Brasil

A eleição de 2018 será como a de 1989? Sim e não, segundo o UBS

Apresentadores que desistiram no meio do caminho, grande parcela de indecisos, protagonismo de "outsiders": o que a eleição de 1989 tem a nos ensinar

Fernando Collor de Mello quando era presidente da República (Sergio Lima/Agência Brasil)

Fernando Collor de Mello quando era presidente da República (Sergio Lima/Agência Brasil)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 3 de junho de 2018 às 08h30.

Última atualização em 3 de junho de 2018 às 08h30.

São Paulo - Uma eleição com muitos candidatos, em meio a uma situação econômica ruim e sensação de descrença com a política: estamos falando de 2018 ou 1989? Segundo analistas do banco de investimentos suíço UBS, de ambas.

Apesar das semelhanças, há alguns pontos que diferenciam (bastante) o cenário que vivemos hoje e o que o Brasil atravessou no final do século passado.

Para começar, em 1989 as eleições foram apenas presidenciais, e não havia alianças estaduais para influenciar no resultado final.

Veja o que a pesquisa feita pelo UBS sobre os dados das eleições passadas mostrou:

Brancos, nulos e indecisos em alta recorde

Os analistas fizeram um levantamento das pesquisas Datafolha, compilando dados de todas as últimas eleições.

A proporção de pessoas que pretendem votar nulo ou branco somada às que ainda não se decidiram está hoje no patamar mais alto desde a redemocratização, em 67%, mas não muito longe da média histórica.

Os analistas consideraram as pesquisas do mês de abril. No mesmo período, em 1989, estava acima de 50%. Em 1994, era de 65%; em 2014, 61%. Ou seja, nada de novo no front. (Leia: O sobe e desce dos candidatos a presidente nas últimas 7 eleições)

Outsiders e partidos pequenos em evidência

Em nenhuma outra eleição depois da ditadura militar os outsiders e partidos pequenos tiveram tanta chance, exceto em 1989.

O relatório espelha as candidaturas abortadas de Silvio Santos (em 1989) e Luciano Huck (em 2018) para traçar o paralelo entre os dois pleitos.

Também lembra que o vencedor das eleições em 1989, Fernando Collor, vinha de um partido nanico, o PRB. Do mesmo modo, o atual líder das pesquisas de intenção de votos (sem considerar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso), o deputado Jair Bolsonaro, é filiado a outra sigla pequena, o PSL.

Economia patinando nos três anos anteriores

Durante as eleições de 1989, o Brasil enfrentava uma hiperinflação herdada da ditadura militar e estava com uma dívida externa explosiva.

A situação agora não é tão dramática, mas é outro ponto que possibilita a comparação: a saída da recessão está lenta, a inflação está controlada (mas por causa da baixa demanda) e o desemprego atinge 13 milhões de pessoas.

Resultados voláteis de pesquisas durante as campanhas

O cenário nas eleições depois de 1989 e antes de 2018 estava mais definido, e os vencedores saíam das coligações dos dois maiores partidos do período, PT e PSDB. Mas em 1989, assim como agora, as perspectivas eram mais nebulosas.

O UBS lembra que, em 1989, o então governador de São Paulo Orestes Quércia estava liderando as pesquisas até maio, mais ou menos. Foi só depois disso que Fernando Collor, que acabou sendo eleito presidente, e outros candidatos começaram a alcançá-lo. Quércia, inclusive, acabou desistindo da disputa para dar lugar a Ulysses Guimarães.

No relatório, os analistas do UBS afirmam que não vêem um cenário bem definido antes das convenções partidárias e do início da campanha, ou seja, da segunda metade de julho até a primeira metade de agosto. Ou, para dar um toque de “brasilidade” à análise, a situação deve ficar incerta até o final da Copa do Mundo.

Muito mais em jogo

As eleições de 1989 foram apenas presidenciais. O UBS destaca que, desde então, as candidaturas de governadores, deputados e senadores têm sido importantes e tido um peso maior no resultado final, por causa dos acordos estaduais e coligações formadas, que refletem no plano nacional.

A pulverização da preferência dos eleitores também deve ser amenizada depois que a campanha começar e as coligações garantirem tempo de televisão e direcionamento de recursos.

O sistema partidário brasileiro, também de acordo com o banco, favorece os grandes partidos. Assim, os candidatos do PSDB, Geraldo Alckmin, e do PT, assim como o do PMDB, Henrique Meirelles, seriam os melhores posicionados.

Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso, fora da corrida, e considerando que Meirelles herda o legado do governo mais impopular da história recente, o candidato melhor posicionado do centro seria Geraldo Alckmin, que, no entanto, tem apenas cerca de 7% das intenções de voto, segundo o Datafolha.

Acompanhe tudo sobre:EleiçõesEleições 2018Jair BolsonaroLuciano HuckLuiz Inácio Lula da SilvaPartidos políticosSilvio SantosUBS

Mais de Brasil

Apesar da alta, indústria vê sinal amarelo com cenário de juros elevado, diz economista do Iedi

STF rejeita recurso e mantém pena de Collor após condenação na Lava-Jato

O que abre e o que fecha em SP no feriado de 15 de novembro

Zema propõe privatizações da Cemig e Copasa e deve enfrentar resistência