Publicado em 14 de abril de 2025 às 09h01.
Governos em todo o mundo enfrentam hoje o mesmo dilema: como acelerar a transformação digital de maneira segura, eficiente e inclusiva, diante de um cenário de mudanças tecnológicas cada vez mais velozes e complexas. Foi exatamente essa a pauta da primeira reunião do novo Global Future Council on GovTech & Digital Public Infrastructure (DPI), do Fórum Econômico Mundial, do qual agora faço parte com muito orgulho.
Formado por cerca de 20 especialistas de diferentes continentes e setores — de governos a universidades, de startups a organismos internacionais — o conselho é uma iniciativa estratégica do Fórum para debater e propor soluções concretas sobre como a tecnologia
pode modernizar o setor público, melhorar os serviços para a população e impulsionar o
desenvolvimento econômico sustentável.
A abertura dos trabalhos aconteceu neste mês de março, em um encontro virtual que marcou o início de uma jornada colaborativa que se estende até o final de 2026. Até lá, o grupo produzirá publicações, estudos de caso, relatórios e recomendações que ajudem governos e líderes a entender os caminhos possíveis para uma transformação digital efetiva e centrada nas pessoas.
Entre os nomes que compõem o conselho estão figuras como Cina Lawson, ministra da
Economia Digital de Togo; Aaron Maniam, da Universidade de Oxford; Beth Simone Noveck,
da Northeastern University e ex-assessora da Casa Branca; além de representantes da Comissão Europeia, da ONU, do MIT, da Mastercard e de iniciativas GovTech na América Latina, Europa e Ásia.
A diversidade do grupo não é apenas simbólica: ela reflete a essência da discussão sobre infraestrutura digital pública e GovTech. Soluções não podem ser importadas de forma genérica. É preciso levar em conta o contexto local, as capacidades institucionais e os desafios de cada sociedade — e, ao mesmo tempo, criar padrões e boas práticas que possam ser replicados e adaptados.
Em outubro deste ano, teremos um momento importante para avançar nesse diálogo: o
encontro presencial de todos os conselhos do Fórum Econômico Mundial, que será realizado em Dubai, nos Emirados Árabes. Será uma oportunidade valiosa para consolidar os aprendizados do ano, aprofundar debates e conectar diferentes agendas globais, como inteligência artificial, clima, governança e inclusão digital.
A formação deste conselho é estratégica não apenas pela qualidade dos seus membros, mas pelo compromisso com entregas concretas até 2026. Entre os nossos objetivos estão o fortalecimento da visibilidade e do entendimento sobre o papel central da GovTech e da infraestrutura digital pública nos governos, além da construção de uma comunidade global de inovação que sobreviva ao próprio ciclo do conselho. Vamos identificar temas emergentes, colaborar em publicações curtas e desenvolver estudos de caso com práticas replicáveis, sempre buscando uma definição mais precisa e compartilhada do que significa, na prática, fazer uma transformação digital pública de verdade.
Conselhos como esse têm o poder de acelerar consensos globais, inspirar políticas nacionais e aproximar diferentes atores que compartilham o desejo de ver a tecnologia a serviço de uma sociedade mais justa e eficiente.
A criação deste conselho é também um reflexo do novo momento vivido pelo setor público: GovTech e infraestrutura digital deixaram de ser temas periféricos para ocupar o centro da estratégia de transformação de governos e países. Um relatório recente do Fórum Econômico Mundial aponta que a adoção de GovTech pode destravar até US$ 9,8 trilhões em valor público global até 2034, por meio de ganhos em eficiência, transparência e sustentabilidade. O Brasil tem muito a contribuir — e a ganhar — com esse movimento.
Estar nesse grupo, representando o nosso país e aprendendo com experiências de todo o
mundo, reforça o quanto é urgente investirmos em soluções tecnológicas que sejam realmente públicas: pensadas para todos, acessíveis, interoperáveis e com foco em resultados concretos para a população.
Na nossa primeira reunião, minha principal contribuição foi reforçar a importância de olharmos para a GovTech sempre centrada no cidadão. Que possamos desenvolver e escalar tecnologias que realmente melhorem a vida das pessoas, promovendo entregas públicas mais rápidas, eficientes e acessíveis. Outro tema que apareceu com força nos debates foi a inteligência artificial, que certamente estará presente em nossas próximas
discussões.
A transformação digital no setor público precisa vir acompanhada de participação cidadã e
de um compromisso genuíno com políticas públicas construídas com — e para — quem
mais importa: a população.
Gustavo Maia: Diretor Executivo da GovTech Colab, advisor do fundo GovTech da KPTL e Membro do Global Future Council on GovTech and Digital Public Infrastructure do Fórum Econômico Mundial.