Odebrecht: Marcelo lembrou que o valor acertado para a campanha presidencial do PT de 2014 foi de R$ 150 milhões (Rodolfo Burher/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de março de 2017 às 22h58.
Brasília - Em depoimento à Justiça Eleitoral realizado nesta quarta-feira (1), o executivo Marcelo Odebrecht, herdeiro e ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, afirmou que 4/5 das doações para a campanha presidencial de Dilma Rousseff tiveram como origem o caixa 2.
A audiência comandada pelo ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin ocorreu na sede do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), em Curitiba.
Segundo relatos, Marcelo afirmou no depoimento que a petista tinha dimensão da contribuição e dos pagamentos, também feitos por meio de caixa 2, ao então marqueteiro do PT, João Santana.
A maior parte dos recursos destinados ao marqueteiro era repassada em espécie.
As negociações eram feitas diretamente entre Marcelo, Santana e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
Na audiência, Marcelo cita inclusive um encontro que teria tido com Dilma no México, ocasião em que teria lembrado que os pagamentos feitos a Santana estavam "contaminados", uma vez que as offshores utilizadas por executivos do grupo serviam para pagamento de propina.
Marcelo lembrou que o valor acertado para a campanha presidencial do PT de 2014 foi de R$ 150 milhões.
Deste total, R$ 50 milhões eram uma contrapartida à votação da medida provisória do Refis, encaminhada ao Congresso em 2009, que beneficiou a Braskem, empresa petroquímica controlada pela Odebrecht e pela Petrobras.
Ao detalhar a distribuição de recursos, Marcelo informou ainda que R$ 10 milhões foram diretamente para a campanha de Dilma, como doação oficial. Outros R$ 5 milhões foram repassados via PT. Também teriam ocorridos pagamentos de "dezena de milhões" para partidos aliados.
Marcelo foi questionado sobre o início da relação com o governo do PT. Ele ressaltou que as primeiras conversas ocorreram em 2008, quando o ex-ministro Antônio Palocci o procurou para pedir doações para as eleições municipais daquele ano, especificamente para as que João Santana estava trabalhando.
Na ocasião, o empresário disse a Palocci que não lidava com campanha municipal, mas apenas com as presidenciais.
Considerou, contudo, que podia ser acertado um valor para 2010 e que, quando chegasse o período da campanha presidencial, a quantia entregue para a campanha municipal seria descontada.
Quando Palocci deixou a Casa Civil, Dilma teria definido que o novo interlocutor seria Guido Mantega, dessa forma estava encerrada a conta "italiano" e esta sendo aberta a "pós-italia".