Geraldo Alckmin: entrevista no Jornal Nacional (29/8/2018) (TV Globo/Reprodução)
Guilherme Dearo
Publicado em 29 de agosto de 2018 às 21h23.
Última atualização em 29 de agosto de 2018 às 23h19.
São Paulo — O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, passou por uma sabatina na noite dessa quarta-feira (29) no Jornal Nacional. Os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos tentaram contemplar diversos temas durante a entrevista, como saúde, violência, habitação e transporte público, mas os casos de corrupção envolvendo o PSDB e seus aliados foram o centro do debate, tomando boa parte dos 27 minutos de entrevista.
Em várias situações, Alckmin se esquivou das perguntas sobre corrupção, o que fez Bonner e Renata insistirem seguidamente, voltando à pergunta inicial. Muitas vezes, Bonner e Alckmin se interrompiam e falavam ao mesmo tempo.
O candidato tucano foi questionado sobre o apoio do PTC de Fernando Collor ao PSDB e sobre a presença dos investigados Aécio Neves e Eduardo Azeredo (este último, também condenado) no partido. Alckmin respondeu que dá apoio total à Lava Jato e que espera que quem for julgado culpado seja punido.
Os apresentadores também lembraram o caso do Rodoanel de São Paulo, em que delatores de empreiteiras narram ter havido pagamento ao caixa 2 do PSDB. Alckmin também negou essas acusações.
Quando o assunto foi segurança pública, os apresentadores da Globo questionaram o fato de o PCC ter nascido em São Paulo e ter se espalhado pelo restante do Brasil e até para o exterior. Alckmin negou falha na política de segurança durante seu governo estadual, citando a queda nos números de assassinatos em São Paulo.
A já tradicional série de sabatinas começou nesta segunda-feira. Antes de Geraldo Alckmin, Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) foram entrevistados. A série termina amanhã (30) com a entrevista de Marina Silva (Rede).
A ordem foi determinada por sorteio e foram convidados, segundo a emissora, “os principais candidatos da pesquisa da semana anterior que estejam aptos a estar presencialmente no estúdio”. Isso exclui o candidato líder nas pesquisas de intenções de votos, Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, que está preso desde abril depois de ter sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.
Os candidatos participantes dessas sabatinas também devem ser, em seus respectivos dias, entrevistados um pouco mais tarde, às 22 horas, pelo programa Central das Eleições, transmitido pela Globo News.
Veja os principais pontos da entrevista que começou às 20h01, quando Alckmin foi chamado ao estúdio pelos apresentadores:
Renata Vasconcellos começou a entrevista falando de alianças políticas e lembrando que o PSDB fez alianças com partidos do chamado Centrão e que, neles, há 41 investigados pela Lava Jato.
Alckmin não comentou esse número, mas justificou as numerosas alianças como necessidade: "Fui buscar, no Progressistas, por exemplo, a senadora Ana Amélia, a mais respeitada mulher senadora da República. Temos bons quadros em vários partidos. Precisamos de maioria para fazer as mudanças de que o Brasil precisa. Prometer mudança sem maioria é conversa fiada".
Renata interrompeu: "Mas estamos falando dos investigados". "Os partidos têm bons quadros. Quem é investigado, vai responder por isso", rebateu Alckmin.
Renata, então, lembrou que um dos aliados de Alckmin nessa eleição é Fernando Collor do PTC. Ela leu a extensa ficha de Collor, mencionando o impeachment por denúncia de corrupção e o fato de ele ser réu na Lava Jato, acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Renata, mencionou, ainda, uma entrevista que Alckmin havia dado a ela de 2006: "Você me disse, naquela ocasião, que 'em política, é importante o diga-me com quem andas, e te direi quem és'. O senhor repetiria essa frase hoje, tendo Fernando Collor ao seu lado?".
