Alckmin e Doria (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de outubro de 2017 às 09h10.
São Paulo - Enquanto o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), enfrenta dificuldades para conseguir do governo federal a liberação de recursos para as obras do Rodoanel, o prefeito da capital, João Doria (PSDB), recebe de ministros a garantia de investimentos na administração municipal.
Após um jantar reservado de duas horas na terça-feira, 17, com o presidente Michel Temer, Doria disse que um dos temas tratados foi uma linha de crédito bilionária do BNDES para um programa de asfaltamento das ruas da cidade.
"Tratamos do empréstimo do BNDES para o asfalto no valor de R$ 1 bilhão, que vai sair. Está bem avançado. Vai ser aprovado antes do fim do ano e no começo do ano que vem (o programa) será colocado em prática", disse Doria à reportagem.
Do ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), o prefeito ouviu a promessa de liberação de R$ 162 milhões para a construção de 22 creches e três Centros Educacionais Unificados (CEUs) na cidade. No fim do encontro, Doria gravou um vídeo ao lado do ministro falando do investimento.
Na mesma linha, o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), prometeu liberar R$ 50 milhões para a construção de unidades habitacionais populares na capital. Em um vídeo ao lado de Doria, o titular da pasta confirmou o investimento e ainda elogiou o colega tucano: "É um prazer trabalhar com a equipe competente do prefeito".
A boa vontade da administração Temer não foi a mesma quando Alckmin esteve em Brasília na semana retrasada cobrando a parte do governo federal - R$ 620 milhões - nas obras do Rodoanel. Na ocasião, Temer "ficou de verificar" a situação e o Ministério dos Transportes não apresentou um cronograma de pagamento.
Em caráter reservado, aliados de Alckmin creditam a má vontade de Temer à decisão do governador de não mobilizar votos entre os deputados paulistas para barrar a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), por obstrução da Justiça e organização criminosa, contra o presidente no plenário da Câmara.
"O governador Geraldo Alckmin não se movimentou e não vai se movimentar para pedir votos aos deputados", disse o deputado Silvio Torres (PSDB), secretário-geral do PSDB e aliado do governador.
Questionado se Temer pediu ajuda na votação sobre a denúncia da PGR, Doria desconversou: "Não tratamos desse assunto. Não houve solicitação da parte dele, portanto não houve resposta ao que não foi solicitado".
A avaliação dos tucanos é de que Doria não tem a mesma influência na bancada que Alckmin, mas representa hoje um contraponto a seu padrinho político. Enquanto o governador, que é pré-candidato à Presidência da República, se movimenta com independência em relação ao Palácio do Planalto, o prefeito, que também pleiteia a vaga, se coloca como um aliado confiável e afinado com a ala governista do PSDB.
Doria é visto no PMDB e em parte do DEM como um potencial candidato à Presidência da situação em 2018. Já Alckmin espera disputar por seu partido, com apoio do PSB, com discurso de centro-esquerda e sem o selo de aliado de Temer.
Na disputa interna pelo controle do PSDB, Doria se reaproximou de Aécio Neves e alinhou-se com o grupo dos "cabeças brancas", que defende a manutenção da coalizão dos tucanos com Temer e o PMDB.
Para aliados do prefeito, a aliança com esse campo pode ser a única chance de Doria conseguir a indicação da legenda para disputar à Presidência no próximo ano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.