Deputados: a Câmara deve barrar nesta quarta-feira o prosseguimento das denúncias contra o presidente Michel Temer (Ueslei Marcelino/Reuters)
EXAME Hoje
Publicado em 2 de agosto de 2017 às 06h23.
Última atualização em 2 de agosto de 2017 às 07h03.
A quarta-feira será histórica na Câmara dos Deputados. É chegada finalmente a data da votação pelos deputados federais da denúncia por corrupção passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. Nunca antes na história um presidente foi acusado formalmente por crime comum cometido no curso do mandato. A acusação tem origem na gravação de conversa com o peemedebista feita pelo empresário Joesley Batista, quando foi recebido na calada da noite no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer. Entre os assuntos tratados, a indicação de um emissário para tratar de assuntos ilegais: o ex-assessor de Temer e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), depois flagrado recebendo 500.000 reais em dinheiro vivo das mãos de executivo do grupo J&F.
As evidências foram coletadas pela Polícia Federal e pela PGR em ações controladas com colaboração da J&F e entregues na denúncia. Ao que tudo indica, nada disso será suficiente para que seja dada a largada ao julgamento da acusação no Supremo Tribunal Federal. Seria preciso que a Câmara aprovasse a admissibilidade da denúncia por dois terços, ou seja, 342 votos contra o presidente. A oposição tem declarados quase 200 votos. Outros 200 parlamentares, contudo, não expuseram sua decisão até hoje.
Boa parte se manteve em cima do muro para negociar. Na noite de ontem, cerca de 100 deputados foram ao encontro de Temer para um jantar. Até o momento da votação a tropa de choque presidencial fará ligações aos parlamentares para convencê-los de manter Temer no poder. O presidente também fez uso de cessão de cargos de confiança no Executivo e liberação de 4 bilhões de reais em emendas parlamentares para “garantir a fidelidade” de sua base aliada. Onze ministros com cargos na Câmara foram exonerados para votar pelo presidente.
A oposição já reconhece que não tem os votos necessários para fazer a denúncia chegar ao Supremo. Em uma nova batalha, a ideia agora é alongar a sessão ao máximo para que a votação seja realizada na noite de hoje, ou até adiada. A estratégia de Temer é acelerar ao máximo. A votação é aberta e nominal, o que pode constranger aliados: 80% dos brasileiros, segundo pesquisa Ibope, entendem que a denúncia deveria chegar ao Supremo.