Represa de Jaguari, administrada pela Sabesp, é vista com baixo nível de água, em Bragança Paulista (Paulo Fridman/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2014 às 21h35.
São Paulo - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou nesta quarta-feira, 19, que o problema vivido na reserva do Cantareira é "algo excepcional", resultado de ciclos climáticos "totalmente irregulares". Segundo ele, apesar de o reservatório do sistema Cantareira estar com 14,7% de sua capacidade, outros sistemas "estão na faixa dos 90%". "Isso mostra como esses ciclos estão irregulares", afirmou.
Segundo o governador, a mesma situação vivida no Estado acontece no restante do Brasil. "Lá em Rondônia e no Acre há excesso de água, calamidade pública pelas enchentes, e o Sudeste está sofrendo com uma seca que é a mais grave dos últimos 80 anos", disse.
Alckmin anunciou em coletiva no Palácio dos Bandeirantes o projeto de interligação das represas de Jaguari e de Atibainha, que deve começar em três meses, levar 14 meses para ser concluída e tem custo estimado em R$ 500 milhões.
Será necessária a obtenção de licitação, outorga do Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) e licenças ambientais. O projeto será executado integralmente com o dinheiro do governo do Estado."O que as mudanças climáticas estão recomendando é que a gente tenha o máximo de segurança hídrica e, para isso, é preciso interligar os sistemas".
A proposta do governo é estabelecer uma "regra operadora" na interligação. "Toda vez que o Cantareira baixar a 35% (de sua capacidade), você pega água do Jaguari. O inverso também vale", afirmou.
Alckmin disse ainda que o sistema Cantareira chegou a ter capacidade de 100% entre 2010 e 2012 e foi preciso "abrir as comportas" e despejar a água excedente. "O que nos estamos fazendo não é pra já. O que estamos fazendo é uma interligação de bacia e reservatórios para os outros anos. Para buscar um sistema mais seguro e equilibrado".
Alckmin negou que a proposta seja uma transposição. "Não é transposição, não vamos tirar nenhuma água do rio Paraíba para transpor para outro rio, vamos interligar dois reservatórios, com sistema de bombeamento recíproco, um socorre o outro." Em sua explicação de como funcionará o projeto, no entanto, o diretor de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp, João Paulo Tavares Papa, afirmou se tratar sim de uma transposição.
Relações estaduais
O governador disse ainda que conversou com governadores de Minas Gerais, Antônio Anastasia (PSDB), e do Rio, Sergio Cabral (PMDB), sobre o projeto. "O governador de Minas foi muito favorável. O governador do Rio entendeu."
Segundo Alckmin, Cabral disse "estamos conversados" e afirmou que o assunto agora estaria entre as equipes técnicas nos dois estados. Questionado se teria convencido Cabral da retirada de água do Jaguari, Alckmin afirmou: "Mas é claro. E espero que convença a todos, porque é uma medida de interesse público", disse. Após o anúncio, Cabral negou que já tenha autorizado a obra e disse ter pedido uma análise técnica ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e ao secretário estadual do Ambiente, Índio da Costa (PSD).
Alckmin disse ainda que já recebeu uma sinalização de apoio da ANA ao projeto. "Como envolve a questão elétrica, já protocolamos uma consulta na ANA e outra na Aneel", disse. "Da ANA já recebemos uma nota de apoio".
Segundo o governador, a conversa dessa terça-feira, 18, com a presidente Dilma Rousseff, em Brasília, para tratar do projeto foi "técnica e de alto nível". "A presidenta conhece o problema. O Brasil está vivendo excesso de chuva no Norte e seca no Sudeste, isso tem impacto nos alimentos, tem impactos na agricultura, na eletricidade, e na questão hídrica", reforçou.
Hoje, durante eventos no Ceará, a presidente Dilma "pediu ajuda" a São José para resolver os problemas atuais. "Estamos comemorando o dia do santo protetor do Ceará e peço que ele proteja também um pouquinho um lugar tão grande como o Brasil, em que de um lado chove muito e do outro chove pouco. Pedimos para que São José nos dê uma forcinha", disse Dilma.