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Alunas da UFRRJ protestam contra violência sexual na universidade

O ato também foi em memória da estudante do curso de educação física Isadora, que se suicidou após não se recuperar de uma tentativa de estupro

Violência sexual: para o movimento "Me Avise Quando Chegar", as medidas são mínimas e vem com muito atraso (Getty Images/Getty Images)

Violência sexual: para o movimento "Me Avise Quando Chegar", as medidas são mínimas e vem com muito atraso (Getty Images/Getty Images)

AB

Agência Brasil

Publicado em 15 de maio de 2017 às 15h38.

Com o relato de mais quatro casos de estupro ou tentativa de estupro no campus de Seropédica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e nos arredores, na semana passada, as estudantes lançaram hoje (15) um manifesto contra a violência sexual na universidade e fazem durante a tarde um ato pedindo mais segurança.

Há pouco mais de um ano, as alunas da Rural fizeram uma manifestação no prédio principal da universidade e, na mesma época, foi criado o movimento Me Avisa Quando Chegar, "de articulação e unificação de mulheres com diferentes posições políticas, ideologias e organizações em prol da luta contra pautas como o assédio em diversas ocasiões, à violência e à falta de segurança principalmente".

De um ano para cá, estudantes relatam que a situação na UFRRJ não melhorou.

Segundo uma integrante do Me Avisa Quando Chegar e uma das organizadoras do ato de hoje, que pediu para não ter o nome divulgado, todo ano tem ato contra a violência sexual e as alunas que se colocam à frente das manifestações sofrem ameaças.

"Os casos são recorrentes, eu sou aluna desde 2012 e todo ano tem ato contra violência sexual. Tem uma página no Facebook, 'abusos cotidianos', onde tem relatos de alunas desde 1990, mas a menina que administra a página sempre sofre com ameaças, então pode ser que ela tenha tirado do ar".

O ato de hoje foi chamado com o lema Chega de Silêncio, também em memória da estudante do curso de educação física Isadora, que cometeu suicídio em maio do ano passado após não se recuperar de uma tentativa de estupro sofrida três anos e meio antes, que a deixou em depressão.

Reitoria

Após o relato de dois estupros na semana passada, a reitoria da UFRRJ divulgou um alerta na quinta-feira (11) à comunidade universitária de Seropédica, onde informa que os casos foram "oriundos de carona oferecida dentro do campus" e recomenda "o máximo de cuidado com caronas de pessoas desconhecidas".

Segundo a reitoria, os dois casos foram registrados na 48ª DP e estão sendo acompanhados pela instituição.

No dia 10, a reitoria, que tomou posse no dia 27 de março deste ano, publicou um comunicado informando que "acompanha com preocupação a continuidade dos registros de ocorrências de violências em nossos campus" e que "prepara a adoção de providências a curto, médio e longo prazos, com vistas à construção de uma política institucional permanente de segurança, na qual estará prevista a participação de todos os interessados".

Destacando a dificuldade financeira "decorrente da política de contingenciamento dos recursos orçamentários adotada pelo governo federal", a reitoria informa que tomou seis providências em caráter emergencial: aquisição de dois tratores novos e de 25 roçadeiras costais para o serviço de poda; aquisição de lâmpadas e material elétrico; aquisição de um sistema de câmeras de filmagem para o monitoramento; acompanhamento dos casos de violência contra a mulher, com encaminhamento à delegacia, à rede pública de saúde e apoio psicossocial; apuração dos casos com abertura de sindicância e processos administrativos; negociação com a prefeitura para reconstrução da passarela da ciclovia.

Para médio e longo prazos, a reitoria indicou cinco ações: realização de audiências públicas esta semana nos campi de Seropédica, Nova Iguaçu e de Três Rios para discussão da proposta de Código de Conduta Discente; elaboração de uma política de acolhimento a pessoas em situação de violência; negociação com o município de Seropédica para a implantação de uma sede da Guarda Municipal próximo à ciclovia; reunião da reitoria com a Polícia Militar para discutir a adoção de medidas preventivas; e a proposta de debate com toda a comunidade universitária para a construção de uma Política Institucional Permanente de Segurança nos campus.

Para o movimento Me Avise Quando Chegar, as medidas são mínimas e vem com muito atraso.

"Coisas básicas como luz no campus não deveria ser nossa obrigação ter que cobrar. Estamos sim discutindo as medidas e reivindicando mais do que o básico, que não deveria nem ser cobrado. Os matos estão imensos, o caminho dos institutos do noturno estão com a maioria dos postes apagados a universidade esta abandonada", explica a estudante.

De acordo com ela, com a mudança de gestão há sempre a esperança de que as mudanças aconteçam, mas o movimento considera infeliz a manifestação da reitoria recomendando "o máximo de cuidado".

"É uma vergonha a universidade soltar uma nota após dois casos de estupro dentro do campus orientando as alunas a terem cuidado. A culpa não é da vítima, e jogar a responsabilidade pra nós é uma forma de nos culpar. Semana passada foram duas alunas estupradas e uma terceira vítima chegou a ser abordada na sexta feira. Ontem uma menina foi atacada nas redondezas da universidade. Esse são os casos confirmados só na semana passada! E sabemos que possivelmente o número seja maior, já que muita coisa não chega até nós," disse a estudante.

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