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Dá para antever o fim da onda de violência em São Paulo?

A última semana assustou o paulistano: foram dezenas de assassinatos, toque de recolher e ação militar em Paraisópolis. Mas especialistas acreditam que a situação pode ser revertida


	Helicóptero da Polícia Militar de São Paulo: em ação em Paraisópolis a PM já abordou mais de 750 pessoas e vistoriou mais de 200 veículos para tentar conter a onda de assassinatos
 (Wikimedia Commons)

Helicóptero da Polícia Militar de São Paulo: em ação em Paraisópolis a PM já abordou mais de 750 pessoas e vistoriou mais de 200 veículos para tentar conter a onda de assassinatos (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 6 de novembro de 2012 às 18h44.

São Paulo - A capital paulista vinha apresentando estatísticas extremamente positivas nos últimos 10 anos. O número de homicídios dolosos registrados pela Secretaria da Segurança Pública havia despencado de 5.174, em 2001, para 1.019, no ano passado.

Mas há uma semana São Paulo vive um pico de violência, com mais de 50 mortes e extermínios na área metropolitana.

O resultado foi a ação da Polícia Militar na favela de Paraisópolis, uma das maiores da cidade, onde 600 policiais ficarão por pelo menos um mês para asfixiar o tráfico de drogas e causar prejuízos ao Primeiro Comando da Capital (PCC), considerado mandante de muitos dos assassinatos de PMs.

O aumento da violência urbana, no entanto, foi detectado bem antes dos eventos dos últimos dias. Em agosto foram registrados 106 casos de homicídios doloso. Em setembro, foram 135 casos, contra 69 no mesmo mês do ano passado.

Mas a espiral de violência significa que São Paulo está retrocedendo aos números de dez anos atrás ou se trata de um fenômeno isolado que logo passará?

Segundo o coronel José Vicente Filho, do Centro de Altos Estudos de Segurança da PM, “não se pode achar que todo o esquema de segurança de SP ruiu”, defende.

“Todo contexto social complexo tem um potencial de crises. Aconteceu isso durante os confrontos de Londres, ou em 2005 com uma desordem geral que aconteceu na França. Acontecem alguns crimes e as pessoas mimetizam, fazem “copy cat”, passam a enxergar uma oportunidade para praticar a violência”, explica o coronel.

A professora Camila Dias, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e professora da Universidade Federal do ABC, concorda que a onda de violência não representa necessariamente um aumento definitivo dos homicídios em São Paulo. Entretanto, representa “um fenômeno cíclico de estabilização e desestabilização”, diz.

Ela explica que São Paulo viveu uma fase de estabilização “que não estava ligada a uma suposta solução para a questão da segurança, como o governo tenta alardear”. Para Camila, a falsa paz paulistana vinha do próprio equilíbrio, estabilidade e homogeneidade do crime organizado da capital.


“O problema é que qualquer fator pode causar um impacto nessa estabilidade precária. O aumento dos confrontos com a Polícia Militar, os inúmeros episódios envolvendo grupos de elite e criminosos mortos, muitos deles com características de execução foi um fator chave para detonar esse equilíbrio”, afirma.

Fim da escalada

Para os dois especialistas, é importante que haja uma resposta imediata à violência que acontece hoje em São Paulo. “A tendência é que o número de homicídios volte a cair a partir do momento que as pessoas percebem que a polícia já deu uma resposta aos causadores”, diz o coronel José Vicente.

A professora Camila concorda, mas até certo ponto: “Há que se ter algumas ações imediatas, como detectar quem está matando, seja integrantes do PCC ou também os supostos grupos de extermínio dentro da PM”, diz. Para ela, o governo precisa sinalizar que não concorda com retaliação da Polícia Militar e que PMs também serão investigados, “mas me parece que o governador e o secretário de segurança não estão deixando isso claro”, diz.

Segundo Camila, a ação repressiva da polícia pode até surtir um efeito no curto prazo, mas a médio e longo tende a produzir outras crises. “O Estado precisa estar presente nas periferias não com o aparato repressor da polícia, mas através de saúde, jurídico e outras instâncias. Enquanto a política de segurança for investimento na PM e em aumento dos presídios, não vamos sair desses ciclos. Ações como a que estão sendo feitas em Paraisópolis não são novidade - e não estão resolvendo”, conta.

O coronel José Vicente pensa o contrário: “Não tem solução para ações criminosas intensas além de resposta policial. Não dá para pensar em prevenção nessas horas porque dá para negociar com eles? Não. A PM tem que mostrar seu poderio para manter o controle”, defende.

“A gente calcula que para cada policial do estado você tenha três ou quatro criminosos. Para proteger a população da barbárie a polícia tem que fazer o seu papel”, completa o reserva da PM.

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