Humberto Laudares, do movimento Agora! (Agora!/Divulgação)
Luiza Calegari
Publicado em 3 de março de 2018 às 08h30.
Última atualização em 12 de março de 2018 às 10h58.
São Paulo – O desencanto dos eleitores com a política tradicional foi o estopim para a consolidação de vários movimentos que propõem a renovação política. Talvez um dos mais famosos seja o Agora!, que tem entre seus apoiadores o apresentador Luciano Huck, que já foi cotado pré-candidato à presidência.
O Agora! pretende atuar de forma suprapartidária, e já assinou cartas de compromissos com dois partidos: a Rede, de Marina Silva, e o PPS, partido do atual ministro da Defesa, Raul Jungmann. O movimento ainda deve buscar outras legendas para selar o mesmo tipo de aliança.
O Agora! não sabe dizer quantos de seus membros estão filiados a partidos ou vão se candidatar, mas diz que os documentos garantem a independência dos participantes durante as votações importantes no Legislativo, quando normalmente os parlamentares seguem a orientação dos partidos.
Humberto Laudares, formado em Ciências Sociais pela USP e em administração pela FGV, é um dos co-fundadores do grupo e falou com exclusividade a EXAME para explicar como funciona o movimento e como eles pretendem resolver as dificuldades que devem se apresentar daqui até as eleições.
Qual a agenda do movimento?
O Agora! ée um movimento cívico que baseia suea ação política em três pilares: construir um Brasil simples, humano e sustentável. Segundo Laudares, o movimento se mobiliza por ideias, pela escuta, pelas causas dos que eles chamam de “batalhadores brasileiros”, pessoas empenhadas em transformar as instituições no país. O cientista político conta que o grupo atua por meio de pesquisas, de conversas nos canais oficiais e de escutas em locais específicos.
Por que o Agora! decidiu fundar um movimento em vez de um partido?
Nesse aspecto, Laudares é categórico: se os partidos fizessem o próprio papel, não haveria necessidade dos movimentos de renovação. Para ele, as instituições públicas são “disfuncionais”, e já existem partidos políticos demais no Brasil. “Entrar numa dessas agora, a gente avaliou que não é o caso”. O objetivo do grupo é atuar mais como uma influência positiva para que os partidos se reciclem e mudem suas práticas.
Se eleito, qual vai ser o papel do grupo na atuação do político? Se o partido quiser uma coisa mas o movimento quiser outra, o político vai ter liberdade de escolher com quem quer votar?
Laudares diz acreditar que esse tipo de conflito é inerente à atividade política. “A gente acha que essa diversidade conta a nosso favor”, opina. Ele garante que o movimento se resguarda nos acordos que firma com os partidos políticos, incluindo cláusulas que garantem que os membros do movimento poderão votar contra a indicação do partido se a orientação da bancada for diferente do projeto do Agora. Se a pessoa se filiar a um partido com o qual o grupo não fez acordo, o sociólogo afirma que não haverá punição. “A pessoa entra para o movimento porque quer se comprometer com a nossa agenda”, diz ele. Assim, seria injusto impedir alguém interessado em se engajar de participar de um partido só porque não há formalização dos acordos, defende.
Quais são os objetivos do movimento para a eleição de 2018 e como o Agora! pretende alcançá-los?
Por enquanto, a prioridade do Agora! é fechar uma agenda com propostas concretas. “Não temos uma meta de quantos representantes queremos eleger, até porque quem lança os candidatos são os partidos”, argumenta Laudares. “Influenciar o debate público com as nossas propostas já é uma meta grande o bastante”.
O Agora pretende abrir as contas sobre o financiamento?
A transparência com os financiadores e os gastos é fundamental para o movimento, segundo o sociólogo. Ele afirma que ainda não existe um balanço oficial das contas porque o grupo se estruturou no final do ano passado e ainda não tinha recebido financiamento para justificar uma prestação de contas, mas assegura que um relatório com os nomes dos doadores e os gastos do movimento será divulgado no final de 2018.
Como o Agora! vai garantir a independência dos candidatos em relação aos doadores?
Assim como na relação com os partidos, serão os acordos que nortearão a garantia de independência dos membros em relação aos doadores. De acordo com Humberto Laudares, todos os apoiadores que doam mais de 5 mil reais assinam um termo de ciência de que a doação não implica em nenhuma vantagem ou precedência futura sobre as atividades do grupo.
Muitos especialistas já falam que, apesar do clamor popular pela renovação, as estruturas partidárias não vão permitir que ela seja efetiva. O que o Agora! pretende fazer para combater esse ceticismo em relação à renovação política?
“Tudo isso que os especialistas estão falando em relação ao que é novo já faz parte do nosso diagnóstico. O ponto, para nós, é como fazer essa renovação”, diz Laudares. Para ele, o modo de funcionamento interno dos partidos evidencia a necessidade da renovação. Para “aprofundar a democracia” é preciso tentar e começar de algum lugar, mesmo que seja por poucas pessoas. “Queremos resgatar a confiança da população de que dá para mudar as coisas por meio da política”, diz.