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Análise: Nunes no 2º turno fortalece Tarcísio, que sai vitorioso em meio à 'direita fraturada' em SP

Para analistas políticos, governador soube surfar no antipetismo, que parece ser maior que o bolsonarismo na capital, e projetou coalizão de centro e direita para o futuro 

Analistas políticos apontam a possibilidade de um embate entre Tarcísio e o presidente Lula neste segundo turno em São Paulo (Campanha Ricardo Nunes/Divulgação)

Analistas políticos apontam a possibilidade de um embate entre Tarcísio e o presidente Lula neste segundo turno em São Paulo (Campanha Ricardo Nunes/Divulgação)

Publicado em 7 de outubro de 2024 às 15h39.

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O resultado do primeiro turno em São Paulo, que manteve o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) na busca por um segundo mandato na capital paulista, é uma vitória para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e reforça a liderança que o chefe do Executivo estadual vem forjando em meio a um racha na direita paulistana, disputada por moderados e radicais. É que o constatam os analistas políticos Cila Schulman, CEO do Instituto de Pesquisa Ideia, e Fábio Zambeli, vice-presidente da Ágora Assuntos Públicos, que participaram neste domingo, 6, da live de apuração das eleições municipais realizada pela EXAME.

Na avaliação de Schulman, Tarcísio se fortalece como um líder político articulador por ter assumido o papel de cabo eleitoral e estrategista de Nunes quando o candidato à reeleição ainda patinava na campanha e via o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), até então seu principal fiador, demonstrar pouco entusiasmo no apoio a Nunes, flertando por vezes com o seu adversário no campo da direita, o influenciador Pablo Marçal (PRTB).

"O grande vitorioso é o governador Tarcísio nesse resultado", afirmou a especialista. "Ele teve um papel fundamental inclusive em segurar o Bolsonaro, para que ele não desse o apoio a Marçal. Insistiu muito, inclusive, para que o ex-presidente falasse algumas palavras em favor de Nunes. Foi ele que fez toda essa articulação".

Avanço da direita pragmática em SP

O governador, contudo, não passou isento de críticas de aliados e seus eleitores. Como o próprio resultado das urnas mostraram, o empenho, apesar de ter garantido o primeiro lugar na segunda votação ao emedebista, não foi suficiente para reagrupar os bolsonaristas em torno de Nunes.

Tarcísio deu voz ao pedido de "voto útil" em seu candidato, afirmando que o apoio a Marçal poderia garantir a vitória do oponente do campo opositor, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). E a campanha de Nunes, por sua vez, soube aproveitar o "latifúndio" do tempo de horário eleitoral que tinha na TV e no rádio para se tornar conhecido ao eleitor e garantir na rua o apoio de sua base de vereadores, na análise dos especialistas.

Mas o candidato à reeleição foi para o segundo turno com 29,48% dos votos válidos, contra 29,07% de Boulos, com quem teve uma diferença de apenas 25 mil votos, e ante 28,14% dos votos em Marçal, uma separação também pequena de quase 82 mil votos.

"O governador foi muito cobrado no sábado por ter declarado que Marçal deveria ser preso por conta do laudo médico falso (usado contra Boulos). Tarcísio apanhou muito nas redes sociais por conta disso. O que a gente vê é uma direita fraturada depois dessas eleições municipais de São Paulo", disse Schulman.

Ainda assim, Zambeli enxerga o avanço de Nunes para o segundo turno como uma consolidação da direita mais pragmática e moderada, representada, segundo ele, na figura de Tarcísio. E acoplada também ao sistema político partidário formado por partidos como PL, Progressistas e Republicanos e ao MDB e o PSD, os dois fiéis da balança nacional que lideram em número de prefeituras conquistadas pelo país.

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"Então para Tarcísio, o significado transcende o resultado eleitoral de Ricardo Nunes e projeta uma coalizão de partidos de centro e direita para o futuro, que pode ser 2026 e 2030. Parece-me que nasce um embrião de projeto de direita mais prático, pragmático e voltado para os partidos políticos. E para isso era importantíssima a vitória de Nunes, porque a vitória de Marçal provocaria uma fissura de proporções gigantescas nesse projeto", afirma Zambelli.

Segundo turno com Lula versus Tarcísio

Os analistas políticos preveem ainda a figura de Bolsonaro mais à margem com o embate de padrinhos que parece que dará os contornos nesse segundo turno na capital paulista: entre Tarcísio e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que apoia a eleição do candidato do PSOL.

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Ontem, no primeiro discurso após o resultado, o atual prefeito exaltou o governador, chamando-o de irmão e mencionou apenas uma vez o ex-presidente Bolsonaro.

Zambeli acrescenta que o governador soube nesta reta final empacotar um discurso para o eleitor antipetista que, para ele, parece ter uma força maior do que o próprio bolsonarismo.

Nas próximas semanas, existe muita expectativa sobre a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas campanha de Boulos.  No primeiro turno, ele esteve mais ausente da campanha paulistana e foi criticado por isso, como mostrou a EXAME. Agora, espera-se que ele amplie suas agendas junto a Boulos nesse segundo turno, cujos maiores desafios são reduzir sua rejeição e atrair parte dos mais de 3,5 milhões de votos que foram para Nunes e Marçal.

"Podemos ter uma disputa entre Tarcísio e Lula", prevê o analista político. "Tenho apurações de que isso atrasou a entrada de Lula aqui em São Paulo, porque ele precisa de uma coexistência pacífica. Mas agora parece que no segundo turno será impossível postergar esse embate."

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