Presidente Dilma Rousseff (PT) durante um ato com movimentos sociais de apoio a sua candidatura, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2014 às 17h24.
Brasília - A presidente Dilma Rousseff, que concorre à reeleição pelo PT, tem a difícil tarefa de bater seu adversário no segundo turno da eleição presidencial, Aécio Neves (PSDB), nos debates de TV dos próximos dias para interromper a onda favorável ao tucano que ganhou força depois do dia 5.
Para Dilma, o bom desempenho nos confrontos diretos com o tucano é mais valioso do que para Aécio, na avaliação de analistas ouvidos pela Reuters.
Na campanha petista, essa é uma das apostas para reacender o ânimo da militância e dar mais confiança à própria candidata. O primeiro debate é nesta terça-feira, na Band TV, e o segundo no SBT, na quinta-feira.
"Agora é mais militância na rua e um bom desempenho da presidente nos debates, que é o que estamos prevendo", afirmou o presidente do PT e coordenador da campanha, Rui Falcão, na segunda-feira.
Na disputa de três semanas de campanha no segundo turno, Dilma começou patinando, e Aécio teve uma primeira semana acima de suas próprias expectativas, acumulando apoios de vários partidos, de Marina Silva e da família de Eduardo Campos, candidato do PSB que morreu tragicamente em um acidente aéreo durante a campanha eleitoral.
Esses apoios deram força ao discurso do candidato do PSDB, que tem se apresentado como representante do desejo de mudança dos brasileiros e, agora, conseguiu reunir quase todos os outros projetos de oposição do primeiro turno.
Para o cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília, Dilma precisa sair vencedora desses debates, mas o escândalo da Petrobras dificulta isso.
"É crucial para ela (vencer os debates) para tentar a retomada, mas o problema é que eles (do PT) estão desesperados com o escândalo da Petrobras", argumentou.
Desde a semana passada, a campanha petista enfrenta mais denúncias a serem respondidas.
Após vazamento de alguns trechos, a Justiça Federal divulgou áudios do depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa detalhando um suposto esquema de pagamento de propina envolvendo a estatal que teria abastecido os cofres do PT, PP e PMDB.
Para o cientista político Benedito Tadeu Cesar, do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais (Inpro), esse cenário de pressão pode encorajar Dilma.
"A Dilma costuma ir melhor sob pressão. Ela não é muito boa em debates, mas quando está sob pressão me dá a impressão que ela se sai melhor", afirmou Tadeu Cesar.
Uma outra fonte da campanha ouvida pela Reuters, que também aposta que Dilma pode retomar o favoritismo no segundo turno por intermédio dos debates, lembra do embate com o candidato José Serra, do PSDB, em 2010 no primeiro confronto do segundo turno.
À época, o clima na campanha petista era de incerteza depois que a disputa não foi vencida no primeiro turno por uma margem pequena de votos e se temia uma virada de um candidato mais experiente sobre Dilma, uma novata em disputas eleitorais.
A presidente entrou no debate com um tom forte, que assustou Serra, o chamou de "Serra mil caras", impôs o ritmo do jogo e saiu claramente como vitoriosa da disputa.
Estratégia
Mas há dúvidas entre os analistas se Dilma deve adotar a mesma postura de ataque nesta eleição, muito mais disputada e com um cenário econômico bem mais difícil do que em 2010.
"Agora é um pouco diferente, o ambiente e o debatedor", disse Fleischer. "Ele é um político muito diferente do Serra, é um mineirinho que gera simpatia. A Dilma vai ter que tomar cuidado para apertar o Aécio", acrescentou.
A julgar pelas recentes entrevistas da presidente, no entanto, ela parece disposta a partir para o ataque contra o adversário tucano.
Na segunda-feira, em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada, Dilma citou problemas na prestação de contas de Aécio quando ele era governador de Minas Gerais, criticou a gestão econômica do governo do PSDB e do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que foi anunciado como futuro ministro da Fazenda de Aécio, caso ele vença as eleições, e estava afiada para comparar os projetos diferentes de PT e PSDB.
"O problema do discurso dela é se ela assumir uma postura arrogante e soberba. Essa postura atrapalha a Dilma e não sei se ela consegue fazer coisas diferentes. A soberba faz parte dela, é difícil o marqueteiro mudá-la", avaliou Fleischer.
Tadeu Cesar também avalia que Dilma deve tomar cuidado com a postura de ataque. Segundo ele, a presidente deveria ter uma postura mais estratégica para delimitar o eleitorado que foi beneficiado pelas políticas de governo e, com isso, garantir esses votos.
"Me parece que a possibilidade de crescimento do PT é demarcar muito bem os campos. O campo do Aécio tem uma coisa ideologicamente definida, mas tem muito do entusiasmo", argumentou.
Segundo Tadeu Cesar, o tucano consegui atrair também aqueles que ascenderam e não estão satisfeitos com serviços públicos, que estão sendo conquistados pelo discurso de renovação.
"Ela precisa demarcar esse terreno para recuperar parte desse eleitorado, mas sem hostilização", disse Tadeu Cesar. "Para ele, se sair com um empate do debate não é ruim."