Protesto de familiares: após 15 mortes, parentes fazem barricada em frente ao presídio (Sandro Pereira/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 27 de maio de 2019 às 19h10.
Última atualização em 28 de maio de 2019 às 09h43.
São Paulo — O governo do Amazonas confirmou no começo da noite desta segunda-feira (27) que mais 40 presos foram mortos em estabelecimentos prisionais do Estado. As mortes acontecem um dia depois de outros 15 detentos terem sido assassinados.
Segundo a secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), a principal linha de investigação envolve disputa de facções no Estado.
As mortes ocorreram por enforcamento no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP) e no Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM I), todos localizados em Manaus (AM).
Ainda de acordo com a secretaria, agentes do Grupo de Intervenção Prisional (GIP) e do Batalhão de Choque da Polícia Militar estão nas três unidades revistando e recontando os presos. Um inquérito será aberto para investigar os homicídios.
Neste fim de semana, 15 presos foram assassinados no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus (AM), mesmo presídio que deixou 56 pessoas mortas durante uma rebelião em 2017.
De acordo com a secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), as mortes ocorreram durante uma "briga entre presos" dos pavilhões 3 e 5, e que, após o acionamento do Batalhão de Choque da Polícia Militar, a situação no Compaj estava sob controle.
Nenhuma fuga foi registrada e nenhum agente penitenciário foi ferido durante a confusão de ontem. A briga começou durante o horário de visitação.
Hoje, a Seap confirmou que todos os mortos foram identificados e seus corpos, liberados para as famílias. Em função do ocorrido ontem, a secretaria aplicou uma série de medidas administrativas em todas as unidades prisionais do estado, entre elas, a suspensão das visitas.
As causas das mortes, segundo o secretário de Administração Penitenciária do Amazonas, Marcus Vinícius de Almeida, foi devido a ataques com escovas de dentes e 'mata-leão'.
A chacina ocorreu em horário de visita de familiares, o que segundo Almeida, foi o descumprimento de uma regra entre os criminosos. "Foi a primeira vez no Amazonas".
O secretário revelou que as mortes ocorreram por perfurações e asfixia. "A gente identificou alguns estoques pequenos e, por incrível que pareça, eram escovas de dentes. Eles raspam", explicou, revelando a origem do objeto pontiagudo.
A secretaria abriu investigação para identificar os presos envolvidos nos crimes, através das câmeras internas. Questionado sobre uma possível briga entre facções, o secretário disse que o Estado não as reconhece e que a investigação irá apurar a motivação dos crimes.
"Agora, uma ação como que aconteceu no passado (quando 57 pessoas morreram em janeiro de 2017, após confronto de facções), isso está descartado".
"Quanto a evitar 100% que uma morte acontecesse, nós temos que ter a maturidade de entender que, em qualquer prisão do mundo, quando se quer matar, infelizmente vai se matar, como mataram. Mataram enforcados. Alguns com 'mata-leão'. Então, isso o Estado não tem como evitar", declarou Almeida.