Policiais no Morro do Pavão-Pavãozinho: a entidade considera "alarmante" o índice de homicídios de jovens em favelas e periferias brasileiras (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 24 de abril de 2014 às 21h38.
Rio de Janeiro - A Anistia Internacional divulgou nota hoje (24) na qual pede esclarecimento total das mortes no Morro Pavão-Pavãozinho e a responsabilização dos autores.
O dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira e o morador Edilson Silva dos Santos foram mortos na última terça-feira (22).
Douglas foi encontrado morto atrás de uma creche, horas após ter sido morto. Edilson foi atingido por um tiro na cabeça, durante os protestos pela morte de Douglas.
"A entidade espera uma investigação célere e independente das duas mortes, considerando que há suspeitas de que foram cometidas por policiais militares (PMs). Diante desse contexto de violência, a Anistia Internacional Brasil (AIB) pede não apenas que as mortes sejam devidamente investigadas, esclarecidas e responsabilizadas, mas que seja reconhecida a necessidade urgente de mudanças estruturais na organização das polícias, que incluam a sua desmilitarização, o aumento da transparência e a implementação de um controle externo efetivo das atividades policiais."
A entidade considera "alarmante" o índice de homicídios de jovens em favelas e periferias brasileiras.
"Infelizmente, o índice de homicídios de jovens em territórios de favelas e periferias é alarmante. A polícia brasileira está entre aquelas que mais matam no mundo, segundo dados da ONU [Organização das Nações Unidas]. Utilizando como exemplo o estado do Rio de Janeiro, dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que, de 2002 a 2011, foram registradas 10.134 mortes derivadas de intervenções policiais", acrescenta a nota.
De acordo com a AIB, a violência vista no Rio também acontece no restante do país: "O Brasil apresenta uma das taxas de homicídios mais altas do mundo, com registro anual de 50 mil mortes. Entre os jovens, a proporção de mortes é duas vezes maior, se comparada com a idade adulta. E entre os jovens brasileiros que morrem, 78% são negros".
O sepultamento de Douglas aconteceu à tarde, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul da cidade. A apresentadora Regina Casé, que trabalhava com ele na TV Globo, compareceu ao enterro e se disse chocada com a morte do dançarino.
"Mesmo que fosse alguém que eu não conhecesse, essa morte seria igualmente chocante", disse ela, que fez questão de consolar a mãe de Douglas, a técnica de enfermagem Maria de Fátima da Silva.
Após o enterro, moradores do Pavão-Pavãozinho seguiram em passeata, pelas ruas de Copacabana, até a subida da comunidade. Na rua que dá acesso ao morro, houve um confronto com policiais militares que acompanhavam a manifestação.
PMs do Batalhão de Choque dispararam bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Com medo, as pessoas subiram para a favela para fugir da ação policial.