(Valter Campanato/Agência Brasil)
Redação Exame
Publicado em 17 de outubro de 2024 às 07h30.
Última atualização em 17 de outubro de 2024 às 07h45.
Mais da metade os brasileiros são favoráveis à proibição de uso de celulares e adolescentes dentro da sala de aula e nos intervalos, de acordo com uma pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, 16.
Os dados mostram que entre as 2.029 pessoas entrevistadas com mais de 16 anos, 62% defendem a restrição. Para chegar a esse resultado, foram ouvidas pessoas de 113 municípios ao longo dos dias 7 e 8 de outubro.
Uma nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira, revelou que 62% dos brasileiros, a partir dos 16 anos, são favoráveis à proibição do uso de celulares por crianças e adolescentes nas escolas, tanto em sala de aula quanto nos intervalos. A margem de erro geral é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Em um dos recortes da pesquisa, é possível ver que 43% dos responsáveis por crianças até 12 anos afirma que eles já tem celulares próprios. Esse percentual sobe para 50% quando é perguntado a respeito dos adolescentes entre 13 e 18 anos.
Quando os entrevistados foram questionados a respeito dos celulares trazerem mais prejuízos do que benefícios, 76% da população em geral concordou com essa afirmação e 78% dos pais ou responsáveis também concordou.
É possível ver uma diferença de opinião entre homens e mulheres. Enquanto 78% das mulheres se mostram preocupadas com o tema, esse percentual é de 73% entre os homens.
Já o apoio à proibição nas escolas é maior entre aqueles com mais escolaridade. Dentre os que estudaram até o ensino superior, 69% são favoráveis, ante 59% que têm até o ensino fundamental (para o recorte de escolaridade, a margem de erro varia de 3 a 5 pontos).
Os resultados da pesquisa reforçam a crescente preocupação das famílias com efeitos negativos que o uso de celular na infância pode trazer, entre eles, o vício em tecnologia, o aumento da ansiedade e da depressão, problemas de sono, desempenho escolar prejudicado, dificuldades nas relações sociais e exposição ao cyberbullying.
O Ministério da Educação (MEC) deve divulgar ainda em outubro um projeto de lei que irá proibir o uso de celulares em escolas públicas e privadas no Brasil. Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), divulgado em julho, sugeriu que os celulares fossem banidos de ambientes escolares. Esse tipo de restrição já é adotada em países como França, EUA, Finlândia, Itália, Espanha, Portugal, Holanda, Canadá, Suíça e México.
Experiências brasileiras mostram que só a lei não basta, que é preciso o envolvimento ativo das secretarias de educação e de trabalhos pedagógicos de conscientização. Atualmente, 20 estados já até possuem leis similares, mas apenas 12% de suas escolas declararam adotar a medida de fato, de acordo com a pesquisa TIC Educação 2023 do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Ainda de acordo com a TIC Educação 2023, 33% das escolas municipais e 29% das privadas também baniram completamente o uso de celulares. O levantamento mostra ainda que esse fenômeno tem começado pelas crianças menores: 42% dos colégios até o 5º ano do ensino fundamental já tomaram essa medida. Já entre aqueles que possuem até o ensino médio, esse índice cai para 7%. O MEC analisa as experiências no Brasil e tanto fora do país para definir o que mandará ao Congresso.
Nos estados, as leis que determinam proibições de uso em sala de aula já existem desde 2004. Na maior parte dos casos, porém, as regras foram aprovadas entre 2008 e 2009 ou entre 2014 e 2016. Alguns dos textos são tão antigos que chegam a citar tecnologias já defasadas e praticamente extintas, como aparelhos de MP3 (um tocador de música digital que foi substituído por aplicativos de streaming) e pagers (aparelhos de trocas de mensagens curtas que funcionam pelo uso de frequências de rádio).
Em geral, essas restrições foram criadas pelo Legislativo sem a participação dos governadores e determinam, sem grande detalhamento, que o uso do aparelho é proibido nas salas de aulas de escolas públicas e privadas e, nos demais espaços dos colégios, só pode ser utilizado “no modo silencioso ou para auxílio pedagógico”. Há exceções, como o Estado do Rio de Janeiro, que proibiu apenas para a rede pública estadual, ou Rondônia, que estabeleceu punições como advertências e suspensões aos estudantes que não respeitarem as regras.
Com informações de O Globo