Lula e militantes em São Bernardo do Campo: o Washington Post pergunta se o Brasil poderá, finalmente, "seguir em frente" (Ricardo Stuckert/Lula/Facebook/Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 6 de abril de 2018 às 16h17.
Última atualização em 6 de abril de 2018 às 17h44.
São Paulo — Onde o poder de Lula de influenciar a opinião pública terá mais força: na cadeia ou na corrida eleitoral? É isso o que pergunta o jornal americano Washington Post na coluna "Quick Take", escrita em parceria com a agência de notícias Bloomberg.
Em dois textos, publicados ontem (5) e hoje (6), jornalistas dos dois veículos tentam clarificar a confusa situação da política brasileira aos leitores americanos.
O País vive momentos de tensão após o juiz federal Sérgio Moro ter emitido, ontem, ordem de prisão ao ex-presidente Lula, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Moro deu prazo até as 17h desta sexta-feira para que o ex-presidente se apresentasse voluntariamente à sede da Polícia Federal em Curitiba.
"Quão confusa a coisa pode ficar?", chega a indagar um dos textos.
Na primeira análise, o jornal se pergunta como mesmo um político julgado e preso pode mexer por completo o cenário da eleição de 2018.
O jornal considera a candidatura de Lula altamente improvável por conta da Lei da Ficha Limpa. Mesmo que ele conseguisse se candidatar oficialmente até 15 de agosto, o Tribunal Superior Eleitoral poderia impugnar a candidatura. Nesse caso, ele ainda poderia apelar no STF.
O jornal se pergunta "quão feia a coisa pode ficar" em um cenário um tanto confuso: Lula consegue concorrer à presidência mesmo na cadeia e vence. Depois, poderia ter a candidatura invalidada. O jornal considera esse cenário altamente improvável. Considera que haverá transparência eleitoral e juízes decidirão o destino da candidatura de Lula antes do resultado final nas urnas.
Na segunda análise do jornal, os jornalistas se perguntam se, com a prisão de Lula, o Brasil poderá finalmente "seguir em frente" ("move on"), deixando para trás a fase de tensão política. O texto também se pergunta se o Brasil pode "recuperar a sua mágica" algum dia.
O texto relembra como o País se transformou. Em 2009, com Lula presidente, o pré-sal era o passaporte para o futuro, as Olimpíadas de 2016 e a Copa do Mundo de 2014 estavam no horizonte e a crise econômica mundial era apenas um "soluço" para a economia brasileira, efervescente por conta da alta dos preços das commodities.
Quase dez anos depois, Lula é condenado, a taxa de desemprego se mantém nos dois dígitos e o País volta aos poucos de uma dura recessão. Do sonho, foi ao pesadelo.
Segundo o jornal, o governo Temer pode tentar melhorar a economia brasileira através de micro-reformas, mas lembra que as grandes reformas precisam do Congresso e que sua tentativa de aprovar a reforma da Previdência falhou. O texto também lembra que o governo tem aprovação abaixo dos 10%, o que dificulta qualquer plano de sair do papel. E observa que o próprio Temer está próximo de ser investigado sob suspeita de corrupção.
O histórico do Brasil de alternar momentos de boom econômico com graves crises não passou despercebido pelo jornal. Segundo ele, isso ocorre por aqui "desde 1822".