Alexandre Kalil, (Prefeitura de Belo Horizonte/Divulgação)
Denyse Godoy
Publicado em 15 de novembro de 2020 às 23h26.
Última atualização em 15 de novembro de 2020 às 23h29.
A avassaladora votação que deu ao prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), a reeleição em primeiro turno neste domingo (15) pode fazer parecer que a administração da sexta maior capital brasileira nos últimos quatro anos foi fácil. Liderando as pesquisas eleitorais desde o início da campanha, Kalil obteve 63,36% dos votos válidos, derrotando 14 oponentes - um recorde -, inclusive Rodrigo Paiva (Novo), apoiado pelo governador Romeu Zema. Mas a cidade tem passado por maus bocados.
O janeiro de 2020 foi marcado por fortes enchentes na capital mineira, que recebeu naquele mês 935,2 milímetros de chuva, cerca de 60% do volume esperado para todo o ano, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). As assustadoras imagens das ruas inundadas de Belo Horizonte, onde morreram 13 pessoas, continuam muito vivas na lembrança dos moradores da cidade. Elaborado no começo dos anos 2000, o Plano Diretor de Drenagem Urbana apontou diretrizes para diminuir o risco de alagamentos na cidade, que foi crescendo ao longo das décadas sobre uma rede de córregos. Nenhum governante tomou providências para tentar resolver uma disfunção estrutural tão grave – nem Kalil.
A pandemia do novo coronavírus, maior desafio não só do Brasil mas do mundo inteiro em um século, continua assustando a capital mineira. Depois de entrar em tendência de queda em setembro, o contágio da covid-19 voltou a se acelerar. Na sexta-feira, o índice de transmissão da infecção subiu para 1,08 (cada 100 pessoas contaminadas passa a doença para 108), o mais elevado desde julho, colocando Belo Horizonte em estado de alerta. Segundo uma pesquisa do instituto Datafolha no começo de outubro, a saúde é a área mais problemática para 61% dos belo-horizontinos, seguida pela educação, para 41%, e pelo transporte coletivo para 37% (o levantamento permitia múltiplas respostas).
A economia tem sofrido menos, porém, do que no restante do Brasil. A taxa de desemprego em Minas Gerais subiu 20,2% entre maio e setembro, menos do que os 33,1% da média nacional, ajudando o prefeito de Belo Horizonte a manter sua popularidade alta. De acordo com o Datafolha, 60% dos moradores da cidade avaliam a gestão de Kalil como ótima ou boa, sendo que 27% a vêem como regular, 12% como ruim ou péssima, e 1% não opinou.
Um dos trunfos de Kalil na sua primeira eleição, pelo PHS, em 2016, foi se apresentar como um outsider, um não-político, estratégia usada por vários candidatos de todos os níveis na época. Continuar sendo visto assim também ajuda a explicar o sucesso de Kalil no atual pleito.
Kalil cursou a faculdade de engenharia, mas interrompeu o curso no quarto e penúltimo ano porque precisava trabalhar. Aos 61 anos, divorciado e pai de três filhos, é sócio de duas empresas de construção civil – uma delas, a Erkal, teve a falência decretada pela Justiça em 2016, mas a decisão foi revertida. O empresário ocupou vários cargos na administração do clube de futebol Atlético Mineiro, ficando na presidência entre 2009 e 2014. Nesse período, o Galo foi três vezes campeão mineiro, vice-campeão brasileiro (2012), campeão da Recopa Sul-Americana, da Copa do Brasil e da Copa Libertadores da América.
Rejeitando as táticas de marketing tradicionais, o prefeito de Belo Horizonte evitava aparecer sorrindo nas fotos de campanha e na propaganda na televisão desta vez – diz que, em um momento tão trágico para o país por causa da covid-19, pareceria desrespeitoso. Abusava da sinceridade ao fazer um balanço de seu primeiro mandato "A saúde em Belo Horizonte é uma porcaria. Mas é a melhor porcaria do Brasil", disse em um dos programas de TV. "Vão vir agressões, vai vir o que não foi feito. E é difícil mesmo. A gente só faz o que pode, mas não prometemos o que não podemos fazer", lascou em outro. "Todo mundo tá de saco cheio, todo mundo tá cansado, todo mundo tá estressado, mas nós vamos sair lá na frente", afirmou. Kalil investiu pesado em comunicação principalmente pelas redes sociais para fazer propaganda das suas realizações.
Com a popularidade em alta e citando a necessidade de isolamento social por causa da covid-19, o empresário realizou poucos atos públicos durante a campanha. Ficou, dessa maneira, protegido de embates com os adversários, que criticaram a ausência de obras para evitar novas enchentes, o isolamento da cidade dos governos estadual e federal, e sua atuação na pandemia. Paiva, do Novo, criticou a falta de debates com Kalil. No entanto, especialistas em política destacaram que não havia candidatos fortes o suficiente para oferecer ameaça a Kalil, e então o prefeito não precisou fazer grande esforço para vencer.