"O PTC não me apoia. Ele apoia outro candidato. O PTC não está na minha coligação", respondeu Alckmin. O candidato reafirmou que defende a Lava Jato. Renata ainda voltaria ao assunto após alguns minutos, afirmando que, em Alagoas, o PSDB apoia o PTC e não tem candidato por lá. Alckmin voltou a negar que o partido de Collor pertença à sua coligação.
Bonner entrou na discussão sobre corrupção fazendo sua primeira pergunta. Ele observou que Alckmin tem, dentro do seu próprio partido, Aécio Neves e Eduardo Azeredo, ambos com envolvimento em casos de corrupção, sendo Azeredo foi condenado e cumpre pena. Lembrou, também, que há vídeos "eloquentes e explícitos" que comprometem Aécio Neves. "Como presidente do PSDB, por que o senhor não pediu a expulsão desses dois elementos do seu partido?", perguntou Bonner.
"Não passamos a mão na cabeça de ninguém. O Azeredo está afastado. Quem errou paga pelo erro", respondeu Alckmin. Bonner rebateu: "Mas ele continua integrando o partido. Não há constrangimento em manter Azeredo no partido? Preciso perguntar, a ética que o PSDB defende com tanta veemência e cobra de partidos adversários não vale para os tucanos do PSDB?".
Alckmin aproveitou para fazer uma referência discreta a Lula, cuja prisão é contestada pelo PT: "Vale sim. Não vamos à porta da penitenciária contestar a Justiça e não transformamos réu em vítima. Aécio foi afastado da presidência do partido. Só virei presidente do partido porque ele foi afastado. O Azeredo está afastado da vida pública há dez anos. O Azeredo vai pedir desligamento do partido em breve".
Bonner ainda disse a Alckmin que seu secretário de transportes, Laurence Casagrande, está preso, suspeito de fraude em licitação do Rodoanel em São Paulo. Alckmin respondeu que Laurence estava sendo injustiçado: "Espero que amanhã, quando ele for inocentado, haja espaço para a justiça. Ele é uma pessoa honesta. Ele leva uma vida simples".
Renata decidiu cortar o debate sobre corrupção e introduziu a pauta da segurança pública. Questionou que o PCC, criado em São Paulo, se expandira para outros estados e até para fora do país. "Em que a sua política de segurança falhou?", ela questionou. Alckmin negou que houvesse uma falha, dizendo que a política de segurança de São Paulo era um exemplo para o restante do País.
Renata rebateu dizendo que muitos especialistas atribuíam a queda no número de assassinatos ao domínio do PCC, que teria eliminado rivais e dominado o crime. Alckmin respondeu "Mas é inacreditável alguém dizer que 10 mil pessoas deixam de ser mortas por ano e que a culpa disso, ou melhor, a proposta disso é o crime que fez. Ele não, é a polícia que fez".
Bonner e Renata questionaram Alckmin sobre o fato de os líderes do PCC ainda comandarem a facção de dentro da cadeia, com bilhetes, por exemplo, plantados em privadas. Alckmin negou. "Isso aí são coisas que vão sendo repetidas e acabam virando verdade. Explica para mim: como é que no Brasil tem 30 homicídios por 100 mil habitantes e, no mesmo país, no país que tem a maior população, tem oito homicídios por 100 mil habitantes? Porque é lá que eles trabalham".
No um minuto extra concedido ao candidato para falar livremente sobre "qual é o Brasil ele quer para o futuro", Alckmin voltou a repetir um discurso genérico sobre a necessidade de "reformar" o País e usou apenas metade do tempo que tinha:
"O Brasil que eu quero para o futuro é um país de oportunidade, oportunidade para todos. O Brasil tem pressa e o Brasil precisa mudar, e ele, para mudar, precisa de reformas. Nós vamos fazer rápido as reformas que o país precisa. Para quê? Para ter emprego. O seu filho, o seu neto, você trabalhador, trabalhadora, ter oportunidade. O Brasil voltar a ser um país de oportunidade para todos e não deixar ninguém para trás. Por isso, com humildade, peço o seu apoio".