O presidente do PT, Rui Falcão: "Alguns sentam na cadeira antes da hora, o que revela até certa empáfia e arrogância" (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2016 às 17h41.
Brasília - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou nesta quinta-feira, 14, que o vice-presidente da República, Michel Temer, conspira e trai sua companheira de chapa, a presidente Dilma Rousseff.
Sem citar o nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Falcão disse ainda achar lamentável que o processo de impeachment seja conduzido por alguém que é réu de vários processos no Supremo Tribunal Federal (STF).
As declarações foram dadas em coletiva de imprensa na sede do partido em Brasília.
"Alguns sentam na cadeira antes da hora, o que revela até certa empáfia e arrogância, um desejo de ter o poder a qualquer custo", comentou.
Segundo ele, o recente áudio de Temer vazado pelo WhatsApp mostra que um dos primeiros pontos de um eventual novo governo seria impor sacrifícios à população.
Além disso, "há a suposição de que existem motivos sinistros por trás dessa tentativa de golpe, com expectativas de que as apurações (da Lava Jato) e o combate à corrupção sejam interrompidos".
"No vazamento do áudio (de Temer) não há nenhuma vez a palavra corrupção e todo dia a população fala nisso e quer que continue a se combater, como foi feito desde o começo do governo".
Falcão afirmou que Dilma é uma pessoa honesta e que lutou muito pela democracia, além de não ter cometido nenhum crime de responsabilidade.
O presidente do PT afirmou ser um erro acreditar que, ao se derrubar um governo democraticamente eleito, o País terá estabilidade, paz, segurança e desenvolvimento econômico.
"Ao contrário, quem não respeita o voto popular vai mergulhar o País no caos e instabilidade permanentes".
Em relação a Cunha, o presidente do PT criticou ainda supostas manobras do parlamentar para se livrar da condenação no Conselho de Ética.
"Existe alguém acusado de vários crimes no STF que no dia de hoje trocou um dos membros do Conselho de Ética para, com esse expediente, assegurar maioria e impedir que seja julgado pelos próprios pares."
Vitória
O presidente do PT afirmou também que não vai falar sobre contagem de votos para o processo de impeachment da presidente Dilma, mas que tem certeza de que o impedimento não será aprovado.
"Estamos às vésperas de uma data muito importante para o Brasil. Os deputados vão se pronunciar não só a respeito de um golpe, de um processo que tenta derrubar uma presidente eleita com 54 milhões de votos, mas sobre o futuro do País", afirmou.
"Há vários movimentos por todo o Brasil em defesa da democracia e contra o golpe. As vozes de milhões de pessoas vão ser ouvidas pela história e pelos parlamentares no domingo. Não creio que os deputados se deixarão levar por falsas tabelas que antecipam resultados", acrescentou.
Falcão disse que não se pode falar em "debandada" de partidos da base de apoio do governo, já que muitas bancadas estão divididas.
"Nós fizemos e estamos fazendo todo o possível até domingo. Pelo que eu vi, o governo indicou ontem que não tinha alcançado os 172 votos necessários para barrar o impeachment, mas a oposição também não tinha seus 342 votos. Estava difícil para eles e para nós. Eu não vou falar em contagem de votos, mas estamos seguros que a vitória será nossa".
O presidente do PT disse acreditar que, a partir de segunda-feira, a presidente Dilma vai comandar um novo governo, com uma maior participação do ex-presidente Lula.
Ele reconheceu que a administração Dilma cometeu erros, mas disse que isso não é motivo para impeachment e que é preciso preservar a democracia brasileira.
Pacto
Questionado sobre o "grande pacto" ao qual Dilma se referiu ontem, que poderia ocorrer após a reprovação do impeachment, Falcão afirmou que, mais importante que o reagrupamento de parlamentares, é o projeto de novas políticas econômicas e sociais e de aprofundamento da democracia que o PT deve apresentar.
"Em 2013, Dilma ouviu as vozes das ruas e esperamos que ela faça novamente isso agora, que coloque na ordem do dia a necessidade urgente de reforma no sistema político", comentou.
Falcão foi perguntado se o PMDB, ou ao menos parte dele, pode ser reincorporado ao governo caso o impeachment seja barrado, mas não respondeu claramente.
No caso de um eventual diálogo com a oposição, o presidente do PT disse que o partido está sempre aberto a essa possibilidade, "mesmo que atualmente a oposição trabalhe com a estratégia do 'quanto pior, melhor'", mas lembrando que qualquer colaboração ocorreria dentro das diretrizes do programa do PT.
Falcão afirmou que baixa popularidade não é motivo para impeachment e apontou que os índices de aprovação de Dilma têm melhorado gradativamente, graças a desdobramentos econômicos - como a queda da inflação - e com "a consciência da população de que o golpe vai gerar dificuldades maiores".
O presidente do PT afirmou que as ações junto ao Supremo Tribunal Federal se referem a questões processuais, não de mérito.
"Acrescentaram fatos ao processo (de impeachment) sobre os quais a presidente não pode se manifestar. Há um cerceamento do direito de defesa e do devido processo legal, o que é uma violação da Constituição", argumentou.
Perguntado se o PT não teme episódios de confronto durante a votação do impeachment, prevista para domingo, Falcão disse que o partido é contra a violência, depredações e intransigências, mas que nenhum militante vai abaixar a cabeça.
"Não há nenhuma denúncia de atitudes violentas por parte dos militantes do PT, mas o contrário tem ocorrido. Nenhum militante nosso vai abaixar a cabeça, vamos buscar temperança, diálogo".