ACM Neto: Aos 37 anos, ele comandará a prefeitura da capital baiana por mais quatro anos / Saulo Kainuma
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2016 às 17h23.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h29.
Camila Almeida
Aos 37 anos, ACM Neto (DEM) é considerado um dos prefeitos mais bem avaliados do Brasil: 86% dos moradores de Salvador consideram sua gestão boa ou ótima. Nas pesquisas eleitorais, aparece com 69% das intenções de voto, o que garantiria sua reeleição logo no primeiro turno. A seu favor, pesa o sobrenome. É neto do ex-governador e senador Antônio Carlos Magalhães, um dos mais emblemáticos políticos da história da Bahia, e sobrinho do ex-deputado federal Luís Eduardo Magalhães. Com 13 partidos políticos em sua coligação, quer buscar nas eleições “a maior bancada que a Câmara de Vereadores já viu”.
Sob críticas de que sua gestão deu prioridade demasiada a obras de embelezamento e não ofereceu espaço para o diálogo, o prefeito, que dobrou seu patrimônio nos últimos quatro anos – de 13,3 milhões de reais em 2012, foi para 27,8 milhões em 2016 –, é acusado de ter governado para os ricos. Em entrevista a EXAME Hoje, ACM Neto falou do bom momento do turismo, da aprovação do novo Plano Diretor e explicou porque se nega a participar dos debates com outros candidatos.
Qual foi a prioridade da sua gestão?
Foram muitas, mas se for resumir, Salvador estava uma cidade deprimida, tinha perdido o brilho, as pessoas não falavam bem da cidade. A gente sempre teve muito orgulho de ser baiano, que de alguma forma foi comprometido por conta do momento ruim que a cidade vivia. Nosso maior legado foi recuperar a autoestima das pessoas, fazer com que Salvador voltasse a ser respeitada – inclusive do ponto de vista nacional. É claro que isso não se traduz apenas em obras, em projetos. Isso está muito ligado ao estado de espírito das pessoas, que hoje acaba se confirmando com a alta aprovação que nosso governo tem.
Por que o senhor não tem participado dos debates com outros candidatos? A alta aprovação e os bons resultados nas pesquisas já geraram a sensação de “já ganhou”? E os moradores não precisam ser mais bem informados sobre suas propostas?
Tenho trazido sempre uma mensagem pé no chão, de humildade, e tenho experiência suficiente para saber que eleição só se resolve depois do voto apurado. Decidimos internamente estabelecer uma premissa: nós iríamos aos debates cujas regras prestigiassem o aprofundamento dos temas. Eu me neguei a participação quando todos os candidatos foram chamados, porque não vejo a possibilidade de levar um debate a sério com sete candidatos participando. O eleitor acaba podendo apreender pouco do que é colocado. Mas já confirmei presença no da Globo (na quinta-feira), que é o mais importante e segue o espírito do que está na lei, com quatro candidatos participando.
Os movimentos sociais dizem haver muito pouco espaço para participação popular e para discussão na sua gestão, inclusive no processo de aprovação do Plano Diretor. O senhor pretende mudar essa questão num próximo mandato?
Não podemos generalizar os movimentos sociais. Existem aqui alguns movimentos que são patrocinados pelo PT e patrocinados pelo governo do Estado, do meu adversário, que manifestam esse tipo de posição. Na votação e aprovação do Plano Diretor e da Lei de Ordenamento do Uso do Solo, nós passamos dois anos debatendo com a cidade. Fizemos quase duas dezenas de audiências públicas. Debatemos pela internet, fizemos conferências nacionais e internacionais, fizemos os debates nos bairros. Foi o plano mais discutido da história de Salvador. Ao contrário do passado, quando se fazia aprovação do Plano Diretor na calada da noite. Isso não aconteceu, o Ministério Público acompanhou tudo de perto. Meu governo implementou mecanismos de consulta popular que não existiam, como o programa “Ouvindo Nosso Bairro”, fortalecemos a ouvidoria, implantamos as prefeituras-bairro, que são espaços de participação direta do cidadão. Uma das marcas do nosso governo foi ouvir as pessoas. Agora, o que vem de uma crítica comprometida com interesses político-partidários, eu dou uma importância muito menor.
