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Alckmin é quem mais ganha com saída de Barbosa das eleições, diz Sennes

Para sócio da Prospectiva, desistência de ex-ministro do STF não foi surpresa

Geraldo Alckmin, governador de SP e candidato à presidência em 2018 (Geraldo Alckmin/Facebook/Divulgação)

Geraldo Alckmin, governador de SP e candidato à presidência em 2018 (Geraldo Alckmin/Facebook/Divulgação)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 8 de maio de 2018 às 16h21.

Última atualização em 8 de maio de 2018 às 16h48.

São Paulo – Não foi com surpresa que Ricardo Sennes, sócio da consultoria Prospectiva, recebeu a notícia de que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa desistiu de concorrer à Presidência da República. Afinal, segundo ele, as chances de que a candidatura do ex-ministro vingasse já eram baixas graças a uma falta de consenso entre as lideranças do PSB — partido ao qual Barbosa se filiou há um mês.

A tendência, na visão do cientista político que também é colunista de EXAME, é de que a legenda procure firmar uma aliança com outro partido. Nesse sentido, na visão dele, o PSDB de Geraldo Alckmin seria o mais forte candidato para esse acordo já que Márcio França, atual governador de São Paulo, declarou seu apoio à candidatura do tucano.

Mesmo assim, Sennes não descarta uma revisão do posicionamento de Barbosa – embora considere essa possibilidade remota. Veja, abaixo, trechos da entrevista que ele concedeu a EXAME minutos depois do anúncio da desistência do ex-ministro do STF.

EXAME: Qual era a real situação de Barbosa dentro do PSB?

Ricardo Sennes: O PSB estava muito rachado. Primeiro, porque o Joaquim Barbosa não é uma figura tradicional do partido. É natural que um sujeito que se filia no último momento com a única cartada de ser presidente da República entre com dificuldade.

A outra questão é que, historicamente, o PSB tem ao menos três grupos: um mais próximo da figura de Eduardo Campos [morto em 2014] em Pernambuco e entorno; outro mais moderado e favorável a alianças, que tem Márcio França como a figura mais proeminente; e ainda um representado pelo presidente do PSB [Carlos Siqueira] de orientação mais nacionalista. Esses três grupos não convergiam para a candidatura de Barbosa, que era um projeto mais do presidente do partido.

Além disso, qualquer candidato nacional precisa fazer sentido para os candidatos ao governo dos estados. Sem essa coordenação, não se tem uma relevância importante mesmo que seja competitivo. Figuras de salvador da pátria são a exceção, não a regra. A regra é briga partidária forte entre várias lideranças. É custoso, é complicado, mas tem a ver com a democracia.

O PSB tem outras lideranças nacionais com a força que teria Joaquim Barbosa? 

Não. Se não consolidar de fato a candidatura do Joaquim Barbosa, a tendência [do partido] é buscar uma aliança. O Márcio França já disse q a aliança dele é com [Geraldo] Alckmin. Como ele é candidato a governador do principal estado do país, com alguma chance de reeleição e uma máquina gigantesca na mão, há uma chance do PSB se coligar com o PSDB ou, em segundo plano, ao Álvaro Dias (Podemos). Mas eu só tomaria cuidado para saber se essa decisão do Barbosa é de fato definitiva. Eu não descartaria uma revisão desse posicionamento pois há a possibilidade de um processo de barganha em andamento.

Qual é a chance de essa decisão ser revista?

A nossa visão é de que a chance do Barbosa ser candidato do PSB já não era grande. Não me surpreende ele ter desistido. Ele não é um cara fácil, é difícil você bancar uma candidatura nacional com características como essa. É muito risco para a liderança do partido jogar muito poder na mão de um cara desse. A vantagem para o Joaquim Barbosa de ter um partido como o PSB é que ele sairia com uma estrutura mínima, a desvantagem é que ele tem que negociar com muita gente. Não é igual ao Bolsonaro que entrou no PSL atropelando todo mundo.

Há alguma chance de o PSB compor com a Rede, de Marina Silva?

Não me parece ser uma estratégia fácil de ser adotada. O PSB é um partido de tamanho médio, que cresceu nos últimos anos, tem cinco governadores. Ou seja: não é nanico como a Rede ou como o PSL do [Jair] Bolsonaro, ou mesmo como o Novo do [João] Amoêdo. É um partido com uma certa presença no cenário político.

Qual foi o saldo da eleição de 2014 para a relação entre PSB e o grupo que hoje lidera a Rede?

Guardadas as proporções, o Eduardo Campos estava para o PSB mais ou menos como o Lula estava para o PT. Em 2014, o PSB era o único partido médio com um projeto realmente capaz de fazer alianças nacionais prevalecerem sobre as estaduais. Com a morte do Eduardo Campos, a Marina herdou uma fração pequena do PSB. O partido animou um pouquinho quando ela subiu nas pesquisas, mas ela não soube ter uma interlocução. O saldo não foi muito positivo.

A Marina é uma liderança sem estrutura. Ter ela como aliada é um risco já que ela pode mudar de ideia de uma hora para outra. Por outro lado, a Marina é uma boa candidata a vice porque a imagem dela certamente agrega. Mas, como o PSB não tem candidato a vice, faria mais sentido ao partido se aliar ao Alckmin.

Então, quem mais ganha com essa desistência é o PSDB, de Alckmin? 

Sem dúvida. A tese que temos defendido é de que o Alckmin vai montar a grande coalizão de centro-direita.  A tendência do PSB está indicando essa linha.

Ricardo Sennes, sócio da consultoria Prospectiva no Exame Fórum, dia 4 de setembro de 2017

Ricardo Sennes, sócio da consultoria Prospectiva (Germano Lüders/Site Exame)

 

 

 

 

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