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41% dos filhos de pais sem instrução ganham só 1 salário mínimo

O inverso acontece quando o pai tem nível superior completo. Nesse caso, 47,4% dos filhos ganham acima de cinco salários mínimos

IBGE: o IBGE considera mais vulneráveis pessoas com rendimento menor que um salário mínimo ou sem rendimento do trabalho (Thinkstock)

IBGE: o IBGE considera mais vulneráveis pessoas com rendimento menor que um salário mínimo ou sem rendimento do trabalho (Thinkstock)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de novembro de 2016 às 18h04.

Rio - Determinante na educação dos filhos, a estrutura familiar também pesa sobre o nível de rendimentos alcançados por eles no mercado de trabalho.

A correlação entre o nível de instrução dos pais e a renda de seus herdeiros é forte, revela o suplemento de mobilidade sócio-ocupacional da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, divulgado nesta quarta-feira, 16, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os resultados indicam que o nível de escolaridade das pessoas ocupadas está bastante associado ao nível educacional de seus pais.

A diferença aparece quando se compara pessoas que têm o mesmo nível de escolaridade. Em geral, aqueles que têm pais mais escolarizados ganham mais, embora o nível de instrução também impulsione o nível de renda.

Um porcentual de 41% dos filhos de pais sem instrução está nas faixas de renda mais baixas, com rendimento de até meio salário mínimo (7,5%) ou de mais de meio a um salário mínimo (17,6%).

O inverso acontece quando o pai tem nível superior completo. Nesse caso, 47,4% dos filhos ganham acima de cinco salários mínimos, podendo ultrapassar a faixa de rendimento de 20 salários.

A idade em que os filhos começam a trabalhar também sofre influência da ocupação dos pais. O IBGE mostra que filhos de trabalhadores cuja ocupação demanda menor nível de instrução formal e que têm menor renda acabam ingressando mais cedo no mercado de trabalho.

O exemplo mais gritante é o dos trabalhadores agrícolas. Quando o pai trabalha no campo, 59,6% dos filhos começam a trabalhar antes dos 13 anos. Quando a mãe é trabalhadora rural, esse porcentual vai a 65,9%.

A lei brasileira proíbe qualquer trabalho para menores de 14 anos. Na idade entre 14 e 16 anos, o jovem pode trabalhar apenas na qualidade de aprendiz.

A pesquisa revela, entretanto, que 73,9% da população ocupada em 2014 entrou no mercado antes dos 17 anos. Desse total, 36,4% - ou 25,201 milhões em números absolutos - eram vítimas do trabalho infantil.

Quanto maior a idade em que a pessoa começou a trabalhar, maior a proporção de pais empregados com carteira assinada e cai a de pais sem carteira, assim como a de pais que trabalham por conta própria.

Pela primeira vez desde 1996, o IBGE se debruçou sobre a evolução social e ocupacional entre gerações. Como as metodologias empregadas são distintas, não é possível comparar os dados.

A pesquisa de 2014 teve convênio com o antigo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, gestor do programa Brasil Sem Miséria, que tem como um dos eixos aumentar oportunidades de trabalho e geração de renda entre famílias mais pobres.

Ascensão profissional

Mais da metade dos filhos que moravam com as mães aos 15 anos de idade conseguiu ascender profissionalmente em relação a elas, diz a investigação sobre mobilidade sócio-ocupacional da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014.O levantamento revela a importância da presença da mãe no domicílio para a educação dos filhos.

A mobilidade intergeracional (dos filhos em relação aos responsáveis) dessas pessoas foi de 51,4%. Na prática, isso significa que eles conseguiram ocupações melhores que a de suas mães, com rendimentos superiores e menor vulnerabilidade social.

Outros 36,3% mantiveram o mesmo estrato sócio-ocupacional da mãe e 11,5% tiveram mobilidade descendente.

Já em relação ao pai, 47,4% melhoraram suas condições de trabalho em 2014, 33,4% reproduziram a ocupação do pai e 17,2% caíram de patamar, ocupando postos de trabalho com menor rendimento e maior vulnerabilidade.

O IBGE considera mais vulneráveis pessoas com rendimento menor que um salário mínimo ou sem rendimento do trabalho, provavelmente sem vínculo empregatício.

Os trabalhadores agrícolas - localizados no estrato de menor rendimento e maior vulnerabilidade entre os cinco pesquisados - foram os que registraram a maior taxa de evolução (26%), seguidos pelos trabalhadores da produção de bens e serviços e de reparação e manutenção (11,5%).

Influência materna

A pesquisa do IBGE alerta para a importância da presença da mãe no domicílio para a educação dos filhos. Os menores porcentuais das pessoas com 25 anos ou mais de idade sem instrução estão entre aqueles que moravam com a mãe (10,3%) ou com ambos os pais (10,8%).

Além disso, independentemente da idade, as pessoas que não moravam com a mãe na adolescência apresentaram taxa de alfabetização mais baixas.

Parcela

Uma parcela de 38,6% da população ocupada brasileira conseguiu ascender profissionalmente em 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A mobilidade foi concentrada nos estratos ocupacionais mais baixos. Apesar disso, a tendência constatada foi de imobilidade (49,1%) na carreira.

"Essas pessoas melhoraram em termos de rendimento médio e em termos de vínculo empregatício", diz Flávia Vinhaes Santos, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento (Coren) do IBGE.

A progressão dos trabalhadores rurais e dos profissionais do comércio, localizados nos estratos mais baixos da pesquisa, foi de 14,6%, cada um. Já aqueles que estão nos estratos mais altos tendem a se deslocar menos de área de trabalho.

De acordo com a pesquisa, 11,1% das pessoas ocupadas tiveram uma curva descendente em relação ao seu primeiro trabalho. Sem pesquisas anteriores realizadas nos mesmos padrões, o instituto não tem um parâmetro de comparação desses números.

O IBGE divide as pessoas ocupadas da pesquisa em cinco estratos ocupacionais: dirigentes em geral e profissionais das ciências e das artes (A); técnicos de nível médio (B); trabalhadores de serviços administrativos (C); trabalhadores da produção de bens e serviços e de reparação e manutenção (D); vendedores e prestadores de serviço do comércio (E); e trabalhadores agrícolas (F). Os primeiros são os grupos com maior rendimento e menor vulnerabilidade. Os estratos com maior número de trabalhadores com rendimento menor que um salário mínimo ou sem rendimento são mais frágeis, pela provável ausência de vínculos e direitos trabalhistas.

A mobilidade sócio-ocupacional é caracterizada pela influência do nível de instrução dos pais e sua trajetória profissional na ocupação e na renda dos filhos, assim como suas experiências educacionais e inserção no mercado de trabalho.

Os dados acima tratam da chamada mobilidade intrageracional, isto é, ao longo da carreira. A Pnad 2014 também pesquisou a mobilidade intergeracional (dos filhos em relação aos pais).

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