Balões: São Paulo e Rio de Janeiro respondem pela maioria dos casos (Dado Galdieri/Bloomberg)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de julho de 2017 às 09h42.
Sorocaba - A cada dia, pelo menos dois aviões encontram balões em suas rotas nos céus brasileiros. O Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) registrou alta de 52% no número de alertas sobre balões nos primeiros seis meses de 2017, em comparação com igual período de 2016.
Neste ano, houve 395 notificações desses artefatos próximos de aeronaves - média de 65,8 por mês -, ante 235 anotações no ano passado. O Estado de São Paulo responde por 60% dos casos. O Estado do Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, seguido pelo Paraná.
A Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil publicou comunicado em seu site, alertando para o crescente risco de balões provocarem uma tragédia aérea. "Estamos trabalhando na contramão do que sempre foi nossa cultura, tentando prevenir o risco antes que aconteça a tragédia. Não vamos deixar acontecer para depois tomar as providências", diz o porta-voz da entidade, comandante Bolívar Kotez. O impacto de um balão de grande porte, com estrutura metálica e barca para fogos de artifício, como os que costumam ser achados, pode derrubar até grandes aeronaves, como o Airbus A380 e o Boeing 747.
Segundo Kotez, os pilotos estão orientados a reportar para operadores de voo e outros pilotos sempre que observarem um balão na zona de navegação aérea. "O problema é que as grandes aeronaves se aproximam em grande velocidade e muitas vezes o piloto não visualiza o balão." Ele conta que, em um só dia, no mês passado, pilotos avistaram dois balões nas proximidades do Aeroporto de Cumbica. "Isso é frequente também no Rio e em BH. Só não tivemos um acidente grave por felicidade." Em 11 de junho, uma decolagem foi abortada do aeroporto de Curitiba, após avistar um balão sobre a pista.
A soltura de balões, quando interfere no tráfego aéreo, é crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo, conforme o Código Penal, com pena de 2 a 5 anos de reclusão. Já a Lei de Crimes Ambientais proíbe fabricar, vender, transportar e soltar balões que possam causar incêndio, prevendo detenção de 1 a 3 anos, e multa.
Em São Paulo, ainda conforme o Cenipa, os aeroportos mais sujeitos a esse risco são Viracopos, em Campinas, com 273 registros nos últimos quatro anos; Cumbica, em Guarulhos, com 265; seguido de Congonhas, na capital, com 142.
Vigias
Em Jundiaí, interior de São Paulo, a Guarda Civil Municipal montou um grupo com 30 agentes para, entre outras funções, caçar balões. Segundo o subinspetor Mauro Castro Júnior, há agentes com binóculos e câmeras instaladas no ponto mais alto da cidade para avistar balões. "O operador do monitoramento identifica o balão, passa as coordenadas para a patrulha em terra e a equipe faz o acompanhamento."
Só nos últimos três meses, cinco balões com mechas acesas foram apreendidos na área rural sem que causassem danos - o número não inclui casos urbanos, atendidos pelo Corpo de Bombeiros. "Eram todos muito grandes, acima de 14 metros, capazes de produzir incêndios. Apuramos que a maioria vem de cidades da Grande São Paulo, como Osasco e Guarulhos, e também de Campinas." Os agentes também usam as redes sociais para descobrir possíveis donos. "Muitos baloeiros se vangloriam do feito, postando fotos na internet."
Segundo Castro Júnior, a soltura de balões com fogo não se restringe à época junina. "Infelizmente acontece em qualquer tempo, principalmente em fins de semana. Em finais de campeonato, identificamos balões com bandeiras de times de futebol, mas há também pessoas que soltam para homenagear um filho que nasceu."
No momento atual, de estiagem, a atenção maior é com a Serra do Japi, ponto mais alto de Jundiaí, coberta com uma das maiores áreas de Mata Atlântica do interior. "A maioria dos incêndios na serra acontece pela queda de balões."
Pânico
A queda de um balão de 50 metros de altura com a bucha acesa atingiu seis casas e deixou em pânico os moradores do Jardim das Oliveiras, em Campinas, em fevereiro. O engenheiro Durval Domingues Nunes Filho, de 52 anos, conta que saía de casa quando viu a estrutura imensa encobrindo o imóvel. "Voltei correndo para desligar o sistema elétrico e vi que a boca do balão acesa tinha tombado sobre o meu telhado e de mais três casas. Usei uma mangueira de jardim para apagar parte do fogo, até a chegada dos bombeiros."