Brasil

Ala do PSOL se desfilia em meio a críticas de aliança com Lula e Alckmin

Em carta, grupo anuncia saída da legenda e diz que direção da sigla só pensa salvar o acesso ao fundo partidário e disputar as eleições

PSOL: os agora ex-filiados lembram que a fundação do PSOL, 2004, foi uma forma de "rechaçar o colaboracionismo de classes e apoiar as lutas dos trabalhadores", em referência ao governo do então presidente Lula (Victor Moriyama/Bloomberg)

PSOL: os agora ex-filiados lembram que a fundação do PSOL, 2004, foi uma forma de "rechaçar o colaboracionismo de classes e apoiar as lutas dos trabalhadores", em referência ao governo do então presidente Lula (Victor Moriyama/Bloomberg)

AO

Agência O Globo

Publicado em 1 de junho de 2022 às 14h17.

Última atualização em 1 de junho de 2022 às 14h22.

Um grupo de 139 integrantes do PSOL, entre eles Plinio de Arruda Sampaio Júnior, anunciou a desfiliação em massa da sigla nesta quarta-feira. O comunicado foi feito por meio de uma carta intitulada "Ruptura com o PSOL" e publicada em um site próprio. Nela, os ex-filiados chamaram de "golpe irreparável" a adesão da legenda à chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) e a formação de uma federação com a Rede.

"Em 2022, a direção do partido traiu as deliberações do congresso [do PSOL] e acatou uma chapa de frente com inimigos históricos da classe trabalhadora; além disso, deliberou, sem nenhuma discussão com a base militante, uma federação partidária com a Rede Sustentabilidade, partido ecocapitalista financiado pelo grande capital, que cooperou com inúmeras contrarreformas, como a reforma da Previdência, e que se posiciona contrariamente às pautas históricas do feminismo", diz o documento, que ainda acrescenta: "Entendemos que o giro político e ideológico que representa a adesão à candidatura Lula-Alckmin e à federação com a Rede representa um golpe irreparável ao projeto original e aos militantes que construíram o partido como um instrumento de luta dos trabalhadores."

No texto, dividido em 20 tópicos, os agora ex-filiados lembram que a fundação do PSOL, 2004, foi uma forma de "rechaçar o colaboracionismo de classes e apoiar as lutas dos trabalhadores", em referência ao governo do então presidente Lula.

LEIA TAMBÉM: Lula afirma que custo do combustível dolarizado não é real

"O PSOL nasceu, portanto, como resultado da resistência militante ao projeto petista de adequação à ordem burguesa. Rompemos com o PT não só com a sigla, mas também com a política de 'conciliação' de classes, de apaziguamento das lutas sociais, de rebaixamento do projeto político, de ataques aos direitos dos trabalhadores, de repressão aos movimentos sociais, de despolitização dos trabalhadores e de sujeição e adentramento total na política de cooptação, seja do Estado, seja do governo, dos quadros e lideranças políticas", diz o documento.

O texto também faz uma série de críticas à direção do PSOL, hoje representada pelo seu presidente, Juliano Medeiros. Diz, em um dos trechos, que a cúpula pensa apenas em salvar o acesso ao fundo partidário e disputar a representação parlamentar no que chamam de "instituições burguesas". Também afirma que a direção foi se adaptando "progressivamente" aos "parâmetros da institucionalidade burguesa" e, como consequência, o espaço para a defesa do socialismo foi sendo "gradativamente banido do debate interno".

De acordo com o grupo, o PSOL que foi construído ao longo desses anos foi "destruído" e se perdeu definitivamente a possibilidade de "estabelecer estratégias e táticas indispensáveis" a um partido que luta pelos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora.

"Somos conscientes de que o PSOL ainda conta com uma militância aguerrida e comprometida com a luta dos trabalhadores, mas nosso tempo no PSOL acabou. Estamos certos de que nos encontraremos mais à frente, fora das amarras dos partidos burgueses. Saímos do partido de cabeça erguida e sabendo das nossas tarefas. A primeira delas é a necessária e urgente superação do programa democrático popular." Procurado, o PSOL não quis se manifestar.

LEIA TAMBÉM

Acompanhe tudo sobre:Eleições 2022Geraldo AlckminLuiz Inácio Lula da SilvaPolíticaPSOL – Partido Socialismo e Liberdade

Mais de Brasil

Justiça nega pedido da prefeitura de SP para multar 99 no caso de mototáxi

Carta aberta de servidores do IBGE acusa gestão Pochmann de viés autoritário, político e midiático

Ministra interina diz que Brasil vai analisar decisões de Trump: 'Ele pode falar o que quiser'

Bastidores: pauta ambiental, esvaziamento da COP30 e tarifaço de Trump preocupam Planalto