Presídio: Nove pessoas foram assassinadas no dia 1º, em Goiânia (Wilson Dias/Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 08h05.
Brasília - Detentos do Presídio de Aparecida de Goiânia, em Goiás, onde nove pessoas foram assassinadas no dia 1º, relataram nesta quarta-feira, 3, a autoridades do Poder Judiciário e do Ministério Público que os agentes não têm controle sobre a cadeia.
Em vistoria determinada pela presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, juízes e promotores ouviram de presos que esse controle pertence a internos das alas B e C, as que entraram em choque e cometeram os assassinatos. A inspeção teve a presença do presidente do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), desembargador Gilberto Marques filho, além do procurador-geral de Justiça, Benedito Torres Neto, e do superintendente da Administração Penitenciária, coronel Edson Costa Araújo.
Três detentos da Ala C disseram desconhecer o motivo do ataque, mas reconheceram disputa entre grupos. Para as autoridades, não admitiram a existência de facções, e falaram em descontentamento com a superlotação do local, além da demora na análise de processos.
Outros três homens, da Ala D, confirmaram a tensão pela superlotação e falaram de problemas recorrentes de falta de água e energia. Sobre as mortes, narraram que "tudo começou com uma ala atacando a outra". Disseram ainda que as duas alas "disputam o comando da cadeia e há duas facções por trás, mas não as nominaram". Como o jornal O Estado de S. Paulo mostrou nesta quarta, a suspeita é de disputa entre Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).
Os detentos disseram ainda que muitos colegas fugiram por medo ao escutarem tiros, mas "que muitos querem cumprir a pena". "Insistiram no medo e contaram que sequer conseguem dormir, pois não fazem parte de disputas, mas temem ser atacados a qualquer momento", descreve a inspeção.
A iniciativa terminou com a sugestão de uma força-tarefa para analisar processos de presos. O governador do Estado, Marconi Perillo (PSDB), telefonou para Cármen Lucia, para agradecer a interferência dela, e reclamou tanto do Judiciário de Goiás quanto do governo federal. Segundo ele, a ministra pensa em ir pessoalmente ao Estado.
Em nota no site da secretaria, o coronel Edson Costa disse que os presos informaram que "a rebelião é consequência da morte de Thiago César de Souza (o Thiago Topete), em fevereiro do ano passado". A pasta, em nota oficial, admite problemas estruturais e cobra "sensibilidade" do governo federal para obter mais recursos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.