Brasil

Abin Paralela: tudo o que se sabe sobre monitoramento de ministros do STF, políticos e jornalistas

Segundo a investigação da PF, a suposta organização criminosa também produzia dossiês e notícias falsas. O caso ficou conhecido como "Abin Paralela"

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 11 de julho de 2024 às 15h41.

Última atualização em 11 de julho de 2024 às 16h51.

Tudo sobrePolícia Federal
Saiba mais

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira, 11, a quarta fase da Operação Última Milha, que tem como objetivo desarticular uma suposta organização criminosa de espionagem ilegal de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), deputados, senadores, ex-presidenciáveis e jornalistas utilizando-se de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A estrutura também produzia dossiês e notícias falsas para ter ganhos políticos, aponta a investigação da PF. O caso ficou conhecido como "Abin Paralela".

O ministro do STF, Alexandre de Moraes, relator do caso, atendeu o pedido da PF e decretou a prisão de cinco investigados, além de autorizar afastamentos da função, buscas e compartilhamento de informações para apuração sobre monitoramento ilegal de pessoas e autoridades públicas. Após o caso ser divulgado, Moraes tornou público a sua decisão, a representação da PF e o parecer da PGR. 

A decisão foi tomada no âmbito das investigações do uso do sistema de inteligência First Mile, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), por delegados, agentes e servidores públicos. Segundo a PF, foram constatados elementos concretos de uma organização criminosa que atuava em núcleos para elaboração de dossiês contra ministros, parlamentares e outras pessoas a fim de divulgar narrativas falsas e incitar, direta ou indiretamente, tentativa de golpe de Estado e enfraquecimento das instituições.

“Os investigados, segundo a Polícia Federal, participaram de uma estrutura espúria infiltrada na Abin voltada para a obtenção de toda a ordem de vantagens para o núcleo político, produzindo desinformação para atacar adversários e instituições que, por sua vez, era difundida por intermédio de vetores de propagação materializados em perfis e grupos controlados por servidores em exercício na Abin. O relatório da Polícia Federal traz prova da materialidade e indícios suficientes dos graves delitos praticados”, destacou o ministro em sua decisão.

Entre as autoridades monitoradas pela organização estão o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o ex-presidente da Casa, Rodrigo Maia, o ex-governador de São Paulo, João Dória, e os ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux. Jornalistas, como a colunista da Folha de S.Paulo, Mônica Bergamo, também foram monitorados pelos acusados, de acordo com os investigadores.

A PF também aponta em seu relatório que foi realizada uma "instrumentalização" da Abin para monitorar pessoas relacionada às investigações que envolvem a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os investigados, em um dos casos, realizaram ações clandestinas para tentar "achar podres" de auditores da Receita Federal responsáveis por relatórios financeiros sobre o senador Flávio Bolsonaro (PL). 

As investigações identificaram ainda a atuação do deputado federal Alexandre Ramagem (PL), que chefiava a Abin durante o governo Bolsonaro, para abrir um procedimento administrativo contra auditores da Receita Federal para anular a investigação contra Flávio Bolsonaro e retirar os servidores da Receita de seus cargos. Hoje, Ramagem é pré-candidato à prefeitura do Rio. 

A PF vê os possíveis crimes de:

  • organização criminosa;
  • tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito;
  • interceptação clandestina de comunicações;
  • invasão de dispositivo informático alheio.

No parecer sobre o caso, a Procuradoria-Geral da República indicou que os elementos apresentados pela investigação apontam a existência de uma organização que pretendia atacar o sistema republicano.

“As ações do grupo criminoso não se esgotam em um único inquérito, sendo importante o compartilhamento de provas para o melhor enquadramento das condutas praticadas", aponta.

Quem foi preso na operação da PF sobre a "Abin Paralela"?

  1. Mateus de Carvalho Sposito;
  2. Richards Dyer Pozzer;
  3. Rogério Beraldo de Almeida;
  4. Marcelo Araújo Bormevet;
  5. Giancarlo Gomes Rodrigues.
  6. José Matheus Sales Gomes;
  7. Daniel Ribeiro Lemos.

Quem foi espionado pela "Abin Paralela", segundo a PF?

  • STF: ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luis Roberto Barroso e Luiz Fux;
  • Congresso: deputado federal Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados), o ex-deputado Rodrigo Maia (ex-presidente da Câmara dos Deputados), os deputados federais Kim Kataguiri (União) e Joice Hasselmann, o ex-deputado Jean Wyllys (PSOL) e os senadores Alessandro Vieira (MDB), Omar Aziz (PSD), Renan Calheiros (MDB) e Randolfe Rodrigues.
  • Executivo: ex-governador de São Paulo, João Dória, os servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges, os auditores da Receita Federal do Brasil Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.
  • Jornalistas: Monica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.

O que é a "Abin Paralela"?

Em 22 de abril de 2020, em reunião no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse para seus ministros que tinha o seu próprio serviço de informações, alegando que Abin, PF e outros centros de inteligência do governo não funcionavam. “Sistemas de informações: o meu funciona. O meu, particular, funciona”, disse. “Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho.”

Uma reportagem do O Globo, de março de 2023, mostrou que a Abin utilizou um programa secreto chamado FirstMile para monitorar a localização de pessoas predeterminadas por meio dos aparelhos celulares durante a gestão Bolsonaro.

Após a reportagem, a PF abriu um inquérito e identificou que a ferramenta foi utilizada para monitorar políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo.

A ferramenta foi produzida pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint) e era operada, sem qualquer controle formal de acesso, pela equipe de operações da agência de inteligência.

Um servidor de carreira do Ibama, Hugo Ferreira Netto Loss, teria sido um dos de espionagem com o programa de monitoramento. Loss coordenou uma ação contra garimpos em terras indígenas no sul do Pará. 

Acompanhe tudo sobre:Governo BolsonaroPolícia Federal

Mais de Brasil

Motorista de ministro que veio para o G20 tem carro roubado no Centro do Rio

Esquema de segurança para o G20 no Rio terá sistema antidrone e varredura antibomba

Governo decide que não vai colocar grades no Palácio do Planalto

Explosões em Brasília são investigadas como ato terrorista, diz PF