Rio: a guia turística Rosangela Renones Cunha estava no carro com Maria Esperanza Ruiz Jimenez (Ricardo Moraes/Reuters/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de outubro de 2017 às 21h03.
Rio - A empresa de turismo que ofereceu o passeio na Favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, à turista espanhola María Esperanza Jiménez Ruiz, de 67 anos, pode ser responsabilizada pela morte dela, que aconteceu nesta segunda-feira, 23.
"Por enquanto, os depoimentos foram tomados com o objetivo de esclarecer o homicídio em si, quem atirou, em quais condições. Mas vamos analisar se a empresa de turismo também pode ser responsabilizada", afirmou a delegada Valéria Aragão, da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat).
Segundo a polícia, a agência que ofereceu o passeio é espanhola e contratou uma locadora de carros, com motorista italiano, e uma guia turística brasileira para orientar o passeio. Nenhuma das empresas envolvidas teve o nome divulgado.
Segundo a delegada, os turistas tinham consciência de que visitariam uma favela, mas interpretaram que, estando "pacificada", a comunidade não oferecia riscos.
"Eles viram policiais militares circulando e conversando, e isso acabou tendo efeito contrário: acharam que era um sinal de tranquilidade e se sentiram mais seguros", afirmou a delegada.
Segundo ela, quando ouviram os tiros - disparados pelos PMs - a reação foi tentar sair do local. "Eles ouviram tiros, e a postura imediata foi acelerar."
Valéria destacou a necessidade de os agentes de turismo explicarem aos turistas as reais condições das favelas do Rio.
"Quem mora na favela não tem como fugir dos eventuais riscos representados pela violência, tem que circular por ela. Mas o turista precisa ter noção da situação, antes de escolher entre visitar ou não uma comunidade", afirmou.
Já o delegado Fabio Cardoso, da Delegacia de Homicídios, disse que a turista espanhola foi baleada após o passeio na Rocinha. O carro em que ela estava descia o morro e passava pelo Largo do Boiadeiro quando foi alvejado nos vidros traseiros e no para-choque por policiais militares.
Segundo Cardoso, nenhuma das pessoas que ocupavam o carro viu qualquer barreira policial nem identificou ordem para que o veículo parasse - segundo a PM, os policiais atiraram no automóvel porque este furou um bloqueio no local.
"O fato é que as pessoas que estavam nesse carro, o motorista, a guia, os dois espanhóis (irmão e cunhada de María Esperanza) não viram, não puderam perceber ou avistar nenhum tipo de blitz, operação policial, barreira ou ordem de parada", disse Cardoso.
Ele não confirmou se os policiais envolvidos no episódio já estão detidos e disse apenas que suas armas foram apreendidas.
A turista morreu antes de chegar ao Hospital Municipal Miguel Couto. Ela foi alvejada na região do pescoço, provavelmente por uma bala de fuzil. Segundo Cardoso, imagens de câmeras de vigilância serão analisadas.
Foram ouvidos na Deat a guia e o motorista. Os policiais também serão interrogados. O cônsul espanhol no Rio, Manuel Salazar, acompanhou os depoimentos na delegacia e está prestando assistência aos familiares de María Esperanza. Ainda não há informações sobre o traslado do corpo.
O motorista Carlo Zanineta é italiano, mas vive no Rio, segundo a Deat. Ele presta serviço para a empresa de aluguel de veículos que foi contratada por uma agência estrangeira. A guia, Rosângela Reñonez, é brasileira e trabalha como freelancer.