Brasil

Alarmes falsos de ebola são inevitáveis, diz especialista

Após falsa suspeita de ebola no Paraná, infectologista afirma que outros casos como esse devem acontecer

Voluntários chegam para recolher corpos de vítimas do ebola, em Freetown, Serra Leoa (Florian Plaucheur/AFP)

Voluntários chegam para recolher corpos de vítimas do ebola, em Freetown, Serra Leoa (Florian Plaucheur/AFP)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 16 de outubro de 2014 às 16h00.

São Paulo - Diante de uma epidemia de ebola que já matou mais de 4,4 mil pessoas em países africanos, alarmes falsos da doença no Brasil são inevitáveis, afirma o infectologista Jessé Reis Alves, do Comitê de Medicina de Viagem da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Na manhã desta quinta-feira, uma unidade de saúde em Foz do Iguaçu, no Paraná, chegou a ser isolada devido a uma suspeita de ebola. A informação inicial era de que um paciente que havia passado por Serra Leoa apresentava febre. Mais tarde, confirmou-se que o paciente não esteve em nenhum país da África e a suspeita foi descartada.

“Alarmes falsos vão acontecer, até com mais frequência. Com isso, a única forma de evitar pânico é com capacitação de profissionais e informação à população”, afirma Alves.

O infectologista reforça que não há motivo para desespero. Afinal, a doença não é transmitida pelo ar. No caso de suspeita, apenas pessoas que tiveram contato próximo com o doente devem procurar orientação.

Crispim Cerutti Júnior, epidemiologista e professor da Universidade Federeal do Espírito Santo (Ufes), tem a mesma avaliação: “As autoridades de saúde concordam que o ebola não vai chegar às ruas. A população em geral não tem o que temer”, afirma.

Há casos registrados da doença em sete países (Libéria, Serra Leoa, Guiné, os mais afetados, assim como Nigéria, Senegal, Espanha e Estados Unidos). "O fato de ter alguns casos que se descolam da África para outros lugares é algo esperado. É uma consequência do fluxo global que temos hoje", diz Cerutti. 

Um outro caso suspeito no Brasil já havia sido identificado no Paraná, na cidade de Cascavel. O paciente que vinha da Guiné foi internado com febre. A suspeita também foi descartada depois de feitos os exames.

Os especialistas ouvidos por EXAME.com concordam que as medidas tomadas pelo governo brasileiro para controlar possíveis casos de ebola são adequadas. “O sistema de vigilância no Brasil é bom. Já passamos por outras emergências em saúde pública e sabemos lidar com isso”, diz Cerutti Júnior.

Eles lembram ainda que o Ministério da Saúde tem feito reuniões periódicas com centros de controle para orientar os profissionais e monitorar a situação.

“As pessoas especulam sobre fazer monitoramento de temperatura nos nossos aeroportos. Isso não tem uma eficácia adequada. Acredito que seria uma ação mais política do que algo com efeitos práticos”, argumenta Cerutti.

Jessé Alves, da SBI, explica que medidas como esta fazem mais sentido em países que recebem voos diretos dos países com epidemia ou ainda nos locais em que há surto da doença. “Faz mais sentido fazer essa medição nos aeroportos dos países africanos, para que as pessoas não viajem doentes”, argumenta.

O escaneamento de temperatura serviria para identificar pessoas com febre, um dos sintomas do ebola. “Imagine se formos fazer uma triagem em todos que chegarem com febre nos aeroportos. Não faz sentido”, afirma.

Além de febre, os sintomas da doença são dores de cabeça e garganta, dor muscular, vômito, diarreia e fraqueza. Em casos graves, o doente pode apresentar ainda erupção cutânea, deficiência renal e sangramento. A doença é transmitida pelo contato com fluidos corporais, sangue e secreções de pessoas contaminadas.

Acompanhe tudo sobre:DoençasEbolaEpidemias

Mais de Brasil

Secretário-geral da ONU pede "espírito de consenso" para G20 avançar

Paes entrega a Lula documento com 36 demandas de prefeitos do U20

Varredura antibomba e monitoramento aéreo: chegada de chefes de Estado para o G20 mobiliza segurança