O senhor chegou a afirmar, em alguns momentos, que protestos que aconteceram nas ruas eram baderna…
Você vai ouvir o que eu disse. Eu disse que protestar é legítimo, é da democracia, a gente concorda e apoia a presença das pessoas nas ruas. O que eu não apoio e não defendo é agressão ao patrimônio público, como aconteceu recentemente em um desses protestos. Uma coisa é o direito legítimo de a pessoa ir pra rua protestar, eu apoio e permito aqui o tempo inteiro. Agora, quando isso compromete o patrimônio público eu tenho que defender o patrimônio público. Aí, de fato, eu condeno.
Pernambuco e Bahia foram os estados com maior incidência de microcefalia e zika. Como a gestão municipal atuou no controle desse surto e no que pecou para que o problema tenha sido tão grave em Salvador?
Quando nós assumimos a prefeitura, o índice de imóveis que eram visitados pela Secretaria de Saúde era de 64%. Hoje, é 87%. Salvador acaba parecendo uma das capitais com maior número absoluto de casos, mas se você comparar os números relativos com as outras capitais do Nordeste, ela não aparece entre as principais. Houve também uma ação conjunta da Secretaria de Saúde com os órgãos de limpeza, para garantir que fosse feita a limpeza nas localidades onde se detectava água acumulada. Investimos muito em campanhas publicitárias para alertar a população com relação ao comportamento que contribui para o aumento de todas as doenças derivadas do mosquito.
Salvador sempre teve uma regra clara e rigorosa em relação ao gabarito dos prédios na orla. Com a aprovação do novo Plano Diretor e da Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo isso foi alterado. Há o risco de surgirem vários espigões na orla?
Houve alterações e adequações nos gabaritos de várias regiões da cidade. Na orla, o sombreamento passou a ser o principal critério para definir o gabarito. O que nós procuramos assegurar e preservar? Que as construções não comprometam o sombreamento das praias, que foi a coisa mais importante do ponto de vista técnico. Nós introduzimos uma série de elementos de segurança para o futuro, exatamente para que o governo não autorize irresponsavelmente um adensamento construtivo da orla de Salvador.
Salvador apresentou um bom índice de ocupação de hotéis em comparação com principais as capitais turísticas da América Latina. O turismo foi um dos focos da sua gestão. Como tem sido sua relação com esse setor?
O turismo é a principal indústria empregadora da cidade – 83% da nossa economia está concentrada no setor de serviços. Procuramos desde o princípio ter uma relação de parceria em várias frentes: recuperando a infraestrutura da cidade, os espaços públicos, principalmente as praças e orlas. Constituímos uma agenda de eventos na cidade, que não tem apenas o carnaval. Recuperamos produtos culturais, como o teatro Gregório de Mattos, e criamos novos, como a Casa de Jorge Amado. Investimos muito no setor. Existem ainda dois gargalos, que não estão sob responsabilidade da prefeitura e são sérios. O aeroporto, que agora o governo federal anunciou a concessão e a gente espera que aconteça a ampliação, e o Centro de Convenções, que pertence ao governo do estado e até hoje está fechado. Mas a gente pretende continuar investindo, porque isso traz resultados econômicos diretos para a cidade.
A cidade tem um dos piores trânsitos do Brasil, brigando com Recife e Rio de Janeiro. O que o senhor pretende fazer pela mobilidade num segundo mandato?
Primeiro, o que nós fizemos, que é importante destacar. Fizemos 23 grandes obras viárias, que alteraram profundamente pontos críticos da cidade. Investimos em tecnologia: Salvador tem um monitoramento de suas áreas mais críticas e estamos implantando semáforos inteligentes. Assinamos o financiamento do BRT, que vai ligar a estação da Lapa ao Iguatemi. Tivemos um papel decisivo para destravar o metrô e a perspectiva é de que, em dois anos, Salvador possa ter a terceira maior malha metroviária do Brasil. Com essas intervenções e outras que constam no meu plano de governo, não tenho dúvida de que o trânsito vai melhorar. Já melhorou muito em relação a 2012 e a perspectiva pro futuro é ainda mais positiva.