma constante.

A premiação de cinema é para o diretor e coreógrafo egípcio Youssef Chahine, que morreu em 2008 aos 82 anos, cujo trabalho se caracterizou por romper regras e estabelecer um novo estilo no mundo árabe. O prêmio na área musical será para a cantora colombiana de origem libanesa Shakira, de 33 anos, que costuma misturar ritmos latinos, norte-americanos e até árabes nas suas composições.


Paralelamente, haverá uma exposição de fotografias denominada Amrik - com imagens de episódios que contam a imigração e a influência árabe em países sul-americanos. A mostra compõe as comemorações dos 130 anos da imigração árabe na América do Sul. Apenas no Brasil há mais de 10 milhões de descendentes de libaneses - a maior colônia entre os povos árabes no Brasil.

Acordos

O governo do Brasil quer aproveitar a Aspa para avançar nas negociações comerciais e fechar acordos específicos. A ideia é alinhavar parcerias econômicas, sociais, ambientais e culturais com os países árabes. Uma dos acordos a ser fechado nessa cúpula é de livre comércio do Brasil com a Jordânia, os Emirados Árbes, Omã e Marrocos.

Atualmente o Brasil tem acordos de livre comércio com o Egito, a Síria e a Palestina. Nos últimos cinco anos, dobraram os investimentos multilaterais entre os países sul-americanos e os árabes, saltando de US$ 10,5 bilhões, em 2005, para US$ 19,54 bilhões, em 2010. Os acordos são fechados em bloco, formalizando as relações do Mercosul com os países árabes.

Também há oportunidade de os empresários das duas regiões ampliarem as negociações. No dia 15 de fevereiro, haverá o fórum empresarial birregional. O embaixador Gilberto Moura disse que a tendência é aumentar cada vez mais a aproximação entre essas regiões.

“O nosso esforço é para aumentar a conectividade em todas as áreas, no setor aéreo, aumentando as possibilidades de voos e transporte marítimo para o envio das mercadorias”, afirmou o diplomata. “E estamos conseguindo com sucesso isso.”

Na tentativa de reduzir as diferenças e aumentar a aproximação, no ano passado foi criado um site na internet para reunir as melhores práticas sociais em execução nos países sul-americanos e árabes. Segundo o embaixador, há interesses dos dois lados em conhecer as “experiências bem-sucedidas” para colocá-las em prática.

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